quinta-feira, julho 28

Colin McGinn

Tirei o dia para ler A Construção de um Filósofo, de Colin McGinn (Record, 2004, por R$24,20 na Cesma). Valeu o dia. O livro oferece uma janela privilegiada para o processo de formação de um filósofo nascido na Inglaterra em 1950, numa família de operarios, na qual ele foi o primeiro a poder ir para uma Universidade. É uma autobiografia concentrada apenas no processo de formação filosófica pessoal, que inclui, por certo, excelentes resumos das grandes discussões que ele vai encontrando em sua vida de estudante e de profissional; desde o primeiro contato com o argumento ontológico e Descartes, até excelentes pistas para a gente compreender a Nova Teoria da Referência e algumas idéias de Gareth Evans (ávido motociclicista), Thomas Nagel, Wittgenstein, Hilary Putnam, Dummett, e de dezenas de outros profissionais com quem ele interagiu.
McGinn ganhou uma certa notoriedade depois que publicou um artigo onde sugeriu que certos problemas filosóficos tem uma refratariedade de fundo, que são, por assim dizer, intratáveis, insolúveis, misteriosos. O artigo era intitulado "Podemos resolver o problema Mente-Corpo?".O artigo foi recusado pelo Journal of Philosophy. Mais tarde, aceito e publicado em Mind, ganhou fama e lhe valeu a alcunha de "misteriano".
Para não dizer que o livro trata apenas de temas sisudos, como os de Kripke e Donnellan, tem também páginas hilárias, por exemplo, a que ele descreve uma conversa com Jennifer Aniston (ela mesma, do Friends)na qual ela, depois de saber que ele era filosófo, lhe pergunta: "E quem é seu filósofo favorito"? Achando que ela sabia algo do assunto, ele vai desfilando uma lista, "Russell", ("Nunca ouvi falar", diz ela), "Kant?", "Descartes?" e ela neca, até escapar um Platão, "Oh, sim, conheço Platão", e ele trata de mudar de assunto, elogiando o desempenho dela em Friends. Fazer o quê, diz ele, provavelmente, como namorada do Brad Pitt, ela se referia à filosofia oriental, tema que parece interessar ao rapaz.
Bueno, fico por aqui hoje.

Orwell (2)

Mais um palavra sobre Orwell, de Timothy Garton Ash:

"Se tivesse que mencionar uma única qualidade pela qual ainda é essencial ler Orwell no século 21, seria sua percepção do uso e abuso da linguagem. Se tiverem tempo de ler só um ensaio, leiam "Política e a Língua Inglesa". Nele se resume de forma brilhante o argumento orwelliano de que a corrupção da linguagem é uma parte essencial da política opressora e exploradora. "A defesa do indefensável" se baseia em uma série de eufemismos, falsos períodos verbais, frases pré-fabricadas e toda uma parafernália de engano que ele aponta com toda precisão e paródia."
("A permanência de George Orwell", publicado em 08/07/2001, por Timothy Garton Ash. Leia o texto integral em //www2.folha.uol.com.br/biblioteca/1/14/2001070801.html.

E aqui um outro elogio ao mesmo texto, feito pelo filósofo português Desiderio Murcho: "O ensaio "A Política e a Língua Inglesa" é um dos mais famosos de Orwell e merecia ser amplamente divulgado entre nós. Poderia contribuir para diminuir a má influência que tem o estilo obscurantista e manipulador, já denunciado por Eça de Queirós, na psique portuguesa. Este ensaio oferece uma análise lúcida e exemplar da relação entre a claridade da linguagem, a política e o pensamento. Das seis regras para uma escrita lúcida apresentadas por Orwell destaca-se a última, um bom símbolo da sua perspicácia: "Desobedeça a qualquer das outras regras de preferência a dizer qualquer coisa evidentemente bárbara". O estilo defendido e praticado por Orwell é preciso e directo, sem ornamentos pomposos (que prostituem a comunicação e visam engrandecer o autor)."

George Orwell

Comentário do Adriano neste blog:

"'A Revolução dos Bichos', do Orwell, é uma "releitura" que sugiro para o momento. Impressiona a quantidade de analogias que podemos fazer em relação à crise atual. Gosto do retrado que Orwell faz da elite emergente e burocrata.
A comparação com Silvinhos, Delúvios, Land Rovers, etc, é quase inevitável."

Releitura para uns, leitura para outros, é ótima leitura; e onde anda meu exemplar do cujo? Quando achar, coloco os dados da editora.

quarta-feira, julho 27

CESMA (2)

Esqueci de mencionar um detalhe importante da nova casa: haverá um Café Cesma, no segundo andar, num amplo e luminoso espaço. Em off, parece que procura-se barista apreciador de livros.

CESMA


Ontem fui na Cesma, vagabundear um pouco, como diz Mestre Guina, e ver as novidades. Conversa vai, conversa vem, saí de lá com o livro do McGinn, sobre o qual comentarei daqui a uns dias, e fui ver o novo prédio, na Professor Braga, 55. O portão estava fechado, mas sem cadeado, entrei. Um amplo saguão, e lá dentro, conferindo papéis, o Télcio. A sala onde vão ficar os livros é imensa, e já está com todos os móveis, belas estantes de madeira; há um espaço para crianças, com cadeirinhas, mesas para rabiscos, uma enorme janela ao fundo com abundante luz natural.
Segundo andar: material escolar, desenho, etc., vão ficar em outra imensa área, também já mobiliada, pronta para funcionar.
Terceiro andar: outra imensa área, para administração, apoio, gabinetes, etc.
Finalmente: o quarto andar, com um auditório para 200 lugares, cujo som, segundo comenta o Télcio, não tem rival na cidade; equipada com o melhor datashow disponível no mercado, será a melhor sala de cinema da cidade. As poltronas foram criadas especialmente para a Cesma, o espaço entre as fileiras é quase um latifundio.
E tome mais salas para mostras, exposições, memoriais, quase que uma por andar. O acesso ao anfiteatro é independente da loja, o que permite eventos noturnos com a maior facilidade.
Em boca pequena se fala que é possivel que dentro de trinta, quarenta dias, ocorra a mudança, sem alarde, como é do estilo da casa.
Será um marco na vida cultural de Santa Maria.
Tem gente que passa ali e diz que é o prédio mais bonito da cidade. Outros se perguntam quanto dinheiro publico foi gasto ali. O prédio, de fato, ficou bonito, mas nesse caso a beleza não é o mais importante. O prédio ficaria ainda mais bonito se não fossem certas exigências da regras de segurança hoje vigentes.
Quanto ao dinheiro, essa é a parte mais comovente: do primeiro ao último real ali colocado, tudo veio do bolso dos associados.
Não há ali um centavo de dinheiro da viuva.
Longa vida à Cesma!

sábado, julho 23

O indio do Alegrete

Postei aí no canto da direita uma ligação direta com as bolas dos bois. Vivi, dos zero aos sete, perto da Capela do Saicã, entre Cacequi e Rosário, e esses nomes todos, Saicã, Rosário, Cacequi, e as adjacências, Terceiro, Alegrete, Dom Pedrito, Uruguaiana, e os etecetera e tal se revolcam na memória desde então. Faz alguns meses ouvi falar de um romance escrito por um alegretense, o que reavivou as lembranças daquelas paisagens que se perdem na vista.
Faz poucos dias comecei a ler o cujo dito. Nunca vi esse esse indio do Alegrete, mas o texto dele é muito bom.
Espiem só a chacrinha que ele cultiva na internete. E ainda tem dois exemplares do livro na Cesma.

Hannah Arendt


A Sra. Arendt está mesmo na ordem do dia. Dias atrás, foi citada pela Deputada Denise Frossard, a que colocou alguns bicheiros do Rio atrás das grades. Hoje, é lembrada por Marcos Rolim, no jornal Zero Hora, no artigo "Sonhos Roubados", que termina assim: "Essa turma (Delubio, Silvinho e certamente haverá um etc., parentese meu) não é composta por delinquentes comuns e o que fizeram é muito mais grave do que crimes eleitorais. São ladrões de sonhos, isso é o que eles são. Um crime que, parafraseando Hannah Arendt, não se pode punir nem perdoar."
A frase é bonita, não sei onde ela a teria escrito, talvez nos escritos sobre totalitarismo?
Quem me apresentou Hannah Arendt foi Stein, por volta de 1980, um pouco antes ou depois. O primeiro livro dela publicado aqui no Brasil foi em 1972, "Entre o Passado e o Futuro", e depois, em 1973, "Crises da Republica", ambos pela Perspectiva. Em 1981 saiu "A Condição Humana", pela Forense-Universitária. Todos estão esgotados.
Quem sabe, com esta popularidade eles sejam republicados.
Terça que vem tem Renilda na CPMI.
Dizem que dali em diante a casa cai de vez.
Os ladrões de sonhos deixarão de ser apenas os diluvios e silvinhos "land rover".

quinta-feira, julho 21

Cecilia

Tem Cecília Meireles no "Quadro de Avisos", com um poema sobre palavra e enforcamento.

Leituras para a hora

Um bom livro para a hora foi traduzido e publicado no Brasil em ... 1989. Não me cansei de elogiá-lo na época, mas diziam que o autor era da turma do FHC, não precisava ser lido. Chama-se "Capitalismo e Social-Democracia", de Adam Przeworski, Cia. Das Letras, 1989.
Uma das teses do livro era a seguinte:
“No processo de competição eleitoral, os partidos socialistas são forçados a solapar a organização dos trabalhadores como classe, e compromissos entre trabalhadores e capitalistas acerca de questões econômicas são possíveis sob o capitalismo e, por vezes, preferidos pelos trabalhadores” (p. 16)
Dizia o Przeworski: os partidos socialistas (que se dizem, ao menos) vivem um dilema: “ ter um partido homogêneo em termos de apelo a uma classe mas condenado à perpétua derrota eleitoral, ou ter um partido que luta pelo êxito eleitoral às custas da diluição de seu caráter de classe”. (p. 39)
Qualquer semelhança não é coincidência; o resto, que estamos vendo, é por outras contas.

Fenomenologia do Petismo

O Adriano ofereceu uma boa “fenomenologia do petismo”, no comentário à postagem de ontem.
A “megalomania petista” será uma desaprendizagem difícil, como ele diz. Afinal, foi construída ao longo de muitos anos. Mas onde tem fumaça pode ter havido um foguinho. Acho que, em espírito de raposa, e não de ouriço, se pode dizer que no início era a honestidade. Mas no início eram poucos e todos controlavam a todos, por assim dizer. E depois hordas de deserdados de outras siglas desembarcaram na caravela petista, e o caldo engrossou. Mais do que desclassificar as pessoas porque no partido delas havia um ACM ou Maluf, houve a estratégia de desclassificar os outros partidos simplesmente porque eram “outros”, por exemplo, da burguesia; afinal, as pessoas achavam que a história tinha trilhos, trem, maquinista.
Um professor de Introdução à Filosofia, na Universidade da Boca do Monte, na metade dos anos oitenta, começou a dizer que essa história de trilhos e socialismo não era bem assim, que, na verdade, era assada. Quase foi linchado.

quarta-feira, julho 20

Ernildo Stein, lembro bem.

A ética, depois do milhão.
Esse foi o tema, acho que numa janta no Barranco, na descida da Protásio, em POA, com alguns filósofos importantes de Sampaulo. Ernildo, naquela época, ainda era cassado, e estava fora do sistema universitário, trabalhando com o Lanificio Albornoz em Livramento. Não me lembro bem, mas a conversa enveredou para a relação entre comportamento ético e dinheiro. Conversa vai, conversa vem, Ernildo saiu-se com a frase que não esqueço:
"Depois do milhão de dólares, essa ética que a gente acredita no dia a dia não faz sentido."
Eu não estou seguro que ele tenha dito exatamente isso, a idéia era essa.
A frase me marcou muito, talvez por me proporcionar uma oportunidade de me dar conta de minha ingenuidade, apesar de já ter vinte e muitos anos, na ocasião: havia um mundo do qual eu não fazia a menor idéia, onde o que nós, comuns mortais, achamos certo ou errado, é apenas risível.
Hoje, em diversos momento do dia, acompanhei o depoimento do Delúvio.
Acabou.
O diabo é que precisamos lembrar de pessoas como a Soninha.
Ou, para dar um exemplo local, eu diria, do Werner.
Ou do Marcos Rolim.
Eu seguiria a lista, tem muita gente boa no PT.
Eu só tenho medo de quem tem patrimonio pessoal na marca do milhão.
Aí eu começo a me lembrar da frase do Stein.
No meio do delúvio.

terça-feira, julho 19

"O que é isso, a filosofia?"

Adriano e Sílvia visitam o blog, e pela condição de leitores do Moranafilosofia dos anos 90, furam a fila das postagens que quero comentar aqui. Começo pelo Adriano. A citação do Cavell, sobre o que é filosofia, é essa:
"Eu compreendo (a filosofia) como um desejo de pensar, não sobre coisas diferentes daquelas sobre as quais as pessoas comuns pensam, mas ao contrário, de aprender a pensar de forma não distraída sobre coisas que os seres humanos comuns não podem deixar de pensar, ou, enfim, sobre coisas que não deixam de ocorrer a eles, algumas vezes em fantasias, algumas vezes como que num relance por entre uma paisagem; são coisas tais como, por exemplo, se podemos conhecer o mundo como ele é em si mesmo, ou se outras pessoas realmente conhecem a natureza das nossas experiências, ou se o bem e o mal são relativos, ou se poderíamos agora estar sonhando que estamos acordados, ou se as modernas tiranias e armas e espaços e velocidades e artes estão em continuidade com o passado da raça humana ou são discontínuas, e assim se o aprendizado da raça humana não é irrelevante diante dos problemas que criou para si mesmo. Tais pensamentos são exemplos daquele desejo característico da humanidade de fazer para si mesmo perguntas que não pode responder satisfatoriamente. Os cínicos acerca da filosofia, e talvez acerca da humanidade, opinarão que perguntas sem respostas são vazias; os dogmáticos pretenderão ter respondido a tais perguntas; os filósofos que admiro preferirão sugerir o pensamento que ao mesmo tempo que pode não haver respostas satisfatórias para tais questões em certas formas, existem, por assim dizer, direções para respostas, maneiras de pensar, que valem o tempo de nossa vida aplicado em descobri-las.
Esse texto de Stanley Cavell está no livro Themes Out of School. Effects and Causes. (The Thought of Movies). The University Of Chicago Press. 1988, p. 9.
A tradução, que precisa ser revista, é minha. O contexto da passagem é uma discussão sobre filosofia e cinema.
Quanto à diferença entre "filosofia profissional" e a filosofia que a gente faz como indicado no texto acima, creio é de grau, e não de natureza. Esse professor de Introdução lembrado pelo Adriano talvez queria dizer algo como "filmes de Hollywood não são apenas objetos comerciais" (quem não se comoveu com "Menina de Ouro"? E desde quando minhas lágrimas são apenas objetos de mercado?) e, assim, Filosofia Profissional existe, mas é apenas uma parte da filosofia, a parte menos interessante, diante do que diz Cavell. Sei não, a diferença parece ser mesmo de grau. O que esse professor queria dizer?

"Explica, mas não justifica"

Meu pai, por vezes, diante do que alguém dizia, sobre algo que fazia (ou deixava de fazer), aplicava esta frase que me deixava intrigado: "Explica, mas não justifica".
Acho que é o tipo de frase que a gente não consegue explicar direito, mas não pode dizer que não entende (coisa comum no arraial da filosofia.
É o tipo de frase que a gente lembra, quando houve toda essa fala sobre o fato que todos os partidos são levados a ter caixa 2, afinal, a legislação, etc.
O fato que Deluvio, Serginho Land Rover, Lula e Pimenta, no nível municipal, tenham escolhido essa tecla, neste final de semana, terá sido coincidência?

segunda-feira, julho 18

"Você não tem preocupações morais, homem?"

Pickering - Você não tem preocupações morais, homem?
Doolitle [impassível] - Não posso me dar ao luxo de ter esse tipo de coisa.

Pois é, a LPM acaba de publicar , numa nova tradução, de Millôr Fernandes, Pigmaleão, de George Bernard Shaw (Nobel de Literatura em 1925), que veio a dar, em 1964, o roteiro do filme My Fair Lady. A citação acima é velha, da tradução de F. de Mello Moser, Editorial Verbo.

O assunto é atualíssimo. Preocupação moral, como se sabe, é o tipo de coisa que nem todo mundo se pode dar o luxo de ter. É o tipo de luxo que certos "revolucionários", por exemplo, não se dão ao luxo de ter. (Mas isso é velho!)

Filosofia na Unijuí

Uma retificação sobre a suspensão do vestibular em Filosofia na Unijuí: Paulo Denisar me informou depois que a suspensão atinge apenas o Campus de Santa Rosa.
Das malas, a menor, mas nem por isso menos triste.

Filosofia na mídia, em rede nacional

O nome do rapaz é Alexandre, emigrante de Cacimba de Dentro, Paraíba, para a paulicéia. O retirante se deslumbra com São Paulo, um mundo novo e estranho para ele, que não faz muita idéia do que lhe pode acontecer. "Ser ou não ser", o novo quadro que começou a ser apresentado no Fantástico, a partir do último final de semana, foi vendido como um espaço de filosofia, apresentado pela filósofa Viviane Mosé, e começou com a história de Alexandre, o pequeno paraibano de Cacimba que se espanta com a metrópole. O gancho servia para falar em Aristóteles, que relaciona a atitude filosófica com o espanto. O gancho, é fácil ver, é muito fraco; o espanto de Alexandre diante do tamanho dos edifícios provavelmente nada tinha de filosófico.
A seguir surgiu o tema da morte, o tema da natureza e das grandes tragédias humanas; o ser humano foi apresentado como um animal diferenciado, pois é o único que tem consciência de sua morte, o que o leva a se colocar perguntas sobre afinal de contas, o que importa? Como se deve viver?
A Filosofia foi apresentada pela Sra. Mosé como um espaço de construção de nosso lugar no mundo, onde se elaboram perguntas e respostas sobre grandes temas, como esse da diferença entre o homem e o animal. Entre essas e outras, termina o quadro - relativamente longo, uns dez ou doze minutos, não contei - com o anúncio que, daqui para a frente, todos os domingos, teremos filosofia na tevê,para milhões de telespectadores. O próximo tema será a relação entre trabalho e erotismo.
Nunca havia ouvido falar na dona Viviane Mosé, que se apresenta como filósofa, psicanalista, poeta.
Acho que não foi ruim.

sexta-feira, julho 15

As bolas do boi

Comecei a ler o "Tratado Ontológico Acerca das Bolas do Boi", romance do alegretense José Carlos Queiroga, uma história sobre o gaúcho Otacílio, que percisa de um cavalo para o dia 20 que vem por aí; lendo esse livro, o humor do índio sobrevive até mesmo a essa crise. Tem mais dois na Cesma. Sao 540 páginas de chorar de bom.

"O partido a que me filiei" (ou: lupa aqui, ali, lá)

"...o PT foi o único partido e o último a que me filiei...".
A frase é de José Arthur Gianotti; ele disse isso em 1989, quando já havia tomado uma boa distância do entusiasmo que deve ter sentido no início dos anos oitenta. Gianotti esteve na assembléia de fundação do PT, no Colégio Sion, assinou a ata, junto com Marilena Chauí e dezenas de outros intelectuais e professores da USP, bem como, por certo, trabalhadores, etc.
Nessa época eu tive a feliz oportunidade de conhecer Marilena Chauí, fato que culminou com sua visita a Santa Maria, para dar uma palestra. Pude conviver um pouco com ela, aqui e em São Paulo, e não me esqueço do entusiasmo que ela depositava no PT, recém fundado. Aqui no Rio Grande do Sul, no início dos anos oitenta, o PT era menos do que um embrião, e assim que foi fundado levou chumbo grosso de algumas pessoas que militavam sob a bandeira lícita do MDB, os perrecistas. E toma chumbo grosso, durante muito tempo. Hoje esses mesmos são próceres do PT.
A vida é assim mesmo, muito d-i-n-â-m-i-c-a.
Em 1989, no mesmo encontro que ouviu a frase do JAG, estava o José Dirceu, que fez uma fala que vale a pena ouvir de novo.
(Entenda o contexto: era abril 89, começava a corrida eleitoral para a Presidência da Republica, e Lula parecia ter chances de ganhar. Todos os itálicos são meus.)
Dizia o camarada Dirceu:
"Chegou então a hora da verdade para o partido, a hora da disputa, agora, do governo do país. O esforço que o PT tem feito nos últimos anos para produzir políticas públicas - ainda com resultados insuficientes, porque a nossa experiência mal começa nas administrações municipais - precisará ser redobrado para superarmos a nossa compreensível incompetência em gerir e administrar o Estado, para podermos assumir os sérios desafios que temos pela frente, para enfrentar as dificuldades de ordem política, econômica e social que o país atravessa."
"Façamos, então, um comentário sobre a nossa maior angústia: seremos todos social-democratas com a vitória de Lula e deixaremos de ser revolucionários? Em vez de comandar uma coluna guerrilheira - o grande sonho da minha vida - vou ter de comandar uma coluna de carros oficiais em Brasília? Vou ter de comandar colunas de mesas de escritórios no governo, como aliás, alguns de nós do partido já estamos comandando?"
Dirceu, em poucas semanas será cassado, bem como João "Vaidade" Paulo e mais alguns do PT e de outros partidos. Vai sobrar para Dirceu nem coluna de carros em Brasília, nem colunas de mesas de escritórios; vai comandar uma chacrinha em Ibiúna, vizinho de FHC.E se o fio continuar sendo puxado vai arder mais gente nessa fogueira. Houve uma "compreensível incompetência" na tentativa de imitar as maracutaias das velhas raposas. Até para maracutaia é preciso escola. Quem não desconfia de quem dobra suas posses de ano para ano?
O PT foi o único partido a quem muita gente se filiou, como Gianotti e Marilena. Eu também. Muitos já rasgaram as fichas, outros estão constrangidos e quietos, meio sem acreditar; acho que nem o Lula acredita. "Je ne regrette rien." Fui acusado de ser da direita da direita do PT, por ter criticado, desde os anos oitenta, a maioria das coisas que o povo petista dizia. Acho que a filiação era para mim, além do adeus à uma certa eterna disponibilidade, uma forma de poder ver e dizer as coisas desde dentro e ajudar a dar alguns passos mínimos em direção a certas reformas sociais, que o próprio PT via com horror, iludido com o papo socialista. Perdi feio a maioria das apostas, ganhei uma que outra no varejo. Eu queria que o PT virasse vidraça, para ficar parecido com os demais partidos, zerar tudo para começar um novo jogo, sem que um jogador tivesse mania de ser melhor que os outros. O nome disso, em filosofia, é "contingência", as coisas do sublunar são assim mesmo, diria Aristóteles; mas precisavam nos surpreender tanto?
O preço da vigilância vai subir mais ainda, mas não parece haver alternativa, no municipio, no estado, no federal. Lupa neles.
Vai sobrar alguma coisa dessa demolição? Se Lula agüentar o aziago agosto, chega ao final? Lula já começa a se reunir com metalúrgicos, como a dizer que seu povo de verdade são os sindicalistas, operários, dos idos de setenta. Não parece ser bom sinal.

Em tempo: as frases que citei, de Gianotti e de José Dirceu, estão no livro PT: Um Projeto para o Brasil. SP, Editora Brasiliense, 1989.

quinta-feira, julho 14

Tem Armindo Trevisan no Quadro de Avisos

Transcrevi, no Quadro de Avisos, um poema de Armindo Trevisan, com gosto de anos setenta.

Raízes da corrupção

O sindicato dos professores pediu quinze linhas sobre as raízes da corrupção em nosso pais. para o próximo jornal.
Pensando sobre o tema, me lembrei de uma citação famosa do filósofo Isaiah Berlin, sobre os ouriços e as raposas. Ele criou a frase a partir de um fragmento do poeta grego Arquíloco: "A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma grande coisa." Isaiah Berlin diz que a divisão entre ouriços e raposas diz respeito a dois modos dos seres humanos, em geral, tentarem compreender as coisas. Ele dá como exemplo de ouriço, na filosofia, Platão; Aristóteles seria raposa. O critério é o seguinte: "os ouriços tendem a ver uma única explicação causal para tudo, e o que vêem adaptam a ela. As raposas, ao contrário, tendem a encontrar explicações diferentes em cada nova coisa que encontram." Na modernidade (e em muitas filosofias) parecem predominar os ouriços.
E para a corrupção, vamos fazer conversa de ouriço ou de raposa?
Sérgio Buarque de Holanda, no Raízes do Brasil, um livro de 1936, conta o que ele chama de “anedota”: um negociante da Filadélfia, que viajou e trabalhou pelo Brasil e pela Argentina, verificou que nessas regiões do mundo, se você quer conquistar um freguês, deve começar por fazer dele um amigo.
Entender as causas da corrupção no Brasil depende, entre muitas coisas, da gente rir ou não dessa “anedota”. A dificuldade de ali reconhecer uma anedota faz parte da nossa dificuldade de entender as causas da corrupção.
Há uma outra passagem do livro que eu gostaria de lembrar.
“Dos amigos (...) tudo se pode exigir e tudo se pode receber, e esse tipo de intercurso penetra as diferentes relações sociais. Quando se quer alguma coisa de alguém, o meio mais certo de consegui-lo é fazer desse alguém um amigo. O método aplica-se inclusive aos casos em que se quer prestação de serviços e então a atitude imperativa é considerada particularmente descabida. O resultado é que as relações entre patrão e empregado costumam ser mais amistosas aqui do que em qualquer outra parte”.
Por exemplo,a relação de professor e de aluno é uma relação de amizade?
As raízes da corrupção estão nas raízes do Brasil.
E não existe uma saída: existem ruas, praças, avenidas, e a imprensa livre. Isso não é pouco.

quarta-feira, julho 13

Palestra

Hoje, quarta-feira, às 14.00 horas, palestra no Campus, na Filosofia, do Prof. Luis Carlos Pereira, que terá como tema o livro de Wittgenstein, "Sobre a Certeza". Com certeza, imperdível.

UNIJUI: Curso de Filosofia em dificuldades

Notícia triste na ZH de hoje: a Unijuí suspendeu a oferta para ingresso em sete cursos. Entre eles, o Curso de Filosofia. As razões dessa decisão são, evidentemente, de ordem economica, relacionadas com a crise vivida na região pelos produtores rurais. O Curso de Filosofia da Unijuí, para quem não sabe, é um dos mais antigos do nosso estado, e tem uma história muito rica, na qual se combina, simultaneamente, uma forte presença no cenário regional e nacional. Na verdade, o Curso de Filosofia da Unijuí sempre foi um dos faróis da própria Universidade, desde os tempos da Fidene e de Mário Osório Marques. Muitos professores que atuam ou atuaram lá foram formados aqui na UFSM, e por isso os laços entre a gente são fortes. Esperamos que essa suspensão possa ser revista o mais brevemente possível. Imagino que foi com muita dor institucional e pessoal que pessoas como Antonia Bussmann chegaram a essa decisão; por certo, tratarão de reverter isso o mais cedo possivel. Ficamos aqui na torcida!

segunda-feira, julho 11

Duplex cor

Filosofar é um trabalho duro, senão, veja só: uma coisa aparentemente fácil e pequenina, como dizer o que é “mentir”, subitamente revela algumas dificuldades não desprezíveis.
Eu achei que Mariel estava na boa trilha quando disse que a mentira pressupõe uma intenção. “Estar na boa trilha”, por certo, é apenas o começo da caminhada, mas já é algo. Fui conferir o início do livro do primeiro filósofo que se dedicou a pensar sistematicamente sobre o tema; o que posso dizer é que uma fenomenologia da mentira parece ser mais complexa do que parece. O filosofo é Agostinho, o livro dele chama-se “Sobre a Mentira” (que é citado pela Sissela). As primeiras caracterizações que ele nos oferece da mentira são de tipo negativo:
“Nem toda pessoa que diz uma coisa falsa mente, se ele acredita ou opina que é verdade aquilo que diz”.
Agostinho usa a expressão “duplex cor” para apresentar sua primeira caracterização da mentira:
“Diz uma mentira aquele que, tendo uma coisa na mente, expressa outra distinta com palavras ou com qualquer outro signo. Por isso se diz que o mentiroso tem coração duplo (duplex cor), quer dizer, duplo pensamento (duplex cogitatio)”.
Mas aí alguém sugeriu que a "intenção vem dos fatos, e não dos sujeitos", e eu empaquei.

domingo, julho 10

Notas e Desculpas

Estive fora do ar desde a sexta, pela gripe e pela leitura de oitenta provas. As notas estão publicadas na homepage, desde faz poucos minutos. Volto amanhã.
Enquanto isso, vi que as discussões sobre a filosofia da mentira seguem animadas. Lembro aos participantes que blog não tem moderador, fiquem à vontade.

sexta-feira, julho 8

Filosofia da Mentira (II)

Leia os comentários de Mariel na Filosofia da Mentira, aqui embaixo. Levou as fichas!
Estou meio de gripe, volto amanhã, se puder! Nesse meio tempo, o noticiario nacional mostra que uma filosofia da mentira se torna cada vez mais atual.

quinta-feira, julho 7

Filosofia da Mentira

Está na ordem do blog a filosofia da mentira.
Quem nunca mentiu faça o primeiro comentário.
Qual a diferença entre '"dizer uma mentira" e "mentir"? Ganha um ponto em Filosofia da Linguagem quem fizer uma honesta tentativa de quinze linhas.
Quem foi o filósofo que escreveu dois livros sobre a mentira? Uma dica. Ele mandou queimar o primeiro. Mais meio ponto para quem acertar, até as oito horas da manhã da sexta-feira, 8 de junho.

Armindo Trevisan

Armindo Trevisan, santamariense das Dores, foi padre palotino no Seminário, foi professor do Curso de Filosofia da UFSM, onde deixou uma pequena legião de admiradores, entre a qual eu me incluo. Depois, em Porto Alegre, fez carreira brilhante na UFRGS, na área de estética. E, acima de tudo, firmou uma obra poética bela e singular. Na ZH de hoje escreve uma comovente crônica sobre a crise do PT. Vale a pena ler.

Marcia Tiburi

Alguém mencionou, dias atrás, sobre filosofia na mídia, a participação da Márcia no Saia Justa. Fui espiar o programa ontem à noite. A Luana Piovani marca Márcia de perto, e dá umas pegadinhas fortes ("vamos escrever um livrinho com essas pérolas...") mas eu gostei do que vi. Ela ela se saiu muito bem na discussao da crise politica, conseguindo dizer, entre outras coisas, que mantemos uma associação entre poder e corrupção que pode ser feita de outras formas. Eu sei que o programa é editado, mas ao menos ela está mantendo um espaço de uma palavra diferente. Tomara que fique. Para quem não lembra, Márcia Tiburi, orientanda do Prof. Alvaro Valls, era freguesa de caderno dos encontros de filosofia da arte promovidos pelo professor Hamm aqui em Santa Maria. A voz continua a mesma, já os cabelos...

quarta-feira, julho 6

A ética e os fantasmas de agosto

Vamos aos temas de ética. Parece, segundo o carequinha, que o bom ao futuro pertence.
Fala-se, como se sabe, em éticas profissionais: ética médica, ética dos meios de comunicação, ética dos professores, etc. Na CPMI, o Deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) perguntou ao ‘empresário’ Marcos Valério, se ele considerava “eticamente correto” dar aval a um empréstimo para o PT, diante do fato que as empresas dele, avalista, prestam serviços ao governo e participam de concorrências públicas. O carequinha responde: “Não me beneficiei desse fato.”
Segundo a teoria ética do carequinha, de que depende a lisura, a correção ética de nossas ações? Das consequencias futuras de nossas ações, ao que parece. Mas isso faz sentido?
Vamos tentar generalizar a atitude do carequinha, vamos transformar a atitude dele em modelo de conduta.
O Deputado que fez a pergunta entende que há uma ética empresarial. Um empresário que presta serviços a um governo, através de suas empresas, e que participa de concorrências, talvez não devesse ser avalista de um empréstimo ao partido que esta majoritariamente no governo. Isso gera uma intimidade entre partes que desatende a boa ética empresarial e a boa ética governamental.
O empresário, por sua vez, entende que isso somente seria errado se ele tirasse benefícios dessa proximidade.
Mas onde isso é julgado ou decidido? E quem decide se houve ou não beneficio? É o próprio empresário? O carequinha tem uma teoria curiosa sobre a ética nos negócios públicos: o empresário pode ter essas amizades e intimidades com o poder (que incluem dar um avalzinho de um milhão de dólares) desde que as amizades e intimidades não gerem, por exemplo, concessões duvidosas de contratos depois do aval dado. O bem ao futuro pertence.
Marcos Valério está depondo já um dia inteiro e pouco se tirou dele; o mais que vai se tirar dele, penso eu, será uma questão de ética. Suficiente, no entanto, para fazer despertar os mais temidos fantasmas de agosto.
Para não desesperar: estamos todos muito bem representados no Congresso. Também tem gente boa lá.

terça-feira, julho 5

Não existem fatos, apenas versões.

“Não existem fatos, apenas versões.” A frase não apenas faz bonito em alguns salões, como tem um lado tentador. Quem é que nunca flertou com a idéia que os fatos somente existem dentro de opiniões e interpretações? Ora, fatos? Haverá uma linha de fronteira entre fato, opinião , interpretação?
Retomo aqui um trecho da filósofa Hannah Arendt:
“Clemenceu, pouco antes de sua morte, travava uma conversa amigável com um representante da Republica de Weimar sobre a questão da culpa pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. “-O que, em sua opinião – perguntou este a Clemenceau – pensarão os historiadores futuros deste tema espinhoso e controverso?” Ele replicou: “Isto não sei. Mas tenho certeza de que eles não dirão que a Bélgica invadiu a Alemanha.” Aqui estamos interessados em dados dessa espécie, brutalmente elementares e cuja indestrutibilidade tem sido admitida tacitamente até mesmo pelos seguidores mais extremados e rebuscados do historicismo.” (Hannah Arendt, “Entre o Passado e o Futuro”, p. 296).

“Dados brutalmente elementares”, por certo, dependem de nossa educação, de nossas informações confiáveis, de testemunhos inquestionáveis. Poucos jovens de hoje podem partilhar a graça do que ela diz, pois pouco sabem sobre as origens da Primeira Guerra, sobre o fato que a pobre Bélgica nada poderia contra a poderosa Alemanha. Seria preciso adaptar o exemplo para os dias de hoje.

“Dados brutalmente elementares” são como que as dobradiças das portas, como diria o filósofo favorito de Giannotti, Ludwig Wittgenstein: a gente conta com elas, nem fica pensando nelas. A gente conta com eles, não duvida deles. Para duvidar de alguma coisa, é preciso acreditar em algo.

Os filósofos, a moral e as mentiras

No segundo semestre de 2001, quando se pensava estar vivendo uma crise política no país, alguns filósofos brasileiros fizeram um debate nos meios de comunicação de massa sobre as relações entre ética e política, que ficou conhecido como o debate sobre a “zona cinzenta da amoralidade”. O jornalista Luis Nassif, num artigo da Folha de São Paulo em 1 de junho de 2001, intitulado Moralismo e Política, assim descreveu o clima daqueles dias: “Nos últimos dias pegou fogo a discussão sobre moral e política, provocada por artigo do filósofo José Arthur Giannotti. No entanto o tema é relevante para reflexões adequadas sobre o que esperar do futuro da política, do direito e do jornalismo. O filósofo não defende os atos imorais, os crimes, as reportagens passíveis de punição penal. Ele fala acerca de uma zona cinzenta, de amoralidade, praticada por todos os partidos indistintamente. O que vem a ser a zona cinzenta? As barganhas políticas, por exemplo, que são elementos intrínsecos à atividade política. Empresas, quando colaboram com caixinhas políticas de candidatos - seja de FHC, Lula ou Bush -, esperam, no mínimo, boa vontade para seus pleitos. Deputados federais, estaduais e vereadores, quando apóiam presidentes, governadores ou prefeitos, buscam, em troca, benefícios para seus aliados - sejam eleitores, regiões ou empresas que os apoiaram.”
No contexto daquela discussão alguns filósofos e textos foram citados. Giannotti indicou Kant ("À Paz Perpétua") e Wittgenstein ("Investigações Filosóficas"); Marilena respondeu lembrando Aristóteles (Ética a Nicomaco e o conceito de justiça) ) e um texto de Hannah Arendt, sobre a mentira na política. Acho que Arendt entrou também na discussão em função de uma conversa sobre o poder dos publicitários na política. Em uma entrevista Giannotti disse uma frase que hoje soa premonitória:
“Folha - E o poder da publicidade?”
“Giannotti - É enorme, como na esquerda o poder da burocracia oculta sempre foi enorme. Entre o poder dos publicitários e o dos velhos chefes bolcheviques, prefiro o primeiro. Os publicitários hoje estão em todos os lugares, na esquerda inclusive”.

Se a leitura desses filósofos, naqueles dias, era boa, hoje é mais importante ainda.

O melhor começo é Hannah Arendt, que tem dois textos atualíssimos sobre o tema da mentira na política.
O primeiro: “A Mentira na Política – Considerações sobre os documentos do Pentágono”, publicado no livro "Crises da Republica", Editora Perspectiva, 1973.
O segundo: “Verdade e Política”. É um maravilhoso ensaio, imperdível, que, entre outras coisas discute as relações complicadas entre “fato” e “versão”. Está no volume "Entre o Passado e o Futuro", da Editora Perspectiva, 1972.

Volto ao tema em breve.

domingo, julho 3

Os Colhedores de Algodão

Sábado à noite, no Bar Recanto, na rótula da avenida de acesso à Universidade, fui ver Artur Aguiar e os
Colhedores de Algodão. Artur na guitarra e vocal, Fabrício Fortes no órgao, e mais dois colhedores, um competente baterista e um baixista muito concentrado, mostraram um som muito bom, que incluiu composições do grupo. Espero que continuem tendo espaço para mostrar o belo trabalho que fazem com blues. Foi muito bom escutar os rapazes, que a gente costuma ver na sala de aula querendo saber sobre Davidson ou argumentos ontológicos, ali no palquinho improvisado sobre um tapete, tocando com a maior compenetração e qualidade.

sexta-feira, julho 1

Chegará o dia?

"Do you think the day will come and students will really read?" Good question. A única coisa que me ocorre pensar, diante do comentário feito abaixo, provocado por Thoureau, é que talvez seja preciso repensar nossas estratégias de estímulo à leitura. Se a leitura é um alimento para o espírito, deve entrar em nós pela boca, pela língua, pelo nariz. Acho que é o tipo de aprendizado que somente fazemos pelo exemplo. Pelo ouvido, duvido. Só ensina quem aprende, disse a professora Grossi.