segunda-feira, julho 18

Filosofia na mídia, em rede nacional

O nome do rapaz é Alexandre, emigrante de Cacimba de Dentro, Paraíba, para a paulicéia. O retirante se deslumbra com São Paulo, um mundo novo e estranho para ele, que não faz muita idéia do que lhe pode acontecer. "Ser ou não ser", o novo quadro que começou a ser apresentado no Fantástico, a partir do último final de semana, foi vendido como um espaço de filosofia, apresentado pela filósofa Viviane Mosé, e começou com a história de Alexandre, o pequeno paraibano de Cacimba que se espanta com a metrópole. O gancho servia para falar em Aristóteles, que relaciona a atitude filosófica com o espanto. O gancho, é fácil ver, é muito fraco; o espanto de Alexandre diante do tamanho dos edifícios provavelmente nada tinha de filosófico.
A seguir surgiu o tema da morte, o tema da natureza e das grandes tragédias humanas; o ser humano foi apresentado como um animal diferenciado, pois é o único que tem consciência de sua morte, o que o leva a se colocar perguntas sobre afinal de contas, o que importa? Como se deve viver?
A Filosofia foi apresentada pela Sra. Mosé como um espaço de construção de nosso lugar no mundo, onde se elaboram perguntas e respostas sobre grandes temas, como esse da diferença entre o homem e o animal. Entre essas e outras, termina o quadro - relativamente longo, uns dez ou doze minutos, não contei - com o anúncio que, daqui para a frente, todos os domingos, teremos filosofia na tevê,para milhões de telespectadores. O próximo tema será a relação entre trabalho e erotismo.
Nunca havia ouvido falar na dona Viviane Mosé, que se apresenta como filósofa, psicanalista, poeta.
Acho que não foi ruim.

4 comentários:

Anônimo disse...

Também não achei ruim o quadro do fantástico sobre Filosofia. O caminho escolhido para a abordagem me pareceu muito semelhante à apresentação da filosofia pela Marílena Chauí, no seu "convite à filosofia". Esta também inícia lançando mão das evidências do cotidiano e de questões corriqueiras para apontar que, após um devido distanciamento e aprofundamento, se realiza a "atitude filosófica". Considero um início promissor a opção de dizer que as questões filosóficas "estão aí". Me lembro sempre do professor de Introdução à filosofia que me disse que Stanley Cavell havia dito que "a filosofia é um pensar aprofundado e sistemático sobre aquilo que geralmente se pensa distraídamente" (se não é bem isso, é quase isso). Cabe observar, neste momento, o poder perigoso que esses profissionais da educação possuem. São capazes de nos fazer reproduzir idéias sem a confirmação da fonte. Bem, depois dessa advertência, voltemos ao ponto. Embora eu particularmente não saiba onde nem quando a definição de Cavell foi apresentada (quem quiser saber mais, procure o professor de "Introdução à filosofia" mais próximo, desde que ele conheça os filósofos analíticos, em outros tempos também conhecidos como "reis da cocada preta), penso ser eficiente, para fins de divulgação da filosofia, mostrar que os conceitos usados ordinariamente nas nossa crenças, dúvidas, espantos,etc., tornam-se objetos de estudo dessa disciplina, quando tematizados. Ou seja, o mérito do progama foi indicar que as qustões filósoficas estão acessíveis a todos aqueles que se espantam com o próprio pensamento. Certa feita, perguntei para um professor meu que fazia um palestra, o mesmo que havia me falado sobre o Cavell, que tipo de diferença existe entre o "homem comum", quando este se espanta com a vida e com o seu pensamento sobre ela, e o chamado "filósofo profissional". Numa resposta sofisticada, ele me deu a entender, se é que eu entendi bem, que a diferença era de gênero, isto é, aquilo com o que se ocupa o "homem comum", quando do seu espanto, é uma atividade de natureza diversa daquilo que se ocupa o "filósofo profissional", quando de suas construções conceituais. A resposta não me satisfez plenamente. Tenho a impressão que a diferença que se apresenta é de grau, pois, caso contrário, eu não poderia concordar com a definição de filosofia que Cavell oferece, tampouco aceitar que que as questões filosóficas "estão aí", acessíveis a todos àqueles que se dão conta do próprio pensamento. Por acreditar nisto e na definição de Cavell, acho possível e simpatizo com intenções que visam a divulgação da filosofia, como se fez no Fantástico. Devemos, obviamente, ser cautelosos quanto a emissão de juízos, pois foi apenas o primeiro capítulo da série.

Anônimo disse...

Muito bem Prof. Adriano. Lembra bem das aulas do Professor de Introdução à Filosofia e não consegue disfarçar a sua admiração pelo mesmo.Tens toda razão, também admiro muito este professor. Quanto ao Programa, discordo de vocês, não gostei muito, tinha uma expectativa maior. Como divulgação da Filosofia acho válido, todavia, temo que seja mais uma razão para preconceitos do tipo "que saco esse 'papo cabeça' domingo à noite", ou ao contrário, "será que filosofia é essa coisa tão banal". De qualquer forma acho que estamos na moda, a questão é saber se isso é bom ou ruim? E o que acham do destaque na mídia do Lou Marinoff (Mais Platão, menos Prozac?)

Anônimo disse...

Anônimo 30 do 4
Sílvia Capaverde,parece-me que você está preocupada com "o real reduto da filosofia" (seu pronunciamento devia confirmar a sua deferência com a filosofia mencionando-a com "F" maiúsculo, mas isto não se confirmou, por isso acho que me engano nas minhas impressões quanto ao seu pronunciamento). Pensando em termos de gênero e grau, como dizia Adriano, quem sabe dentro da Academia há gêneros e graus próprios a ela. Na vida (lá fora) há gêneros e graus únicos a ela. Ambas, vida e Academia, devem se interseccionar, e devem beber uma da fonte da outra. Veja, pelo menos para mim, quão bem faz uma declaração com a do Cavell. Como bem demais deve fazer ao mais humilde quando descobre que leva sua vida e cria seus filhos e convive com os seus vizinhos muito parecidamente com a que apregoava Platão

Anônimo disse...

Pois eh! também vi o quadro e também achei que não estava muito ruim. Também vi relação com os manuais de filosofia, inclusive eu mesma já havia trabalhado com meus alunos do ens. médio esses temas e comentamos a relação. porém, a partir da conversa com os alunos encontrei9 alguns problemas: ficou meio enrolado, deu voltas e deixou a sequencia meio confusa(a não ser o óbvio: que a filosofia começa com o espanto). Também falou de pensamento e de linguagem (supostamente o que nos diferencia dos animais), mas não definiu e nem reestabeleceu conexão com o que havia falado antes, o que para os alunos ficou confuso (ao menos aos meus). Por isso, sou obrigada a concordo com a Sílvia de que possa ser visto como mais um quadro chato, ou, o que acho pior,sujam frases como: "ah filosofia é essa coisa mesmo que a gente nunca entende e que os loucos fazem". Também lembro das aulas de introdução à filosofia e lembro de um texto do Monteiro Lobato que o "querido professor" nos mostrou, no qual a Emília definia o filósofo como "um homenzinho baixinho, feinho e sujinho que fala um monte de coisas que a gente nunca entende". Tenho medo desses esteriótipos e principalmente deste. Ainda assim,sou otimista, acho que pela divulgação da filosofia vale o risco. Fora isso, sobre a Viviane Mosé, já a conhecia. Ela é muito famosa no Rio de Janeiro. Ela tem uma espécie de escola de filosofia, que na verdade são uns grupos de estudo, onde as pessoas pagam "fortunas" para assistir as aulas dela. Ela tem alunos nada mais nada menos que Aracy Balabanian, Marília Pera e outros menos conhecidos. Parece que a especialidade dela é em Nietsche e algo relacionado a Psicanálise. Fora isso ela é uma poetisa (faz umas poesias meio psicológicas) e tem trabalhado bastante neste sentido de "popularizar" a filosofia. Ao que tudo indica, para ela, a filosofia está diretamente relacionada a nossa compreensão do mundo, o que vai de encontro mais uma vez com a concepção do Cavell (e do Ronai) de que é uma "educação de adultos". O tema do proximo programa tem uma forte razão de ser, já que ela também é psicanalista e esperemos para ver o que será. Acho que academicamente e conceitualmente os programas poderão ser pobres, porém como uma introdução à filosofia para não filósofos... (de todas as classes sociais, credos etc, já que o fantástico atinge um público muito heterogêneo) pode ser um bom começo. Só para constar, numa poesia da Viviane há uma definição de culpa que acho espetacular: "culpa é você afiando facas, se enfiando facas, se facafiando".