sábado, julho 28

Tendências

1. Haverá, penso eu, uma pequena explosão na área de manuais e bibliografias auxiliares; mas o MEC parece ter firmado posição, no sentido de apoiar a elaboração, a cargo da Anpof, de um livro de referência, escrito por professores renomados para professores; o MEC, no caso da Filosofia, não vai indicar livro didático; poderá haver um refinamento das sugestões de conteudos, mas sem imposições de nenhum tipo, pois a realidade não comporta isso; por outro lado, o grupo dos que entendem o ensino de filosofia como "adquirir o instrumental crítico para atuar numa perpectiva transformadora" parece ser ainda muito forte, em especial em São Paulo, e estes estão dispostos a lutar por programas mais definidos.
2. O sistema universitário está alheio ao ensino de filosofia. Nenhum professor da USP ou da PUC de SP foi ao encontro; os palestrantes, em grande parte, apenas davam a palestra e iam embora; não há um clima de produção teórica, não houve nenhuma boa vontade em criar-se uma fórmula que permitisse troca de experiências entre os participantes; é como se todos já soubessem o que fazer, bastando criar-se um momento de expressão e protesto contra problemas conjunturais, como o desinteresse do Estado de São Paulo em apoiar o ensino de Filosofia. Se isso persistir, o ensino de Filosofia no médio cada vez mais será algo que não terá nada a ver com o ensino de filosofia nas universidades; em suma, estamos à beira de um pequeno desastre.
3. Pouco se estuda, pouco se lê; apenas uma pessoa, em todo o evento, em uma das intervenções de dois minutos, fez sugestões de leituras não esperadas; foi um professor de Ribeirão Preto, leitor de Pierre Hadot. Foi comovente e dissonante, em meio aos apelos generalizados por "filosofias da libertação", ufa, ufa e mais bufa.
4. Os palestrantes, felizmente, apontaram para rumos importantes; Salles e Severino foram muito claros em falar em escola, currículo e pressionaram os participantes para sair da casinha filosófica e ler as Orientações Curriculares, as 500 páginas; Gallo, Apel e Favareto também foram objetivos em suas posições, não ficaram comendo mingau pela beirada, o que costuma ser a regra nesses debates. Mas fica-se com a certeza que o caminho vai ser comprido, há muito o que se fazer, em especial, há muito o que se estudar para sair-se da superficialidade.
5. Em especial, a escola continua sendo o alvo do dicionário das idéias feitas. Lucia Lodi teve toda a razão em chamar a atenção para o fato que a Filosofia não pode ir para a escola assim no mais, sem se dar conta dos problemas pelos quais passa o ensino no Brasil, em especial as dificuldades de ensino-aprendizagem.
6. No mais, há muitas diferenças importantes entre Sociologia e Filosofia. Enquanto os sociólogos falavam sem pudor em problemas trabalhistas e sindicais dos sociólogos, os filósofos apenas escutavam, pasmos. Para eles, que trabalham dentro de uma tradição de 2.500 anos, não faz sentido falar em sindicato de filósofos. Tampouco se pode falar em regulamentação da profissão...
7. Dos anões, como diria Mestre Guina, sou o menor; mas não me convidem para conversas gerais; nunca mais ponho meus pés em eventos que, em vez de ensino de filosofia, querem discutir apenas a filosofia do ensino.

3 comentários:

Gisele Secco disse...

Je suis desolé, aussi.
Mais un peu, seulement un peu...

Liliana disse...

Olá, Ronai! Falando em tendências... gostaria de partilhar meu incômodo com a "enturmação" proposta pela Secretaria de Educação do Estado que aqui chamo de ...

Novo jeito de Educar

No dia 13 de setembro de 2006, a então candidata ao governo do Estado do RS, Yêda Crusius, apresentou seu programa de governo para o Estado, no qual há uma proposta de “(...) esforço solidário aos outros poderes para a eliminação do déficit orçamentário do estado, aumentando o investimento público principalmente em áreas estratégicas como educação, saúde, segurança e transportes”. Yêda Crusius venceu a eleição no Estado do Rio Grande do Sul prometendo um novo jeito de governar. Na verdade, o que vemos é um novo jeito de educar.
A Secretaria Estadual de Educação acaba de nos surpreender com a polêmica determinação de unir turmas para lotar classes com até cinqüenta alunos. Medida esta compreensível se considerarmos que a nossa governadora é uma economista e como tal pensa em concentrar as turmas e diminuir os gastos. Entretanto, como governadora do Estado e, como tal, eleita para representar os interesses públicos, parece que a governadora esquece que o que garante o desenvolvimento de um povo é educação de qualidade.
O Estado do Rio Grande do Sul sempre foi respeitado pelos índices de alfabetização, politização, escolaridade, etc. Entretanto, com a nova governadora e seu novo jeito de educar corremos o risco de acabarmos em grandes salas de aula esvaziadas de sentido.

Liliana Souza de Oliveira
Professora de Filosofia
lilifilo@gmail.com

Ronai Rocha disse...

Prezada Liliana,
a 'enturmação' parece ser mais uma dessas decisões que mostram o quanto nossos políticos são indiferentes ao ensino. Esse teto de "até cinqüenta alunos" é coisa de quem nunca entrou em uma sala de aula do ensino médio nos dias de hoje. Como se não bastasse o déficit de metodologias, materiais de apoio, condições salariais, etc, surge agora mais essa "enturmação". Um abraço!