Palavras
O Claudemir Pereira, dias atrás, falou sobre a experiência de acompanhar de perto o caso Rodin, na medida em que algumas pessoas conhecidas, colegas de trabalho, quase amigos, estão envolvidos. Num caso desses, que não é comum na vida da gente, não dá para encher a boca e ficar falando como se fosse gente lá do planalto central de Zilbra; você pode exagerar na dose, generalizar, e ter que morder a língua logo ali; ou vai cruzar com o cujo na rua e ele pode querer conversar sobre o seu ataque de boquirrotismo. E assim o Claudemir recomendava vagareza no andor e comedimento no clamor. Fiquei pensando no assunto, acho que ele está tapado de razão.
Enquanto isso, recebi uma correspondência de um conhecido, que desgostou de minha crítica ao uso das metáforas de doença em análise política. Isso foi logo depois da Gisele escrever aquela bela nota com a citação da Susan Sontag, maravilhosa. Obrigado, Gisele.
Bom, fiz minhas as palavras de Sontag e acrescentei, na resposta a esse conhecido - ele disse que eu deveria me indignar era com os criminosos, e não com as metáforas! - que ainda não sei bem qual a palavra que eu usaria para qualificar meus sentimentos em relação às pessoas indiciadas no inquérito; é muita gente, de todo o tipo e feitio, com todo tipo de responsabilidade. Acho que seria ruim usar uma única palavra para resumir sentimentos ainda imprecisos, e em qualquer caso ela não seria ainda "indignação", acrescentei; por exemplo, faz pouco tempo que alguns dos alegados chefes da quadrilha eram incensados pela esquerda local, quando se montou o famoso acordo PT-PDT. E eram o protótipo de gente boa, que levava legiões de professores, estudantes e servidores às urnas. Alguns deles estavam em campos opostos ao meu, em termos de política da universidade, e não me interessa misturar as coisas. Pão é pão e beijo é beijo.
Ainda estou tentando entender como chegamos a isso. O delegado Gaspareto, hoje pela tarde, ao explicar que não poderia dizer nenhum nome além dos já revelados, insistiu, no entanto, em chamar a responsabilidade para os ombros do Zé Fernandes, por exemplo. O Zé: tinha horas que eu me pegava com ele, quando ele insistia nas experiências administrativas que inventava e às quais sempre me opus, de forma educada. E tinha horas que eu me orgulhava de votar com ele nos conselhos, defendendo coisas que achávamos progressistas e eu achava que a gente tinha alguma coisa em comum. O que é que eu faço com o Zé agora? Eu não posso decidir de uma hora para outra que devo odiá-lo ou algo parecido.
O Zé é qualquer um de nós, de certa forma.
Como diria o polidor de lentes, não me interessa rir como um tomatinho do campo, ou chorar, eu queria mesmo era compreender. Estúpido como sou, sei não.
2 comentários:
Olha, Ronai... Acho que é por aí, mesmo. Fiquemos com o Zé, teu exemplo, como poderia ser vários outros, da lista que publicarei em seguida no meu sitio.
Que diabo, ele foi meu professor. E boooom professor. E votei nele pra reitor, naquela de 81, que não valeu, lembra? E de uma coisa eu sei: gosto dele. Ou daquele Zé, que faz anos não converso. Mas também não esqueço. Em todo caso, obrigado pelas palavras. E digo mais: pena que a nossa mídia local é emburrecedora (digo isso muuuuito tristemente), pois seria uma chance e tanto, essa agora, para que uns e outros (e nós mesmos, quem sabe) tomassem tento. Abraço fraterno. Claudemir
onde escrevi poderia leia-se poderiam-se. Desculpa. Foi a pressa do jornalista sem revisão. E que precisa colocar os 39 nomes no seu próprio sítio
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