quinta-feira, julho 14

Raízes da corrupção

O sindicato dos professores pediu quinze linhas sobre as raízes da corrupção em nosso pais. para o próximo jornal.
Pensando sobre o tema, me lembrei de uma citação famosa do filósofo Isaiah Berlin, sobre os ouriços e as raposas. Ele criou a frase a partir de um fragmento do poeta grego Arquíloco: "A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma grande coisa." Isaiah Berlin diz que a divisão entre ouriços e raposas diz respeito a dois modos dos seres humanos, em geral, tentarem compreender as coisas. Ele dá como exemplo de ouriço, na filosofia, Platão; Aristóteles seria raposa. O critério é o seguinte: "os ouriços tendem a ver uma única explicação causal para tudo, e o que vêem adaptam a ela. As raposas, ao contrário, tendem a encontrar explicações diferentes em cada nova coisa que encontram." Na modernidade (e em muitas filosofias) parecem predominar os ouriços.
E para a corrupção, vamos fazer conversa de ouriço ou de raposa?
Sérgio Buarque de Holanda, no Raízes do Brasil, um livro de 1936, conta o que ele chama de “anedota”: um negociante da Filadélfia, que viajou e trabalhou pelo Brasil e pela Argentina, verificou que nessas regiões do mundo, se você quer conquistar um freguês, deve começar por fazer dele um amigo.
Entender as causas da corrupção no Brasil depende, entre muitas coisas, da gente rir ou não dessa “anedota”. A dificuldade de ali reconhecer uma anedota faz parte da nossa dificuldade de entender as causas da corrupção.
Há uma outra passagem do livro que eu gostaria de lembrar.
“Dos amigos (...) tudo se pode exigir e tudo se pode receber, e esse tipo de intercurso penetra as diferentes relações sociais. Quando se quer alguma coisa de alguém, o meio mais certo de consegui-lo é fazer desse alguém um amigo. O método aplica-se inclusive aos casos em que se quer prestação de serviços e então a atitude imperativa é considerada particularmente descabida. O resultado é que as relações entre patrão e empregado costumam ser mais amistosas aqui do que em qualquer outra parte”.
Por exemplo,a relação de professor e de aluno é uma relação de amizade?
As raízes da corrupção estão nas raízes do Brasil.
E não existe uma saída: existem ruas, praças, avenidas, e a imprensa livre. Isso não é pouco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Anônimo 30 (por gentileza, se houver mais anônimos, utilizar outro código).
Seguindo pelo assunto "corrupção",
as luzes, em Brasília, estão sobre algumas personagens interessantes. Mas o maior dos protagonistas desse imbróglio é o povo. Que é povo? Façamos, cada um de nós uma bem cuidada e sincera retrospectiva sobre o nosso exercício enquanto eleitores. Quem de nós soube (sabe) eleger um candidato senão usando em última hora alguma ideologia barata, que em absoluto muda nada, algum interesse classista ou uma inadvertida alienação. Quem de nós acompanha os mandatos dos seus candidatos (de maneira pessoal e fiscalizadora)? Somos, aproveitando a anedota lembrada pelo Ronai, bons amigos da corja. Somos bons fregueses. Entregamo-lhes uma PROCURAÇÃO para fazer o que bem convier. Está mais que em tempo de pensarmos como podemos fazer para adquirir FORNECEDORES mais fiéis. Ou nos interessa que tudo permaneça como está, porque não há forma de mudar este estado de coisas?

Anônimo disse...

Anônimo 30 - errata
Coloca-se "?" após alienação; "Está mais que em tempo de pensar..."