Cortina para o coletivo
Saimos da Avenida Paulista, oito e pouco da noite, tomamos um ônibus para Santo Amaro, rumo a Moema. Naquela hora da noite de uma sexta-feira as ruas e os ônibus já estão mais vazios, há lugares para sentar depois da roleta. Pagamos, passamos, sentamos. Depois de alguns minutos P. me chama a atenção para uma cortina de pano amarrada perto do assento do cobrador; um pano verde, amarrado com um fio de plástico, coisa muito bagaceira e improvisada, separa o cobrador dos passageiros de trás; com facilidade ele fica meio escondido, sem ver o que se passa nos fundos do seu coletivo. O visitante distraído, como eu, não entende muito o que se passa ali. Nesse meio tempo um sujeito passa por baixo da roleta e depois mais outro; não dizem nada ao cobrador, apenas fazem uma cara feia e passam, se aboletam no fundo; um deles fica fuçando no telefone celular. P. explica que as cortinas se multiplicam nos onibus paulistas; por meio delas os cobradores fazem vista grossa ao que acontece dali para trás; alguns se recusam a dar informações aos passageiros que não conhecem a linha e a cidade; a maioria dos passageiros usa cartões magnéticos; poucos, como eu, pagam em dinheiro, e isso por vezes muda a rotina deles, que nem precisam ficar sentados na cadeira que controla a roleta.
A cortina verde, diz P., é uma invenção dos cobradores, para se incomodarem menos; retiram sua autoridadezinha de cobrador sobre o fundo do seu ônibus, que se virem os passageiros; incomodam-se em dar o troco a quem paga em dinheiro; um dia desses alguém há de perguntar para que, afinal das contas, servem os cobradores.
Um comentário:
ronái meu velho, como vais?
eu ainda vivia esta rotina dos ônibus paulistas quando o sistema de catracas/roletas eletrônicas foi implantado. a idéia original era simplesmente eliminar o cobrador, reduzindo custos. muita greve e movimentação depois mantiveram-se os moços sentados ali. é mesmo um anacronismo. inté +.
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