O Prof. Sarkis, ex-reitor da Ufsm, rompeu o silêncio que mantinha desde a madrugada do dia 6 de novembro. Ele divulgou uma nota, por meio de "A Razão", na qual se queixa do tratamento incorreto que recebeu por parte de "jornal local".
O Diário de Santa Maria é o tal jornal local, por certo. O tom geral da declaração é familiar: "Jamais tive ciência de que qualquer atividade dentro desses contratos [Detran/Fatec/Fundae] fosse ilegal ou irregular."
Vai aqui um dos trechos:
"Em todos estes projetos, a minha participação se limitava à apresentação inicial da Instituição e de suas potencialidades na área em discussão. A discussão sobre a forma de operacionalizá-los, orçamento, forma de pagamento, texto de contratos ou outros ajustes, passava a ser feita entre os grupos diretamente envolvidos na execução do projeto. Quando a UFSM era parte nos acordos, os textos dos mesmos eram analisados pelas instâncias legais da Universidade. Quando a Fatec era contratada diretamente, cabia ao órgão interessado e à Fatec definirem os termos dos ajustes, nada tendo a ver, nesses casos, as instâncias da Universidade. Na relação Detran-RS/Fatec, minha participação se deu em duas reuniões ocorridas no Detran-RS. Na primeira, fiz a apresentação da UFSM e de sua qualificação, com base da experiência do Peies. Na segunda, testemunhei a assinatura do contrato Detran-RS/Fatec. Como a Universidade não era parte neste contrato, a sua execução e renovação se deu sem qualquer participação minha. Isto é verdadeiro, inclusive nas renovações de 2006 e 2007, fora do período da minha gestão na UFSM."
O trecho é rico em informações. Como diria Charles Travis, seguindo Frege, questões sobre a verdade dos enunciados são posteriores à questões sobre interpretações. Nesse caso fico na dúvida sobre os seguintes pontos:
a) como compreender a frase "apresentar as potencialidades da instituição na área", se, depois, a operacionalização do projeto parecia depender da contratação de empresas de fora, como a Pensant? A "potencialidade" estava fora da Ufsm, então?
b) a Ufesm não era parte no contrato do Detran, diz o texto; ela então apenas emprestou o terreno para a construção do prédio e emprestou um gerente que pertencia aos seus quadros? Esses empréstimos ocorreram então a que título? E os demais professores e estagiários de cursos da Ufsm que participaram do projeto?
Esse estilo de declarações tem se repetido e tem sido usado pelos atuais dirigentes da Ufms: a Ufsm nada tem a ver com esses projetos, são da Fatec, etc...
Em 2008 devem estourar outros escândalos envolvendo a Fatec. O mecanismo é o mesmo: dinheiro público que é trazido para dentro da Instituição, pela sua respeitabilidade; o dinheiro é trazido com fins nobres, por exemplo, para formação complementar de profissionais na área tal e tal. O dinheiro é guardado na Fatec, e o executor do projeto, algum professor respeitável, toma as decisões administrativas, faz despesas sem licitação, mediante a simples apresentação das notas fiscais. Isso envolve, porém, a estimativa de custos de prestação de serviços, de difícil avaliação. Essa é a porta aberta para um pequeno paraíso. Na origem, normalmente há dinheiro público. Eu digo "normalmente" porque em alguns casos o dinheiro do projeto abrigado na Fatec vem de empresas privadas. Milhões, diga-se de passagem. As empresas privadas usam a Ufsm para certificar produtos, por exemplo. O tempo de trabalho, no entanto, é da Ufsm, e por isso questiona-se, faz muito tempo, a singeleza da interpretação usualmente feita: se o dinheiro é privado, a Ufsm nada tem a ver com isso. Essa interpretação significa o esvaziamento progressivo do conceito de planejamento institucional, pois pesquisa-se aquilo que for demandado no balcão pessoal de negócios do professor.
Um reitor que entende que é bom para a Ufsm meter-se no trânsito tem um estilo. Como ele mesmo diz, que o tempo e a Justiça Federal que o julguem.