Não existem fatos, apenas versões.
“Não existem fatos, apenas versões.” A frase não apenas faz bonito em alguns salões, como tem um lado tentador. Quem é que nunca flertou com a idéia que os fatos somente existem dentro de opiniões e interpretações? Ora, fatos? Haverá uma linha de fronteira entre fato, opinião , interpretação?
Retomo aqui um trecho da filósofa Hannah Arendt:
“Clemenceu, pouco antes de sua morte, travava uma conversa amigável com um representante da Republica de Weimar sobre a questão da culpa pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. “-O que, em sua opinião – perguntou este a Clemenceau – pensarão os historiadores futuros deste tema espinhoso e controverso?” Ele replicou: “Isto não sei. Mas tenho certeza de que eles não dirão que a Bélgica invadiu a Alemanha.” Aqui estamos interessados em dados dessa espécie, brutalmente elementares e cuja indestrutibilidade tem sido admitida tacitamente até mesmo pelos seguidores mais extremados e rebuscados do historicismo.” (Hannah Arendt, “Entre o Passado e o Futuro”, p. 296).
“Dados brutalmente elementares”, por certo, dependem de nossa educação, de nossas informações confiáveis, de testemunhos inquestionáveis. Poucos jovens de hoje podem partilhar a graça do que ela diz, pois pouco sabem sobre as origens da Primeira Guerra, sobre o fato que a pobre Bélgica nada poderia contra a poderosa Alemanha. Seria preciso adaptar o exemplo para os dias de hoje.
“Dados brutalmente elementares” são como que as dobradiças das portas, como diria o filósofo favorito de Giannotti, Ludwig Wittgenstein: a gente conta com elas, nem fica pensando nelas. A gente conta com eles, não duvida deles. Para duvidar de alguma coisa, é preciso acreditar em algo.
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