sexta-feira, agosto 26

Zorro e Tonto

Retomando o assunto: Zorro e seu fiel escudeiro, o indio Tonto, estavam pocotó, pocotó, etc, quando hostis hordas de hediondos indios os cercaram, por razões que o roteirista mal esclareceu, o desleixado. A hostil tribo (close na indiada) deixa bem claro a intenção de fazer a cabeça dos invasores (sacodem lanças, agitam as rédeas dos matungos, gritam ulalá, coisas assim). Corte para Zorro, que olha para Tonto e diz qualquer coisa como : "Acho nós estamos, digamos, mal na fotografia!" (Tem criança que lê o blog, respeito!) Tonto, que de tonto nada tinha, puxando o cavalinho dele para trás e já entortando a rédea em direção às ordas, responde ao Zorro: "Nós quem, cara-pálida?".
Reconheço que a história é batida do que a cara do Maguila, mas não deixo de pensar nela quando vejo gente triste com a história do PT, pensando que com essa crise toda do governo ficam mal as idéias normalmente anotadas na caderneta da esquerda. Os pensamentos e as ações dirigidas contra a injustiça, a miséria, a opressão nunca dependeram desse ou daquele partido. Esses pensamentos e essas ações foram criadas pelos homens desde que ficou claro que a matéria-prima do vivente humano não é flor de cheiro, que no menor descuido sempre tem uns poucos prontos para ferrarem os demais. Teve "esquerda" desde os tempos mais antigos, e ela incluiu todos os que ergueram voz e braço contra esses sofrimentos descabidos, desde Buda e Cristo.
Vão-se os partidos, ficamos nós, os insetos menores, fazendo nosso trabalho.
A esquerda está em crise? Qual esquerda, cara-pálida?
Bem fez quem leu Castoriadis, desde 1979 (o primeiro texto do careca saiu no Brasil pela PLM em 79). Muitos dos que o descobriram a partir de 85 chegaram tarde demais, o que mais queriam era dar uma aparelhadinha no careca, entrou por uma orelha e saiu pela outra!
O que eu queria mesmo era escrever sobre a seguinte pergunta: o que tem a ver a perda das utopias com a crise das esquerdas? A minha respostas é impublicável, mesmo nesse blog. Ela se assemelha à resposta que damos para a seguinte pergunta: o que tem a ver as nádegas com as calças? Como se sabe, a resposta popular é que a relação entre ambas é totalmente contingente.
O assunto é longo, no entanto, fica para outro dia.
Diabo, ninguém mais comenta nada?

2 comentários:

Anônimo disse...

Comentemos, então. Primeiro: penso que já é tardia e, portanto, alienante a nossa atitude em continuarmos a utilizar o vocabulário direita versus esquerda. Persistimos com essa iconografia do mundo geopolítico, no contraponto com a alma da globalização; fica um negócio mais ou menos parecido como comer nega-maluca misturada na feijoada. Fala-se tanto, MAS TANTO, em abandonar paradigmas, no entanto QUE DIFICULDADE PARA ABORTÁ-LOS. Talvez, só para encerrar, a diferença entre esquerda e direita nessa história do Zorro, é que a direita se parece mais com o Zorro (percebe o que tem pela frente), enquanto a "Tonta" da esquerda, cheia de boas intenções, ideais e utopias FAZ QUE NÃO É COM ELA O PEPINO. Historicamente tem uma razão de ser essa espécie de minoridade da esquerda, pois sempre esteve às voltas com os defeitos da direita, e que quando tem que arregaçar mangas e tomar o comando, senta sempre na mesma mesa e utiliza todos os comandos do aparato que a direita criou. A direita CRIA objetivamente e a esquerda TRANSFORMA subjetivamente.

Ronai Rocha disse...

Finalmente alguém desamoita! Agradeço ao vivente postante. O causo é que eu deveria ter usado aspas em esquerda todo o tempo, e só fiz uma vez, exatamente para dar uma perspectiva maior ao tema (bem por isso falei em Cristo e Buda!). Eu não acho que esse vocabulário de fim de paradigmas, nesse tema, seja de grande proveito, e nunca gostei dessa conversa de que não se pode mais falar em esquerda e direita, fim das ideologias, etc. Mas de outro lado, tem certa razao o postante, no sentido que muito antes dessas expressões serem usadas a "coisa mesma" já existia, e assim podemos até mesmo abrir mão das expressões, usar outras, indicar com o dedo, etc. A coisa não muda só porque trocamos o nome.