quarta-feira, maio 30

Vai longe




Imagens do saguão da Reitoria. As barracas apenas começavam a ser instaladas. Pelo que vi não pretendem sair muito cedo.

As bandeiras


Ali vão mais alguns alunos, carregando os colchões. Eles pretendem ficar bastante tempo, ao que parece. No meio da tarde alguns grupos passaram em salas de aula, pedindo auxílio em forma de comida, por exemplo. O mosquitinho pedia a doação de arroz, macarrão (tipo parafuso), guisado de segunda, óleo, cebola, molho de tomate, geléia, manteiga, açúcar, café solúvel, chá mate, farinha de mandioca, farinha de trigo e batata inglesa.
Há muito amido e pouca proteína nessa dieta.
Um estudante me passou o panfleto com as reivindicacões. A mais importante dela é o "cancelamento imediato das negociações de privatização do Prédio de Apoio". Depois dela vem a ampliação do RU. E na sequência, mais vagas na casa do estudante para a pós-graduação, conversão de bolsal de trabalho em bolsas de ensino, pesquisa e extensão, ampliação da biblioteca, ampliação das bolsas de iniciação científica e por aí vai. Há um item que pede "o fim da corrupção da FATEC, segundo indícios já levantados pelo Ministério público Federal".

Reitoria ocupada


Desde hoje a tarde estudantes da UFSM ocupam o saguão da Reitoria da UFSM. Vão passar a noite por lá. Instalaram barracas no saguão do prédio e montaram um fogão para fazer a janta. Quando passei por ali, depois de minha aula, haviam uns quarenta estudantes, muitos já com cobertores e colchões para se garantir, que a noite promete ser fria. Pelo que entendi, a decisão de ocupar a Reitoria foi tomada hoje, na assembléia feita ao meio-dia, no RU, e materializada no meio da tarde.

quinta-feira, maio 24

Temporada de Outono


Está aberta a temporada de outono de 2007. Na terça-feira, desde as sete horas da manhã, servidores da UFSM fizeram o tradicional funil de panfletagem, para expor as razões da indignação com as "malvadezas do Governo Lula", como dizia uma senhora no megafone. Indicam o início de uma greve no dia 28 próximo, segunda-feira. A pauta, pelo que se comenta, está distribuída entre a revolta por uma classificacão de cargos muito mal feita para os servidores de nível superior e as costumeiras bandeiras gerais, entre as quais as famigeradas acusações de privatização disso e daquilo. No momento, o alvo da vez são os hospitais universitários. Parece não vai ser greve de bojo, isto é, no geralzão do serviço público, e sim localizada nas Ifes. Vai ter jogo duro, então. De um lado, é muito possível que um grupo forte-firme-e-coeso de servidores sustentem um núcleo de paralização que, congelando o RU e a Biblioteca causam um barulho danado. De outro, o Lulinha deixou de lado a paz e o amor e disse, faz poucas horas, que servidor público que faz greve e recebe salário na verdade está em férias, e acena para o corte de salários. Porta-vozes do MEC anunciam que a greve é um "problema de governo", o que significa que fica descartado um tratamento em casa, à boca-pequena.
Na sequencia, por volta de onze e meia de hoje, os estudantes trancaram a ponte da avenida principal da Universidade. Era uma assembléia de protesto contra aquilo que está escrito ali na faixa: ampliar o RU, não vender o prédio de apoio. Dali seguiram em passeata até a Reitoria onde passaram a tarde da quinta-feira rufando tambor e ufanando as causas.
Semana que vem deve ter mais, como é tradição no outono.

domingo, maio 20

Estado Laico

Domingo, meio-dia e vinte. Ligo na Rádio Universidade, 800 AM. Um pastor prega, fala sobre as atividades da sua Igreja. A Rádio da Ufesm decididamente entregou parte de sua programação para algumas confissões, e faz isso diariamente, com mais intensidade aos sábados e domingos.
Com a visita do Papa, voltou o debate sobre o estado laico. Por aqui, ao que parece, a voz da assembléia de Deus vai bem obrigado, nas ondas da Rádio. Que negócio é esse de estadolaico?

Iris Murdoch

O sítio "Crítica na Rede" (criticanarede.com), coordenado por Desidério Murcho, acaba de publicar minha tradução de Iris Murdoch, "Sobre Deus e 'Bom'".

quinta-feira, maio 17

Castoriadis e as profissões impossíveis

Tem mais sobre as "profissões 'impossíveis'" no blog sobre ensino de filosofia, link ao lado: uma releitura do "métèque" Castoriadis.

O Labirinto do Fauno


Levei um soco no estomago meses atrás, quando um estudante de Filosofia deixou escapar que sonhava com um sistema educacional no qual não houvesse lugar para contos de fadas e papai noel, no qual predominasse a realidade, simplesmente. Meu estômago ainda dói ao lembrar essa conversa e talvez o do aluno também, espero. Lembrei ao estudante que um tal sistema roubaria das crianças a própria infância, mas ele não me pareceu comover-se muito; nos despedimos e pensei em tratar do tema de forma mais demorada e sutil em outro momento. Enquanto pensava nessa condenação da imaginação humana li um texto muito bonito do Daniel Galera sobre o filme "O Labirinto do Fauno", de Guilhermo del Toro, que poderia ser o recomeço dessa conversa. Quem sabe a gente passa o filme no Curso uma hora dessas?
Vai aqui o texto do Galera:
“O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro, é o filme mais triste que já vi. Saí do cinema massacrado, e acho que o mesmo deverá ocorrer com qualquer pessoa cuja história pessoal esteja profundamente contaminada pela fábula (não no sentido de fábula infantil com moral, mas no sentido mais amplo de narrativa imaginada, de aceitação visceral da fantasia como um dos componentes essenciais da vida). Muitos vão gostar do filme - é graficamente lindo, é cruel e sádico, é assustador (contendo, inclusive, a criatura fantástica mais assustadora que já vi na tela), é protagonizado por uma menina adorável, tem excelentes atores no todo, comove qualquer um até a medula e consegue, sem ser chato em nenhum instante, combinar tudo isso com uma abordagem extremamente rancorosa dos traumas da guerra civil espanhola. Mas suspeito que apenas alguns sairão abalados pelo golpe final, uma declaração quase insuportável de que a realidade e a imaginação estão divididas por um abismo instransponível e já não podem ajudar uma à outra nos dias de hoje; de que só resta, à imaginação fantasiosa, a nobre função de fuga dos horrores da vida real; de que uma e outra não podem mais andar de mãos dadas. A ficção está morrendo, ou, para não soar dramático demais, cada vez mais perdendo o valor (”O seu livro é autobiográfico?”, me pergunta um fantasminha nesse momento, com um sorriso cheio de sarcasmo estampado na cara - ele sabe, como eu, que a resposta não existe). É um diagnóstico doloroso, que consegue ser belo somente no sentido de que temos um autor de cinema capaz de reconhecer o estado moribundo em que se encontra a fábula e de transformar esse triste fato num filme implacável."

quarta-feira, maio 16

Orientar as crianças

Postei no outro blog, sobre ensino de Filosofia, as passagens de Freud sobre as profissões impossíveis; foi junto uma frase dele sobre o objetivo da educação.

segunda-feira, maio 14

Jacques Bouveresse e a patrulha ideológica

Aos poucos Jacques Bouveresse é publicado no Brasil. Há dois livros dele por aqui, "Prodígios e Vertigens da Analogia - o abuso das belas letras no pensamento" (Ed. Martins Fontes) e "O Futuro da Filosofia", Editora Atlantica. Nascido em 1940, professor no Collège de France, foi dos primeiros franceses a estudar seriamente Wittgenstein, e tem um punhado de livros dedicados a ele. Agora publicou na França um livro sobre um tema muito atual: "Podemos não crer? Sobre a verdade, a crença e a fé". No domingo, ontem, a Folha publicou uma entrevista com ele. Selecionei alguns trechos:
"FOLHA - O filósofo Renan não identifica o progresso ao desaparecimento gradual da religião e "pensa não somente como uma possibilidade mas como certo e inevitável, como um progresso da religião". O sr. pode explicar o que ele via como progresso da religião?
BOUVERESSE - Renan pensava que as religiões nasceram pelo fato de a humanidade ter necessidade de saber, num momento em que não dispunha ainda de meios suficientes. A força da ciência está justamente em ser capaz de esperar e, enquanto espera, renunciar a toda certeza prematura.
Quando se torna possível saber, necessariamente a religião se transforma, mas não há nenhum motivo para pensar que ela desaparecerá, e Renan não desejava que ela desaparecesse.
O que é difícil é saber o que subsistirá da religião tradicional e se isso merecerá ainda o nome de "religião". Para Renan, que identificava a oração à especulação racional, um pensador autêntico não pode deixar de ser, no fim das contas, um homem religioso num sentido que ainda é, provavelmente, indeterminado.
O progresso da religião, tal qual ele o concebia, consiste numa redução progressiva da religião ao seu núcleo racional.
A única religião aceitável e a que ficará no fim das contas é o que podemos chamar a "religião da humanidade" (em vez da religião da divindade)."
(...)
"FOLHA - O senhor cita Habermas, que escreveu: "As tradições e as diversas religiões conquistaram uma importância política nova, inesperada até hoje, desde a mudança marcante dos anos 1989-1990". A volta da religiosidade e o crescimento dos fundamentalismos de toda espécie seriam, então, conseqüências do fim do comunismo e da utopia da construção do paraíso na terra?
BOUVERESSE - Não são unicamente conseqüência do desmoronamento do comunismo.
Mas, na medida em que este funcionava em grande parte como uma religião da salvação de caráter leigo e profano, sua derrocada deixou um vazio que um retorno à religião, no sentido tradicional do termo, pode dar a impressão, certa ou falsa, de estar em condições de preencher."
(...)
"FOLHA - Existe hoje uma patrulha ideológica contra os não-crentes?
BOUVERESSE - Hoje, são freqüentemente os não-crentes que podem parecer atrasados (que são acusados de defender posições consideradas "cafonas", o que, hoje, é considerado o argumento mais consistente).
Mas isso não é o mais preocupante, e sim o fato de que não são as pessoas que crêem cegamente que são vistas como intolerantes, mas, sim, as que não crêem e que pedem justificações e provas.
No mínimo, o que se pode dizer é que a credulidade leva mais facilmente ao dogmatismo e à violência do que o ceticismo."

Na próxima postagem tem mais.

sábado, maio 12

O Senhor Keuner

"Ao acabar de ler um livro de história da filosofia, o senhor K. emitiu um juízo desfavorável sobre as tentativas dos filósofos para apresentar as coisas como fundamentalmente incognoscíveis. “Quando os sofistas afirmavam que sabiam muito sem ter estudado nada”, disse ele, “surgiu o sofista Sócrates a garantir com arrogância que apenas sabia que não sabia. Esperava-se que acrescentasse à frase: porque eu também não estudei. (Para se saber alguma coisa há que estudar.) Parece, no entanto, que nada mais disse, embora os estrondosos aplausos a essa primeira frase, que duraram dois mil anos, chegassem para abafar qualquer outra frase que viesse a seguir.”.
O texto acima é do Bertoldo, o Brecht, aquele chato que, entre outras coisas, não tinha medo de meter a mão nessas coisas.
(O texto está no livro "Histórias do Senhor Keuner". Tradução de Luís Bruhein, Hiena Editora, Lisboa, 1993).

Somente o amor impossivel é verdadeiro

O programa do Sétimo Forum Sul sobre Ensino de Filosofia informa 128 comunicações. Destas, apenas duas trazem palavras como "currículo" ou "didática" no título. O autor mais estudado foi Kant, que consta em 7 comunicações. Nenhum pedagogo ou psicólogo (exceto Paulo Freire, uma vez) foi objeto de estudo. O grande tema do encontro foi a impossibilidade de ensinar filosofia. Como disse um dos professores de além-mar, Prof. Giuseppe, da mesma forma que somente o amor impossível é verdadeiro, é impossível ensinar filosofia, pelo que essas conversas sobre didática da Filosofia são fiadas.
Então tá.
Começou assim.

terça-feira, maio 8

Chão da Escola

Saiu o livro "Filosofia e Sociedade: Perspectivas para o ensino da Filosofia", organizado por Sergio Sardi, Draiton Souza e Vanderlei Carbonara, publicado pela Editora Unijuí. Já tenho meu exemplar, gentilmente enviado pela Editora. Esses rapazes de Ijuí são incríveis! Com uma infra-estrutura muito enxuta, fazem proezas como essa! O livro tem 568 páginas, um tijolaço.
Folheei o livro. Fiquei com a impressão de haver mais filosofia e sociedade do que perspectivas para o ensino de filosofia, na linha do que venho dizendo faz muito tempo: mingau pela beirada. Poucos autores dialogam com o professor que está na sala de aula; a maioria quer aprofundar o debate teórico, como se diz. A menor seção é justamente a de "praxis do ensino de filosofia".
Vou ler com cuidado e volto.

Minima Moralia

Antes de começar a escrever seu manual de Filosofia para as escolas de Zilbra, ele abriu Minima Moralia ao acaso e deparou-se com a seguinte passagem: "Aquele que ajuda porque sabe mais torna-se alguém que humilha os outros com o privilégio de quem pretende ter sempre razão".
Ele sentiu correr um fio de frio pela espinha.

segunda-feira, maio 7

"Daqui para frente"

Deu no Jornal do Comércio, no dia 17 de abril passado: O título era "Primeiras medidas":
"O presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, confere hoje em Santa Maria o Programa Trabalhando pela Vida, onde são executados os procedimentos para a obtenção da CNH. Inspecionará o centro de pesquisa ligado à Universidade Federal de Santa Maria. Vaz Netto quer transformar o Departamento de Trânsito em modelo de gestão, tarefa que será desenvolvida daqui para a frente pela Fundae."
Daqui para frente é com a Fundae.
O assunto é de foro interno da Ufesm, alguém diria. Ou do Governo da dona Ieda?
Nesse caso, alguém lembra de algum TV Campus sobre o tema? A comunidade agradeceria saber mais sobre esse triângulo amoroso, para espantar as naturais curiosidades mal-sanadas.
"Centro de pesquisa".
Eita frio danado, só mesmo indo no mercadinho da esquina e comprando um Sangue de Boi.

Afundações

Na Folha de domingo, dia 6, Maria Sylvia de Carvalho Franco critica a interferência do governo estadual de São Paulo na gestão das políticas de ensino superior. Lá pelas tantas ela escreve que "via fundações, as universidades públicas privatizam-se, mediante convênios, suplementos salariais e cursos pagos. Para bem ou mal, todo o complexo até agora esteve sob asas acadêmicas. Não mais. Atentem para esse detalhe, os adeptos do modelo."
Como se sabe, aqui na Ufesm a gente convive com esse modelo, que começou mais para bem. Não conheço muito, posso falar pouco; lendo a Sylvia lembrei de ter lido ou ouvido algo que o Detran do RS teria rompido o convênio firmado com a Fatec, por volta de 2004. É dinheiro grosso, na época os jornais disseram que entraria por mês um milhão e meio de reais na Fatec. Leia matéria do Diário de Santa Maria, do dia 23 de julho de 2004: "A Fatec recebe cerca de R$ 1,5 milhão por mês do Detran, que encaminha à fundação parte do que é arrecadado nos centros de formação de condutores (as antigas auto-escolas). Parte desse montante - 7,5 % - vai para a universidade, que recebe, em média, R$ 100 mil mensais." De google em google descobri, se entendi bem, que agora a conveniada é a Fundae, daqui de Santa Maria também.
Pobre Maria Sylvia, da missa sabe quanto?
Se ela soubesse o frio que faz por aqui não se queixaria tanto.

Verde

O post abaixo saiu verde assim porque o bloguista havia tomado muito chimarrão. Desculpem.

Manual de Filosofia em Zilbra

Vai ter filosofia em Zilbra. Em Zilbra, quem menos corre anda de avião. Mais de um grupo de professores já deu as caras no Ministério da Educação, em Zilbrápolis, para fazer propostas de manuais de ensino de filosofia para todo o país. Outros grupos, mais moderados, pretendem se reunir brevemente para, como se diz, "tirar um programa mínimo unificado" de ensino de Filosofia e Sociologia, para todo o Zilbra. Mais ao sul, na Província de São Pedro, faz frio. O clima é ótimo para filosofar, aqui no Sul.
Esses assuntos de ensino são muito chatos, comenta-se aqui no Sul.
Deleuze-me uma preguiça daquelas!
Acho que a gente devia votar.
Quem quer manual levanta a mão!
Quem quer programa, levanta a mão!
Quem está com preguiça levanta a mão!
Depois disso a gente colocava todos esses aí no mesmo avião e deixava-os nas mãos dos controladores de vôos.
E largava toda essa gente a voar por aí.
E se sobrasse alguém que ainda quem quisesse trabalhar, a solução seria ir para as escolas de Zilbra, conversar com os professores e ver o que dá para ser feito.
Tem uns que pensam que currículo é aquele negócio que lattes mas não morde, e o negócio é faturar um manualzinho depois de outro, que a professorada é burra mesmo; outros pensam que lista de assuntos é um negócio muito do progressista, um derridá por aqui e um sartre por lá que tudo vai melhorar. Me dá uma preguiça aí que já estou cansado, dizem os terceiros.
Eita Zilbra. Como diria o Marquês, vai ser preciso muito mais do que um esforço...

Marcia Angelita


Marcia Angelita Tiburi esteve em Santa Maria, na Feira do Livro, no sábado, tardezinha, o sol deixava essa pouca luz para fotografar; ela vinha muito aqui nos tempos dos seminários de estética do Prof. Hamm. Antes do lançamento deu fala nos jornais, elogiou a presença da Filosofia no vestibular aqui da casa e ganhou de novo minha simpatia. Eu, que torço por ela no Saia Justa (e pela Soninha...) torcia para que os feirantes fossem generosos; pois não é que a moça vendeu exatos trinta exemplares e virou uma das recordistas?