quarta-feira, novembro 30

Boghossian

Um leitor do blogue e aluno do Curso de Filosofia propôs, por mail, algumas questões sobre o relativismo do conhecimento. O ponto de partida foi um artigo de Paul Boghossian sobre o famoso artigo de Alan Sokal, que conseguiu fazer com que uma importante revista de humanidades publicasse um artigo que era um besteirol sem fim. Para levar adiante a conversa, que parece interessar a muitos, tratei de colocar o artigo de Boghossian nos Arquivos, aqui do lado, no link. Vamos ver no que dá.

sexta-feira, novembro 25

A greve na maior universidade federal

Um leitor do blogue estava na dúvida sobre se a UFRJ entrou em greve. Não. Na assembléia do dia 10 de setembro a greve foi rejeitada. No dia 10 de novembro o assunto entrou em pauta de novo, e foi aprovado um indicativo de greve. Sem data... É bom lembrar que a UFRJ é a maior universidade federal brasileira. E a segunda maior é a Federal de Minas, se não me engano. Que não entrou em greve. E a Federal do Paraná, que não entrou em greve...

Ali Babá viu alguma coisa!

Sai no Mix de amanhã. Aqui vai uma versão mais leve, mas essencialmente a mesma.
O Deputado Babá (PSol) estava presente numa recente reunião com o MEC e o comando de greve dos professores das universidades federais e saiu-se com essa: ele acha que deve ser feita uma lei que exclui do reajuste quem não faz greve. Ele disse que “é fácil ficar na academia, dando aula e opinando sobre uma greve. Se vocês estivessem certos, já tinham convencido o Brasil inteiro”.
Babá tomou muito sol na cabeça. É uma bobagem isso que ele disse. E se a moda pega do outro lado e alguém propõe que os sindicatos de professores paguem retroativamente os prejuízos à formação do povo brasileiro com as paralisações intermináveis em todos os níveis de ensino, ano sim, ano não? Ou que os sindicatos sejam responsabilizados pelas trapalhadas nas negociações dos últimos anos, que, ao contrário de ganhos, podem ter provocado perdas salariais?
Mas Babá viu um negocio importante na segunda parte da frase, onde ele diz que “se vocês estivessem certos, já tinham convencido o Brasil inteiro”. O “vocês” do Babá, são mais ou menos 12.000 professores de universidades federais que desde o ano passado romperam com a Andes e constituíram outra entidade de defesa da categoria, que reúne universidades como a Federal do Rio Grande do Sul, de Minas, de Goiás, etc. Nessa atual campanha salarial, a tal entidade, denominada de Proifes, foi recebida no Ministério junto com a Andes e a discussão sobre a representatividade sindical ferveu.
Seria bom lembrar ao Babá o fato que se alguém está certo em uma opinião, isso nada tem a ver com êxito no convencimento dos outros. Mas isso seria uma sutileza. O que vale é que Babá prestou esse serviço de trazer a dissidência (logo ele!) para a cena.
Não sou filiado ao Proifes nem faço muita idéia do mesmo. Mas o tal Proifes é o sintoma de um sentimento um tanto vago e difícil de colocar em palavras. É um sentimento de que as coisas do nosso sindicalismo não vão muito bem, na medida em que as greves se banalizaram; os estudantes falam claramente em “greves de pijama”, greves de “ano sim, ano não”, greves do “fora todos”; e quem é que gosta do tom amarelo que acompanha os comentários sobre a qualidade da recuperação das aulas?
Babá tem razão. Há hoje um “vocês” que não pode mais ser ignorado. Alguns desses professores que tem falado contra as greves “ano sim, ano não” estão invertendo o conselho de Babá e responsabilizam a Andes por trapalhadas, como é o caso de colegas de Goiás. É só entrar no site deles e ver.
A greve desse ano foi deflagrada sem a participação das das grandes universidades federais brasileiras. Em particular, a maior delas, a UFRJ não entrou em greve. Ninguém deu muita bola para a UFRJ quando ela se posicionou contra, em setembro, dizendo que não havia condições de se colocar na rua um movimento forte. Ao contrário, foo deflagrada uma greve pelas beiradas, fraca, desunida; apostou-se no crescimento inercial da mesma, expondo à opinião pública um movimento fraco, fragmentado, de cintura e cabeça duras.

quinta-feira, novembro 24

Baudrillard: existe a realidade?

O NYT de domingo passado publicou uma entrevista com Jean Baudrillard. Como diz meu sobrinho e blogueiro Gabriel Pillar, vale a pena ler para dar umas boas risadas. Tem um trecho dela e um link para a mesma no Vertigo, ao lado neste blog.

CDM

A ironia da reunião do tal do Conselho de Cidadania de Santa Maria, que vai dar conselhos sobre um novo projeto para o CDM: a reunião vai ser feita no auditório da Fadisma! E o tal projeto, pelo que se ouve, vai ser de um enorme edificio multiuso, o que quer dizer: vamos continuar sem um auditório público na cidade. Desde que o Centro Cultural foi transformado em Teatro 13 de Maio, não há mais um auditório do municipio para eventos. Pelo jeito, vamos continuar sem. Sinal dos tempos e das sensibilidades (ou melhor, da falta delas...). E as próximas reuniões do Conselho da Cidadania, por certo, vão continuar sendo feitas em auditórios privados... Eta cidade!

segunda-feira, novembro 21

O direito de greve

A Comissão de Educação da Câmara, aproveitando a maré, diz que quer fazer uma proposta de regulamentação do direito de greve nas Universidades. Uma conversa fiada, para aproveitar o momento, pois ela fala em fazer uma lei específica para as universidades federais. É uma gracinha, pois o Deputado Paulo Delgado (PT) diz que "a idéia é estabelecer áreas essenciais que não possam ser paralisadas durante as greves, como as turmas dos últimos semestres nas áreas de saúde, tecnologia e pedagogia."
No Jornal o Globo, tem a repercussão dessas belas idéias.
"A presidente do Andes-Sindicato, Marina Barbosa, já se posicionou contra a proposta do deputado:
— O direito de greve está previsto na Constituição. Qualquer regulamentação irá restringir este direito. A greve causa transtornos. Infelizmente, é a única forma de sermos ouvidos.
O presidente da UNE, Gustavo Petta, concorda que os estudantes são as maiores vítimas das greves. Ele vê equívocos da parte do governo e do Andes nas negociações, mas pondera que o direito à greve é legítimo:
— Não se pode encarar com naturalidade essa situação de greve prolongada, mas não podemos também retirar um direito legítimo de professores e funcionários.
O ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF) não vê como viabilizar a regulamentação. Quando era ministro, ele propôs que as greves só pudessem ser declaradas quando os três segmentos —- estudantes, professores e técnicos — concordassem:
— Uma greve que ultrapassa cem dias mostra que a universidade não é mais necessária da forma como está estruturada. Imagine um banco parado por cem dias.
Para Maria Helena Guimarães, da Universidade Estadual de Campinas, a forma de evitar os prejuízos que as greves causam é discutir uma proposta de autonomia das universidades. Ex-secretária-executiva do MEC no governo Fernando Henrique Cardoso e hoje secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, ela diz que o governo Lula deveria dar mais importância à autonomia universitária.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, por meio de sua assessoria, informou que analisará a proposta de Delgado para depois se pronunciar."
Por aí afora. No domingo, no Diário de Santa Maria, no MIX, tem mais um round da discussão. Depois eu posto aqui o que escrevi, inspirado por uma dica do Prof. Robson Reis.

Bar

Perdi de novo. Vai ter chope no Bar. Falta a dança. Ultimamente, perco todas.

quarta-feira, novembro 16

Cesma

Mais uma conversa de pé de inauguração. O Café da Cesma, o futuro, deve vender cerveja e chope? Então vamos chamar logo de Bar da Cesma e botar um barrigudo de bigode por trás do balcão, oferecendo chopes com chucrutes de acompanhamento. Eu não nego que gosto de tomar um chopes com chucrutes de fez em quanto, mas vender chopes na Cesma... Então já teria nome o bar, Bar da Cesva... Francamente!

Desculpas

Imagino que os alunos do Prof. Róbson Reis tenham me aguardado hoje, às 10.30, para a aula sobre Filosofia da Linguagem Comum. Em vão. Peço desculpas a todos, é o que posso fazer, por ora. Eu me lembrei do compromisso perto do meio dia. Meus alunos sabem que não me atraso e não falto aulas marcadas. Mas hoje aconteceu. Aceitei de bom gosto o convite para dar essa aula, tinha tudo pronto, mas hoje - quem sabem a emoção da inauguração da Cesma, o mormaço de matar gente, a idade, quem sabe tudo isso e mais o que não se sabe bem o quê - tudo isso junto, faltei. Me adesculpem, se puderem. Devo, não nego, pago quando marcarem novo dia.

Cesma, 16 de Novembro, 16.30 h.

Ceres Zasso Zago, ao meu lado, na Cesma, comenta a chacina de trânsito do final de semana, trinta e poucas mortes. Mas não vai desistir de sua luta por mais calma no trânsito. Télcio Brezolin continua recebendo os cumprimentos das pessoas que não puderam vir pela manhã. Nos alto-falantes do salão principal a trilha sonora é feita com Madeleine Peyroux (semana que vem, no Teatro do Sesi). E uma conversa começa ao lado, sobre se o Café da Cesma, quando abrir, deve ou não vender cerveja. Dezenas de pessoas já andam pelos corredores de livros. Isto é Cesma, na primeira tarde de funcionamento. Faço esta postagem dentro da própria Cesma, que é um dos primeiros lugares de Santa Maria onde tem internet sem fio. Longa vida à Cesma.

quarta-feira, novembro 9

"O que era chamado de 'filosofia'"

No Livro Azul, Wittgenstein faz uma afirmação intrigante, diante da qual é difícil ficar indiferente: “Se, por exemplo, chamamos as nossas investigações 'filosofia', este rótulo, por um lado, parece apropriado e, por outro, tem seguramente induzido as pessoas em erro. (Poderíamos dizer que o assunto com que nos ocupamos é um dos herdeiros do que costumava ser chamado de 'filosofia'.)”. Esse tópico é abordado duas vezes no livro, no primeiro e no segundo ditado. Veja a página 110 da tradução de Jorge Mendes.
Um dos melhores artigos sobre esse tema foi escrito por Anthony Kenny, “Wittgenstein on the Nature of Philosophy” (publicado no livro The Legacy of Wittgenstein, Blackwell, 1984). Ali Kenny cita um manuscrito no qual Wittgenstein reflete sobre a diferença entre as coisas que ele diz e o que diziam filósofos anteriores:
“Uma pessoa comum, quando lê filósofos mais antigos, pensa –de forma bastante certa – ‘Puro absurdo!’. Quando ela me ouve, pensa – corretamente, de novo – ‘Nada além de truísmos triviais’. Esse é o modo como a imagem da filosofia mudou.”
Mais, sobre esse tema, no blogue de Linguagem.

terça-feira, novembro 8

O acordo entre os homens

Um dos parágrafos mais citados das Investigações Filosóficas de Wittgenstein é o 241:
"Assim, pois, você diz que o acordo entre os homens decide o que é verdadeiro e o que é falso?" - Verdadeiro e falso é o que os homens dizem; e na linguagem os homens estão de acordo. Não é um acordo sobre as opiniões, mas sobre o modo de vida."
Este parágrafo, com ligeiras adaptações e correções na tradução, foi objeto da questão 32 do Enade. Ela é assim:
(...). "Verdadeiro e falso" é o que os homens dizem; e na linguagem os homens estão de acordo. Não é um acordo sobre as opiniões, mas sobre o modo de vida.
De acordo com o texto acima, analise as seguintes asserções.
Na linguagem, os homens estão de acordo
porque
a linguagem concerne apenas à verdade e à falsidade dos enunciados.
Acerca dessas afirmativas, assinale a opção correta.
a) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificação correta da primeira.
b) As duas asserções sao proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
c) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa.
d) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira.
e) Tanto a primeira como a segunda asserções são proposições falsas.

E?

"As Obras do Amor"

Pela Vozes, ao preço de 47 reais, saíram "As Obras do Amor", de Soeren Kierkegaard. O tradutor do livro é um conhecido de Santa Maria, o Professor Alvaro Valls, que assim inicia o elogio do livro: "Na primeira página, coloca em dúvida a dúvida (cartesiana) quando aplicada ao amor. Não se deve duvidar do amor. Melhor ser enganado amando do que desistindo do amor. Melhor ser enganado amando do que desistindo de amar. Deve-se crer no amor." Com essa tradução, Valls amplia a obra de Kierkegaard ao nosso alcance: As Migalhas Filosóficas (Vozes), O Conceito de Ironia (Vozes), É Preciso Duvidar de Tudo (Martins Fontes), tudo traduzido do original dinamarquês.

A prova de Filosofia do ENADE (I)

A prova de Filosofia do Enade teve 10 questões de Formação Geral e 25 na parte específica de Filosofia. Destas, quatro foram de Lógica. Os autores cujos textos foram objeto de avaliação, no estilo de múltipla escolha, foram Demócrito, Platão, Aristóteles, Pirro, Tomás de Aquino, Ockam, Boécio, Abelardo, Locke, Descartes e Hume, Kant, Spinoza e Schopenhauer, Locke, Wittgenstein, Apel e Habermas, Sartre, Kuhn, Foucault. E ainda questões discursivas, de 15 linhas cada, abordando temas como a distinção entre verdade e validade na lógica formal, ato e potência, Agostinho, a ética de Kant, Carnap (metafisica e ciência).
A maioria das questões de múltipla escolha foram formuladas de modo a requerer não tanto o conhecimento das idéias do autor quanto uma capacidade de interpretação de textos. Com isso, a exigência de conhecimentos de Filosofia ficou, em muitas questões, quase que no mesmo pé de igualdade com a capacidade de análise de textos. O recurso é válido, por certo, e diminui a possibilidade de anular questões por divergências de interpretação de conceitos do autor. Para quem queria ter uma idéia sobre como podem ser formuladas questões de vestibular para conteúdos de Filosofia, talvez a prova do Enade seja um exemplo.

segunda-feira, novembro 7

Exame de Filosofia

No domingo de tarde ocorreu a prova do Enade, da qual participou o Curso de Filosofia. Algum aluno participante pode contar como foi a prova?

CESMA

Tem data a inauguração da nova sede da Cesma: dia 16 de Novembro. Tem gente vindo de longe para a cerimônia. A casa está ficando muito linda, mas não só isso. O estoque de livros foi ampliado, nova seção com devedês clássicos escolhidos a dedo, internet, café (talvez com internet sem fio), enfim, coisa sem comparação no mundo ao redor.

Errei

Fiz uma previsão e errei. Na greve de 1998, no dia 6 de abril, eu disse que a greve terminaria no dia 15 de junho. Acertei. Foi uma trágica sorte. Desta vez errei. A greve do Andes segue, por mais algumas semanas, quem sabe até o ano que vem. A da Receita Federal já tem oitenta dias e segue firme. A dos servidores da Universidade vai pelo mesmo caminho, que leva aonde mesmo?

sexta-feira, novembro 4

A língua materna pode ser vista como um instrumento?

A língua materna pode ser vista como um instrumento?
Nas discussões da DCG sobre Linguagem Comum surgiu o tema da linguagem como um instrumento. O tópico é relevante pois não é raro encontrar-se caracterizações da linguagem natural como um instrumento de expressão dos pensamentos (idéias, sentimentos, etc). Nossas reflexões na DCG tiveram como inspiração o texto de Hans-Georg Gadamer, “Homem e Linguagem” (disponível nos Arquivos, no link ao lado). Nele, Gadamer apresenta argumentos contrários às concepções instrumentalistas da linguagem, a partir de uma reflexão sobre a natureza e função dos instrumentos.
Para seguir nessa linha de reflexão, transcrevo o trecho final de uma passagem da Gramática Filosófica, de L. Wittgensteins, que aborda o mesmo tema.
“Onde a linguagem consegue sua significação? Podemos dizer ‘Sem a linguagem, não poderíamos nos comunicar um com o outro’? Não. Não é como ‘sem o telefone, não poderíamos falar da Europa com a América’. Podemos realmente dizer ‘sem boca, os seres humanos não poderiam comunicar-se entre si’. Mas o conceito de linguagem está contido no conceito de comunicação.” (Gramática Filosófica, §140)
Acho que a ultima frase fala por si. Ou não?