Canção para um entardecer
(...)
Depois de mim, o que será do mundo,
além de mim, o que será que existe?
Nos mistérios da vida onde me afundo
tenho razões de sobra pra ser ser triste.
(...)
O caranguejo quer cortar-me a carne,
afia as garras, mas eu sou de cerno.
Acredito que um dia vá matar-me.
(...)
Ah! que medo que eu tenho da velhice!
Querer fazer as coisas sem poder,
viver do que passou, dizer tolice,
despertar compaixão, fazer sofrer.
Ah! que medo que eu tenho da velhice!
Tenho razões de sobra pra ser triste.
Agarro-me na fé que é turva e pouca
e tento uma alegria, se é que existe
...Só esta alma ingênua e meio louca
que teima em pôr-me um pássaro na boca.
Antonio Augusto Ferreira, Sol de Maio.
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