sábado, julho 28

A mesa dos conteúdos


No dia 23 à tarde tivemos a mesa sobre conteúdos de ensino, na qual falaram João Carlos Salles Pires e Celso Favaretto. Salles perguntou aos participantes - eram umas trezentas pessoas - quem ali havia lido todas as Orientações Curriculares do MEC. Apenas uma moça levantou a mão. Salles convidou todos a conhecer a totalidade dos documentos, e não apenas o documento da Filosofia, em defesa de uma forma de trabalhar com Filosofia que valoriza a contextualização da escolarização do estudante. Explicou que os conteúdos listados no documento da Filosofia são sugestões que originalmente destinavam-se a avaliar os currículos de graduação, e que não devem ser pensados como conteúdos mínimos de ensino; reforçou os argumentos contrários à política de livro didático privilegiado e em favor de antologias ou livros de referência; as respostas que podemos dar sobre o que ensinar, para um país do tamanho do Brasil, são "precisamente vagas". Salles defendeu uma maior aproximação entre o sistema de pesquisa, composto pela rede de Departamentos e dos cursos de pós-graduacão em Filosofia, e o ensino de Filosofia no médio; contou que ele mesmo está empenhado em trabalhos de formação na Bahia; sem esse tipo de política haverá um progressivo distanciamento com consequencias ruins para ambos.
Celso Favaretto falou a seguir, abordando o tema das condições concretas para a legitimação da disciplina de Filosofia nas escolas. Como podemos e devemos pensar a filosofia disciplinarmente, em termos de aprendizagens filosóficas desejáveis e possíveis para alunos de ensino médio? Reconhecendo as dificuldades de se pensar em conteúdos de filosofia, já que ela, acima de tudo oferece uma certa experiência de pensamento, uma certa orientação de pensamento, ele teve a coragem de se perguntar de seria possível a gente chegar a um acordo sobre algumas funções e conceitos gerais, "coisas muito gerais, muito de base", certos conjuntos mínimos de regras, processos, procedimentos fundamentais, presentes nas argumentações humanas, para, a partir daí, se chegar inclusive aos textos e à história da filosofia. Conceituar, argumentar e problematizar seriam uma tríade de procedimentos a ser focados, valorizando-se uma certa inseparabilidade entre conteúdos e procedimentos filosóficos. Celso não defendeu um consenso sobre conteúdos mínimos, mas sim um acordo sobre uma formação básica que envolve o domínio de "regras de funcionamento que ligam os conceitos"; reconheceu o longo caminho que isso supõe que percorramos. Foi das melhores, a mesa sobre conteúdos.

Nenhum comentário: