terça-feira, fevereiro 13

O Poder do Mito

Na próxima quinta-feira, dia 14, às 14.00 horas, na sala 2374, haverá a projeção de um documentário com Joseph Campbel, intitulado "O Poder do Mito". Campbell é o autor de diversos livros dedicados à interpretação do papel das narrativas mitológicas, como, por exemplo, "O herói das mil faces".
A entrada é livre.

sábado, fevereiro 3

Semblante e sotaque

O gauchinho passou na prova do brete, descansou da viagem, cevou vários mates e depois quis dar uma volta nas redondezas; lhe emprestaram a chave do apartamento, para poder voltar na hora que quisesse; mal acostumado com as modas paulistas, inventou de perguntar pelas outras chaves, a chave do edifício, a chave do portão de fora, como vai fazer para entrar? Ou sempre tem vivente lá na entrada? Lhe foi explicado que em São Paulo, nesses campos de Jardins e Moemas, ninguém tem direito a ter a chave do edifício onde mora; ninguém pode ter a chave do portão; e, finalmente, ninguém tem direito a ter o controle de sua própria garagem; e mais lhe explicaram: tem que mostrar o semblante e o sotaque se quiser que o porteiro lhe abra a garagem. Sabe como é, o perigo pode estar no assento do passageiro com um tresoitão no colo. "Mas o índio comprou o apartamento, é dono e tudo o mais, que barbaridade é essa que nem pode ter as chaves completas"? Pois é, mas é assim que são os costumes nesses campos das Moemas.

Mangueiras e bretes

Nas mangueiras para o trato de gado, no Rio Grande do Sul, ainda se usam as mangueiras; algumas servidas pelas gigantes banheiras. A coisa funciona assim; o gado entra em enormes cercados, as mangueiras; depois de colocada a tropa ali dentro, um grupo menor de reses é colocado em um cercado menor, e ali elas entram, uma por uma, em um corredor, que, se não me falha a memória, se chama brete; ali cada rês pode ficar presa, imobilizada, para o trato; dosagem, vacina, uma serrada na ponta da aspa; bicheira não se trata ali, no mais das vezes, porque depois tem o banho; aberta a seringa o bicho se vê empurrado para uma rampa que se projeta numa enorme banheira, com água e uns preparados fedorentos, à base de criolina, é o que lembra meu nariz. Sem escolha, o bicho nada uns cinco metros e sai pelo outro lado, se sacudindo todo; está banhado, pronto para ir ao campo de novo, livre dos carrapatos.
Pois tá cheio de carrapato, aqui pelos campos do tal de São Paulo. Conto que andando aqui nos campos de Moema dei com uns muitos edifícios que copiaram a moda da gauchada. Funciona assim. O índio chega no portão do edifício e uns tipos que ficam em umas casinhas escuras parece que adivinham a intenção do vivente e já vão perguntando, por meio de uns microfones escondidos lá quem sabe donde quem é e a que vem. Se gostam da resposta a porta abre e o índio pode entrar, mas somente para descobrir que entrou em um brete, desses bem estreitinhos; ali o índio fica preso no mais, mais perto da casinha de janela preta, e ali espera para que telefonem para dentro do edificio e especulem bem especulado se é pizza ou se é pão ou se é o quê afinal que a casa espera; e o índio ali, depezito no mais, lhe aguardo, espero! Aí vem as licenças e o brete abre; o índio passa pela casinha preta e ainda lhe olham bem, assim meio no desconfiado.
Lhe reparo que visita, aqui nessas Moemas, só bem anunciada, e uns dias antes.
Se os carrapatos diminuíram, eu esqueci de perguntar.

Cortina para o coletivo

Saimos da Avenida Paulista, oito e pouco da noite, tomamos um ônibus para Santo Amaro, rumo a Moema. Naquela hora da noite de uma sexta-feira as ruas e os ônibus já estão mais vazios, há lugares para sentar depois da roleta. Pagamos, passamos, sentamos. Depois de alguns minutos P. me chama a atenção para uma cortina de pano amarrada perto do assento do cobrador; um pano verde, amarrado com um fio de plástico, coisa muito bagaceira e improvisada, separa o cobrador dos passageiros de trás; com facilidade ele fica meio escondido, sem ver o que se passa nos fundos do seu coletivo. O visitante distraído, como eu, não entende muito o que se passa ali. Nesse meio tempo um sujeito passa por baixo da roleta e depois mais outro; não dizem nada ao cobrador, apenas fazem uma cara feia e passam, se aboletam no fundo; um deles fica fuçando no telefone celular. P. explica que as cortinas se multiplicam nos onibus paulistas; por meio delas os cobradores fazem vista grossa ao que acontece dali para trás; alguns se recusam a dar informações aos passageiros que não conhecem a linha e a cidade; a maioria dos passageiros usa cartões magnéticos; poucos, como eu, pagam em dinheiro, e isso por vezes muda a rotina deles, que nem precisam ficar sentados na cadeira que controla a roleta.
A cortina verde, diz P., é uma invenção dos cobradores, para se incomodarem menos; retiram sua autoridadezinha de cobrador sobre o fundo do seu ônibus, que se virem os passageiros; incomodam-se em dar o troco a quem paga em dinheiro; um dia desses alguém há de perguntar para que, afinal das contas, servem os cobradores.

Tom Dwyer

Tom Dwyer é o presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia. Deu uma entrevista ao Jornal da Tarde (SP) no dia 31, quarta-feira passada, na qual aborda o tema do ensino de Sociologia e Filosofia. O jornal o procurou para conversar sobre a volta dessas disciplinas ao currículo escolar, "duas aulas por semana durante um dos três anos do Ensino Médio", diz a articulista Maria Rehder, que lhe perguntou sobre as diferenças entre essas duas disciplinas e a psicologia. Ele responde: "A psicologia não pretende estudar a complexidade das mudanças sociais no mundo, como o fato da globalização estar afetando as coisas no meu bairro, por exemplo. A sociologia, sim. Já a filosofia é o estudo do indivíduo, o que é muito diferente de sociologia, que estuda os agregados. A filosofia trata das questões mais antigas da Humanidade como a diferença entre o bem e o mal e a busca pela verdade."
Tom Dwyer é professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
Sobre o preparo das escolas para atender essa obrigatoriedade: "No momento vivemos o desafio de escolher qual tipo de sociologia deve ser adotado no currículo do Ensino Médio".
Sobre a metodologia de ensino ideal para o ensino de Sociologia: "Isso eu não posso responder em nome da Sociedade Brasileira de Sociologia (...). A seguir ele diz que "a boa educação deve se organizar em torno das quatro aprendizagens fundamentais estipuladas por Jaques Delour, da Unesco: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto, aprender a ser.
"Indivíduos e questões mais antigas" e os "agregados". Como diria aquele jornalista, então tá.