Explica, mas não justifica
A decisão do sindicato dos professores municipais de Santa Maria, de não levar os alunos para o desfile de sete de Setembro me fez lembrar uma frase que meu pai usava, de vez em quando. Ele deve ter aprendido ela com o meu avô, que deve ter aprendido com meu bisavô e assim por diante. A frase é essa: “explica, mas não justifica”. A gente usa essa frase quando escuta alguma explicação que mais parece uma desculpa. Por exemplo, alguém faz alguma coisa que, em algum sentido pode ser polêmica, discutível ou mesmo condenável, mas mesmo assim a pessoa acha que pode explicar o que fez. Ou seria melhor dizer que a pessoa acha que pode justificar o que fez? Alguns políticos do PT, por exemplo, dizem que todo mundo fazia caixa dois, porque as campanhas são caras e as leis não são boas, etc, e se todo mundo faz, nós somos mundo também, etc. Aí vem o ditado: até explica (a carne é fraca, etc.) mas não justifica.
Os professores municipais estão com raiva do prefeito, do secretário, porque não tiveram aumento nenhum; e uma pessoa com raiva normalmente faz coisas para desabafar ou descontar a raiva, e essas coisas podem ser debitadas na conta da raiva, mas nem sempre se justificam. Por exemplo, quando eu dava uma porrada no meu irmão menor, meu pai primeiro me perguntava porque eu tinha batido nele. Aí eu dizia que tinha batido nele porque ele tinha me xingado. Aí meu pai dizia, “explica, mas não justifica”. Explica, porque se xingam a gente, a gente fica com raiva, etc. Mas não justifica, isto é, uma pessoa maior não deve se aproveitar de seu tamanho e força para descer o braço no baixinho. Fazer isso era covardia (“Tamanho homem batendo num pequenininho!”) mesmo que a raiva fosse grande. Eu podia ter motivos para bater, mas não tinha razão; ter motivos é uma coisa psicológica e pessoal: ter razão é uma coisa objetiva, pública, argumentável.
Os professores tem todos os motivos do mundo para protestar contra o governo municipal. Mas a festa é federal, mais do que federal, a festa é da pátria. E ninguém tem razão quando se trata de privar os alunos de sua semana da pátria. A gente até entende a explicação do sindicato. Eles explicam, mas não justificam. E desde quando se coloca criança no meio da briga de gente grande?