quarta-feira, março 12

O listão da Federal


As universidades por vezes são chamadas de “academias”. Diz o Aurélio que a Academia, que era a escola de Platão, localizava-se nos jardins consagrados ao herói ateniense Academus. Academus é um herói mitológico, um semi-deus que vivia distante do povo, como sugere a etimologia de seu nome: héka (longe, distante), e demos (povo).
Academo age independentemente do povo.
Como é possível administrar uma instituição que já foi definida como um lugar onde os professores e os estudantes fazem o que bem entendem e o reitor leva a culpa? Como deixar de lembrar aqui Aluízio Pimenta, que comparou o reitor a um rei momo?
As universidades atravessam os séculos. Elas ainda continuam sendo instituições especiais, com certos privilégios e charmes ou são apenas empresas como outras? Professores, pesquisadores, acadêmicos são mesmo administráveis? Em que sentido? Dentro de quais limites? Sobre isso, vale lembrar o que o sociólogo italiano, Saverio Avveduto, escreveu sobre as reformas da universidade italiana: “a universidade registrava ritmos de renovação tão lentos que fazia pensar naquele rio gálico sobre o qual César escreveu que se movia tão devagar que não dava para perceber em qual dos dois sentidos ele corria.”
Há, no entanto, uma especificidade do trabalho acadêmico que nem sempre é lembrada, e que faz justiça à história de Academo. Pense no caso de uma equipe de pesquisadores competentes. Eles se dedicam a investigar um certo problema: eles querem mapear a genética de uma certa bactéria. Será que pelo simples fato de ter boas condições de trabalho eles conseguirão descobrir ou provar o que desejam, produzir o conhecimento visado, tendo controle completo do tempo que levarão para atingir os resultados que buscam? Pense no que acontece com as pesquisas de cura de certas doenças.
Pense agora no caso de políticos e administradores, que trabalham com orçamentos e prazos.
No primeiro caso, da equipe dos investigadores, como se dá a relação com o tempo? O quanto o tempo é importante, decisivo? E no segundo caso, a relação com o tempo é do mesmo tipo? E qual a relação com o tempo no caso da formação de pessoas?
Gestores, professores/pesquisadores e estudantes tem, cada um deles, uma relação diferente com o tempo.
No âmbito da ação humana o tempo é uma variável sempre presente, no sentido de que, se não agimos, as coisas agem por nós. No domínio da ação humana, o tempo é um constitutivo absoluto. Ao contrário disso, no âmbito do conhecimento humano, em que se procura descobrir ou estabelecer a verdade sobre isso ou aquilo, o tempo é uma variável externa e não decisiva. Dizendo de outra forma: se não descobrimos o que queremos hoje, quem sabe faremos isso amanhã depois ou ainda depois. Há pesquisas que consomem décadas de trabalho, e não é por falta de dinheiro que não se descobre tal e tal coisa. É apenas porque no âmbito do conhecimento, é assim mesmo.
Por exemplo, para lembrar um assunto da hora, o ex-deputado João Luis Vargas rezou para que a verdade sobre o Detran fosse descoberta. Se ela vai ser descoberta ou não, isso nada tem a ver com as preces do atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, e sim com os esforços de escuta da polícia federal. E azar do Valdemar. Nesse caso, do Luís.
Nos últimos anos, diz a amiga Marilena, a universidade brasileira vem deixando de ser uma instituição para ser uma organização. Preciso reler o que ela escreveu sobre isso. Mas na prática dá pra ver. Só que o sentido de "organização" é bem especial.
Padrão acadêmico, por exemplo, parece ser uma expressão cada vez mais carente de sentido.
Se não é a versão tupiniquim do "publica ou periga", é a tal da entregração empresa-academia. Bem pertinho do povo.
Na sexta-feira vai sair o tal de listão da Polícia Federal, mais esperado do que o resultado do vestibular.
Que venha.
A Universidade de Bolonha tem um cepeéfe de miletantosanos.
A Ufesm tem só uns quarentaepoucos, mas, com um mínimo de zelo administrativo e sensibilidade humana pode se sair bem dessa. Mas seria bom ter mais opinião, né?
A foto é de Jaguarão, RS, onde não há nem sinal dessas tais de universidades. Bem que Jaguarão queria.

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