Duplex cor
Filosofar é um trabalho duro, senão, veja só: uma coisa aparentemente fácil e pequenina, como dizer o que é “mentir”, subitamente revela algumas dificuldades não desprezíveis.
Eu achei que Mariel estava na boa trilha quando disse que a mentira pressupõe uma intenção. “Estar na boa trilha”, por certo, é apenas o começo da caminhada, mas já é algo. Fui conferir o início do livro do primeiro filósofo que se dedicou a pensar sistematicamente sobre o tema; o que posso dizer é que uma fenomenologia da mentira parece ser mais complexa do que parece. O filosofo é Agostinho, o livro dele chama-se “Sobre a Mentira” (que é citado pela Sissela). As primeiras caracterizações que ele nos oferece da mentira são de tipo negativo:
“Nem toda pessoa que diz uma coisa falsa mente, se ele acredita ou opina que é verdade aquilo que diz”.
Agostinho usa a expressão “duplex cor” para apresentar sua primeira caracterização da mentira:
“Diz uma mentira aquele que, tendo uma coisa na mente, expressa outra distinta com palavras ou com qualquer outro signo. Por isso se diz que o mentiroso tem coração duplo (duplex cor), quer dizer, duplo pensamento (duplex cogitatio)”.
Mas aí alguém sugeriu que a "intenção vem dos fatos, e não dos sujeitos", e eu empaquei.
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