Os filósofos, a moral e as mentiras
No segundo semestre de 2001, quando se pensava estar vivendo uma crise política no país, alguns filósofos brasileiros fizeram um debate nos meios de comunicação de massa sobre as relações entre ética e política, que ficou conhecido como o debate sobre a “zona cinzenta da amoralidade”. O jornalista Luis Nassif, num artigo da Folha de São Paulo em 1 de junho de 2001, intitulado Moralismo e Política, assim descreveu o clima daqueles dias: “Nos últimos dias pegou fogo a discussão sobre moral e política, provocada por artigo do filósofo José Arthur Giannotti. No entanto o tema é relevante para reflexões adequadas sobre o que esperar do futuro da política, do direito e do jornalismo. O filósofo não defende os atos imorais, os crimes, as reportagens passíveis de punição penal. Ele fala acerca de uma zona cinzenta, de amoralidade, praticada por todos os partidos indistintamente. O que vem a ser a zona cinzenta? As barganhas políticas, por exemplo, que são elementos intrínsecos à atividade política. Empresas, quando colaboram com caixinhas políticas de candidatos - seja de FHC, Lula ou Bush -, esperam, no mínimo, boa vontade para seus pleitos. Deputados federais, estaduais e vereadores, quando apóiam presidentes, governadores ou prefeitos, buscam, em troca, benefícios para seus aliados - sejam eleitores, regiões ou empresas que os apoiaram.”
No contexto daquela discussão alguns filósofos e textos foram citados. Giannotti indicou Kant ("À Paz Perpétua") e Wittgenstein ("Investigações Filosóficas"); Marilena respondeu lembrando Aristóteles (Ética a Nicomaco e o conceito de justiça) ) e um texto de Hannah Arendt, sobre a mentira na política. Acho que Arendt entrou também na discussão em função de uma conversa sobre o poder dos publicitários na política. Em uma entrevista Giannotti disse uma frase que hoje soa premonitória:
“Folha - E o poder da publicidade?”
“Giannotti - É enorme, como na esquerda o poder da burocracia oculta sempre foi enorme. Entre o poder dos publicitários e o dos velhos chefes bolcheviques, prefiro o primeiro. Os publicitários hoje estão em todos os lugares, na esquerda inclusive”.
Se a leitura desses filósofos, naqueles dias, era boa, hoje é mais importante ainda.
O melhor começo é Hannah Arendt, que tem dois textos atualíssimos sobre o tema da mentira na política.
O primeiro: “A Mentira na Política – Considerações sobre os documentos do Pentágono”, publicado no livro "Crises da Republica", Editora Perspectiva, 1973.
O segundo: “Verdade e Política”. É um maravilhoso ensaio, imperdível, que, entre outras coisas discute as relações complicadas entre “fato” e “versão”. Está no volume "Entre o Passado e o Futuro", da Editora Perspectiva, 1972.
Volto ao tema em breve.
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