quarta-feira, janeiro 30

O próprio nome

A revista que comentei abaixo, "Performance Líder", informa o seguinte: "O próprio nome da faculdade [Antonio Meneghetti] se constitui também em uma homenagem inédita, pois é o único caso onde foi atribuído a uma faculdade o nome de um personagem ainda vivo."
A ver, lembra um leitor do blog.
Em Cascavel existe uma Faculdade Assis Gurgacz, www.fag.edu.br
Devem haver muitas outras pelo Brasil afora, não?
Outra: o homem considera-se fundador da tal "ontopsicologia". Ao menos como nome designador de algo em psicologia, a expressão é atribuída na literatura científica a Gordon Allport, e data do final dos anos sessenta. Diga-se de passagem que Allport e outros abandonaram essa expressão.

terça-feira, janeiro 29

Amácio

Amácio Mazzaropi nasceu em São Paulo, 9 de abril de 1912 e morreu em São Paulo, no dia 13 de junho de 1981). Foi um ator e cineasta brasileiro. Eu, criança, não perdia um filme do cujo, quando a mesada alcançava.
É ele ali na foto que abre o blogue.
Quem quiser ver o mural onde está o pedacinho que fotografei no dia da visita da reportagem, vá até a entrada da União Universitária, na Ufesm.
Um leitor do blogue gostou e pediu que eu o deixasse ali.
Deixa o Mazzaropi ali, então.

Rolling Stone


A foto acima é do Araquém Alcântara, uma das feras da fotografia brasileira. O Araquém foi contratado pela revista Rolling Stone, aquela mesma de música, para acompanhar um repórter até uma cidadezinha chamada Colniza, no MT, considerada a cidade mais violenta do Brasil. A média de assassinatos é de 165,3 por cem mil habitantes. A região é uma das principais fontes de madeira ilegal no Brasil. E de cocaína, vinda da Bolívia. Pois a Rolling Stone foi lá e fez uma belíssima reportagem, daquelas do velho e bom jornalismo de investigação. Isso foi no número de Dezembro de 2007. A seção chama-se "Conexão Brasilis" e ocupou oito páginas da revista, incluindo um show de fotos do Araquém como a que está acima.
Em janeiro de 2007 a "Conexão Brasilis" ocupou-se com Belém, camelôs, pirataria, tecnobrega. Mais uma bela matéria, com a competente fotografia de Flavya Mutran.
Dias atrás fui procurado por um repórter da revista, acompanhado de um fotógrafo de quilate igual aos já citados. Estavam na cidade, queriam conversar. A pauta principal da "Conexão Brasilis" era o Padre Lauro Trevisan; o repórter havia lido o blog e queria incluir outros palpites para explorar outros temas - vide blogue - .
Fiquei surprêso com o profissionalismo da revista. Hospedou a dupla no Continental, tinham carro alugado, equipamento de ponta, tudo o que um profissional sonha.
A Rolling Stone parece ter gostado de Santa Maria. Pelo que vi, se fosse por eles, os temas seriam muitos. Visitaram o Recanto Maestro, o Parque Oásis, a UFSM, tiraram fotos do Padre Lauro na frente do reluzente Chrysler 300, enfim, forraram o poncho de material e se foram campo afora.
A ver em abril, eu acho.

O líder

Caiu-me nas mãos um exemplar da revista "Performance Líder". Trata-se de uma publicação da Associação Ontoarte, de São João do Polêsine. A matéria e foto de capa é o "multifacetado Antonio Meneghetti", dono da novel faculdade de administração que hoje publica nos jornais a lista dos aprovados no seu primeiro vestibular.
O Sr. Antonio declara-se um cientista, possuidor de quatro doutorados.
Fico com pena dos doutores; se esfalfam para terminar umzinho doutorado e o Sr. Antonio esbanja quatro, em Sociologia, Filosofia, Teologia e Psicologia. Eu, por exemplo, peno meus pecados para terminar uma tese bem pequena e não consegui até agora. Mas, como o Marquês de Sade diz, não desisto, "encore un effort." Me recolho, então.
Uma pena que as teses do Sr. Antonio não estão disponíveis em nenhuma biblioteca pública.
As opiniões dele, no entanto, estão na revista. São, de fato, bem heterodoxas. Vejamos o que ele diz sobre "família":
"Em curto espaço de tempo teremos o problema da família. Ela resistirá? Não, a família não resistirá. Teremos sociedades que recorrerão à clonagem. Diante das leis da vida somos muito pequenos, muito relativos."
"Quando estive na prisão analisei toda a questão da droga. Eu conheço as coisas por dentro. Portanto, não sou polêmico. Eu digo, as coisas estão assim, vá ver. É inútil discutir, não serve para nada. Na minha evolução, frequentei os grandes colégios internacionais, a máxima formação do mundo, de valores europeus. Não tenho nenhuma estima pela inteligência norte-americana, pelas universidades americanas. Possuo competência, estudo, experiência e preparo através dos meus doutorados. Fui muito amado pelos Estados Unidos, no início. Era uma inteligência que eles queriam comprar para contribuir com seu domínio intelectual."
Vai por aí.
Fui para os livros. Encontrei, por exemplo, isso:
"Dalbosco (1998) afirma que o “cientista-acadêmico”— termo como os discípulos se referem a Meneghetti — recebeu, em 1994, o título de Dr. Honoris Causa, em Física, pela descoberta de algo denominado "campo semântico", que teria sido conferido por uma Universidade Pro Deo, de Nova York - USA, instituição cuja existência não foi possível comprovar. Outra referência informa que a comenda teria sido ofertada pela Universidade de Nova York (Editorial, 1994), o que também não ocorreu. A contracapa de um dos seus livros (Meneghetti, 1999), informa que recebeu um PhD em Ciências Médicas, do qual não foi possível, mais uma vez, obter confirmação."
A passagem está no capítulo 5 do livro Mota R, Flores RZ, Sepel L & Loreto ELS. 2003. Método Científico & Fronteiras do Conhecimento. Santa Maria: CESMA. pgs. 67-88.
"Campo semântico"?
Vou levar meu matungo para pastar.
A ontopsicologia é um caso de sincretismo conceitual, acrescido de vaguezas, obscuridades e inconsistências. Foi banida como prática pela Ordem dos Psicólogos, tanto quanto sei.
Volta o livro já citado:
A ontopsicologia não é, apesar da denominação, uma especialidade, ramo ou divisão da psicologia. Exemplos de especialidades, ramos ou divisões, oficialmente reconhecidas, da psicologia são a psicanálise, a psicologia cognitiva e a terapia de família. Ela não é ministrada ou ensinada em qualquer curso de psicologia no Brasil. Ocasionalmente, é possível encontrar-se algum curso de especialização "latu sensu", em universidades ou faculdades de pequena expressão, no interior do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
A ontopsicologia não é reconhecida como método ou técnica pelo Conselho Federal de Psicologia. Assim, é vedado ao psicólogo a prática desta atividade. Para termos um ponto de comparação, uma outra prática que recebe idêntico tratamento ao que é dado à ontopsicologia é a regressão a vidas passadas. Apesar disso, no portal da A.B.O, encontramos que, entre os instrumentos de intervenção desta suposta ciência, estão a psicoterapia individual e a psicoterapia de grupo. A entidade oferece um curso de pós-graduação em psicoterapia aberto a médicos e psicólogos, mas que não tem reconhecimento oficial.
O Conselho Regional de Psicologia do Estado de S. Paulo (Cartas, 2000) recomenda: " ... esta prática não constitui uma técnica científica reconhecida pela psicologia. Portanto, seu uso por parte de psicólogos infringe a ética, devendo ser denunciado ao CRP SP”.

Pois é, agora é faculdade ali no vizinho município.
Caiu-me das mãos o exemplar da revista.
Vá entender.
Isso que eu não falei de um tal de 'monitor de deflexão' que o homem inventou.
Fica para outra vez.

Maior apoio

Na terça-feira passada comentei sobre a reunião do Conselho Universitário, que seria feita na sexta. A página da Ufesm noticiou a reunião, detalhando os processos aprovados. Louvável iniciativa, que poderia seguir em frente, imitando o que faz o Conselho do Centro de Educação, que disponibiliza as atas das reuniões.
Há uma iniciativa que merece registro. Está no finalzinho da matéria e diz assim:
"O Conselho Universitário também aprovou, na última sexta-feira, a criação de uma Comissão para analisar a atual forma das relações da UFSM com as Fundações de Apoio. A solicitação, oriunda do Departamento de Odontologia Restauradora, se deu a partir das ações deflagradas pelo Ministério Público Federal, tendo como foco as fundações de apoio à Universidade. A comissão terá atribuição política e não-deliberativa, com fins de debater, esclarecer a comunidade universitária e sistematizar as bases ético-normativas de uma proposta de regulamentação para definir os princípios que deverão reger as relações da UFSM com as fundações, de acordo com a legislação vigente. A comissão deverá ter 8 membros, que ainda não foram escolhidos."
Ufa. Debater, esclarecer, propor, sistematizar, é bastante trabalho, não?
Para uns, lembra um leitor do blogue, a proposta terá vindo tarde demais.
Para outros, está chegando bem cedo.
A Comissão vai dar uma curva no sindicato, como diz a gurizada.
A ver.

sexta-feira, janeiro 25

Nonada

"Nonada" é a primeira palavra-frase em Grande Sertão:Veredas.
"A ira, Deusa, celebra do Peleio Aquiles, o irado desvario, que aos Aqueus tantas penas trouxe, e incontáveis almas arrojou no Hades de valentes, de heróis, ....". É o começo da Ilíada.
"Alguém certamente havia caluniado Joseph K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum". É a primeira frase do Processo.
Veja o começo de Um deus passeando pela brisa da tarde, de Mário de Carvalho:
"Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido. Debaixo de sombras irisadas, leio e releio os meus livros, passeio, rememoro, devaneio, pasmo, bocejo, dormito, deixo-me envelhecer".
Guimarães Rosa, em uma palavra, faz um manifesto contra a flacidez da língua portuguesa. "Não é nada" tem cinco vogais, "nonada" tem três e indica a tonalidade sonora do romance, onde abundam aliterações com "m" e "n", uma estratégia para deixar o texto mais sombrio, dizem alguns comentadores.
Homero faz da Ilíada o poema da ira, e essa é a primeira palavra, de fato.
Kafka sintetiza em uma linha o drama de uma vida.
Um deus passeando pela brisa da tarde está me parecendo - estou no comecinho - um presente de Mário de Carvalho para a literatura em nossa língua.
Saiu pela Cia das Letras, em 2006, mas só agora me chegou às mãos, sugerido pelo Jairo José da Silva, que, por sinal, escreveu um belíssimo livro de filosofia da matemática - Filosofias da matemática - Ed. Unesp, 2007.

quarta-feira, janeiro 23

Lagarto, lagarto.


O assunto voltou hoje na imprensa. A Razão conta que os professores Renan Rademacher, Luis Pellegrini e Dario Trevisan foram reintegrados à UFSM pela juíza Simone Barbisan. Eles haviam sido afastados pela mesma juíza. O Diário e a ZH informam que a Polícia Federal indiciou mais gente. Foram incluídos Hermínio Gomes Junior (ex-diretor técnico do Detran), Luiz Carlos de Pellegrini (professor da Ufsm) e Rosmari Greff Ávila Silveira, servidora da Universidade.
Dizem que mais gente pode ser indiciada.
A ver.
Eu gostaria de saber a resposta para as seguintes perguntas:
1. Quem assinou pela Fatec os contratos com o Detran?
2. Se o contrato foi precedido por um convênio, e examinado no Conselho Universitário?
3. Se sim, qual foi o parecer da Procuradoria, etc, etc, etc. Adianto minha opinião: não teria havido tal pronunciamento pelo Conselho Universitário. Vou conferir isso lendo as atas do Consu da época.
4. Se não, foi um ato de motu proprio da Fatec, e nesse caso o então Reitor teve qual tipo de participação? Em nome do que o Conselho Universitário teria sido esquinado, se o projeto envolvia milhões? Urgência? E para que serve o "ad referendum"?
5. Se não, aqueles que dizem que o caso Detran pouco tem a ver com a UFSM, em sentido restrito e especial, tem uma certa razão.
6. Nesse caso, volta a pergunta: quem assinou pela Fatec - entidade de direito privado - o tal contrato, arcando com tal responsabilidade, que, em sentido restrito e especial tirava o Consu da jogada?
Cabe aqui lembrar que o cargo de Diretor é privativo de ocupante de cargo de direção na Ufsm. Isso configura uma entidade muito curiosa, de direito privado, mas cujos cargos são privados, para funcionários públicos.
7. O "pernicioso", nesse episódio, tem a ver com as regras da fundação ou com a forma como a afundação foi conduzida?
A ver.
O lagarto brincou de cuca comigo e escafedeu-se por entre as moitas que enfeitam o estacionamento ao lado do prédio da Fisiologia. Levei um susto.

Lagarto


No evento do Andes em Goiânia decidiu-se, como se lê na página do Sindicato, "após uma semana de intensos debates", que "a greve é a alternativa mais eficaz de enfrentamento à intransigência do governo Lula em não atender as reivindicações contidas na pauta da campanha salarial dos docentes para 2007". Teve mais, como já comentei no poste anterior. No dia 17, os congressistas aprovaram, com algumas modificações, uma proposta apresentada por Santa Maria tratando do tema fundações de apoio.
Cito uma passagem da notícia:
"A partir de sugestão de alguns delegados do encontro, e que foi deliberada pela maioria dos participantes, o texto assinala que se deve 'continuar denunciando que as fundações de apoio são desnecessárias e perniciosas', ou seja, acrescentou-se o adjetivo perniciosa, qualificando-se então, as fundações, como prejudiciais aos interesses da universidade pública."
Então tá.
Com todo o respeito e licença, "desnecessárias e perniciosas", para mim, são propostas de greves como essa, escritas no vocabulário das acusações ao "privativismo neoliberal do governo Lula" e que geram o que estamos vendo agora no campus da ufesm, quase vazio, de aulas dadas em pleno calendário escolar, aprovado para o lagarto ver, pelo jeito. Os governos não estão nem aí para greve de classe média que gosta de cantar "Reunião de Bacana" para ficar em paz com a consciência.
Para quem não lembra, "Reunião de Bacana" é a música composta por Ary do Cavaco, que tem o refrão "Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão".
A ironia - a lembrança foi de um dos leitores do blogue, mas eu a faço minha - é que ao menos um dos componentes da delegação tem um projeto graúdo na Fatec.
Desnecessário e pernicioso é a gente ficar comendo a própria carne, feito Macunaíma.
O lagarto não está nem aí para esses gritos.

terça-feira, janeiro 22

FATEC

O Sindicato dos Professores aprovou recentemente, noticiam os jornais, uma moção recomendando algo como o fim das relações entre a Fatec e a Ufsm.
Vejamos.
Na sexta-feira haverá uma sessão do Conselho Universitário. Dos 49 processos que estão na pauta da reunião, 17 tratam de convênios entre a Ufsm e a Fatec. Entre eles, o processo sobre um convênio para a execução do projeto "Edificação do Centro de Convenções", algo em torno de 10 milhões de reais.
Ou seja: se cessassem as relações entre a Fatec e a Ufsm, como quer o sindicato, a Ufesm travaria as pernas.
Acho que o furo está em outro lugar. Quando as fundações foram criadas, no final dos anos setenta, o espírito era apoiar os pesquisadores, etc.
Se o espírito se perdeu em algum lugar, não creio que a melhor solução seja matar o carteiro que deu a notícia.
PS: na reunião há um processo no qual a Fundae encaminha a documentação necessária para a renovação do seu credenciamento como fundação de apoio da Ufesm.
Ao longo desses anos todos ninguém topou seriamente mexer nas regras das universidades públicas. Com isso, a funcionalidade das fundações manteve-se em alta.
Eu toparia conversar sobre o fechamento das fundações, no contexto de uma abertura das universidades. Mas essa conversa não interessa a ninguém, faz vinte e tantos anos...

Cafofos


Fiz algumas fotos dos alojamentos provisórios de estudantes, na União Universitária. Fui levar ali repórter e fotógrafo da Rolling Stone, que vieram fazer uma matéria sobre Santa Maria e aproveitei para fazer algumas fotos. Esses alojamentos destinam-se a hospedagem provisória - por um ano, por exemplo... - de alunos que não conseguem apartamentos nas casas de estudante. Ali ficam grupos de oitenta pessoas, por vezes, em beliches, que é todo o espaço que dispõem para morar. Eles chamam esses espaços, protegidos por panos, de 'cafofos'. Para ver as fotos, clique aqui ou em "algumas fotos", ao lado.

sábado, janeiro 19

Polêsine

Amanhã o sr. Menegheti, informa A Razão, inaugura a nova faculdade de administração em Polêsine.
Conversei com uma nona que mora ali na Santa Lúcia, um vilarejo a mil metros do Recanto Maestro. Ela me pergunta se esse don Antonio é o mesmo que foi objeto de uma reportagem da Rede Globo - no Jornal Nacional - , uns cinco ou seis anos atrás, quando foi denunciado por haver algumas informações sobre problemas do cujo com a justiça italiana.
Foi o próprio cujo.
Em 1993 o sábio italiano foi condenado por homicídio culposo de uma discípula, Marina Furlan, disse a Globo. A matéria da Globo aludia a diversas denúncias, incluindo furtos, falsificações e exercício ilegal de Medicina. Para um acadêmico, o homem tem um currículo bem pouco ortodoxo, lembra o Renato Flores.
Para detalhes, digite no santo google "Zamora Flores + ontopsicologia".
Ontopsicologia, para ser breve, é um caso de pseudociência.
O MEC, espero, deve estar sabendo o que faz.
A nona não está entendendo mais nada. E?, pergunta ela?
Pois é, digo eu, assim é a vida, e monto no matungo e volto para o rancho para ouvir a bachiana brasileira 1, "pour ensemble de violoncelles", a "Embolada". Eita coisa bonita!

quinta-feira, janeiro 17

Leitura

Steve Jobs, no lançamento do novo notebook da Apple, aproveitou para alfinetar a Amazon, que lançou um dispositivo eletrônico, o Kindle, que se destina exclusivamente à leitura de livros digitalizados. Ele disse que o produto não vai vingar, pois as pessoas não mais lêem. Eis o que ele disse:
“It doesn’t matter how good or bad the product is, the fact is that people don’t read anymore,” he said. “Forty percent of the people in the U.S. read one book or less last year. The whole conception is flawed at the top because people don’t read anymore.”
O lado local da coisa: os professores, de todos os níveis, queixam-se dos seus alunos, que não lêem o quanto deveriam e como deveriam. É uma verdade.
Sempre me ocorre perguntar, a quem se queixa disso, sobre qual livro está lendo, quantos leu esse ano, etc. É surpreendente, por vezes, a resposta. Mas o que importa não é bem isso. O que eu fico pensando é se essas dificuldades de levar o aluno a ler induzem alguns de nós a pensar em desistir da tarefa, em substituir a leitura por alguma outra atividade na aula, cedendo, assim, à pressão dos alunos por não ler.

domingo, janeiro 13

Barato

Conversei com um advogado que tem algumas informações sobre o caso Detran/Fatec neste final de semana. Ele me lembrou o quanto é fácil um caso como esse arrastar-se por 10 anos na Justiça. Com um prazo desses de demora, ninguém vai preso. O advogado, meio que em tom de consolo, disse que isso não seria tão grave, pois já existe uma condenação moral dos acusados, combinada com o bloqueio dos bens.
Achei o raciocínio defeituoso. A condenação moral por certo existe, mas é genérica, difusa e se abate sobre todos os envolvidos de forma indiscriminada, sem pesos e medidas, que é a essência da condenação por meio de processo bem conduzido. A condenação moral é como o travesseiro de penas. Isso sem falar que deve haver, imagino, penas e pesos diferenciados para quem é arquiteto de um crime e para quem tenha se envolvido de forma menor, coisa que nada tem a ver com moral. e se houver algum inocente no meio, como é que fica?
O mesmo advogado lembrou de uma conversa que teve, antes do acontecido, com um dos mentores, a quem perguntou se ele tinha vontade de voltar a fazer política como político que fora, um dia. O mentor teria respondido que "era mais barato comprar políticos."

segunda-feira, janeiro 7

O seis de janeiro

No dia seis completou-se dois meses do caso Detran/Fatec/Ufsm. A Polícia Federal, pelo jeito, vai precisar de mais tempo para concluir o inquérito. Para refrescar a memória, reli o relatório da Juíza Simone Barbizan , da Terceira Vara da Justiça Federal, que autorizou as prisões temporárias, bloqueio de bens, etc.
Chama a atenção o trecho da decisão, com a seguinte redação:

"Ante o exposto, reconheço a competência da Justiça Federal, remetendo à fundamentação tecida pelo Ministério Público Federal e, em conseqüência: A) Decreto a prisão temporária dos seguintes investigados, pelo prazo máximo de 5 dias (observadas as determinações constantes na fundamentação), ficando a autoridade policial autorizada a, verificado o esgotamento de sua utilidade para a investigação, proceder de imediato à sua soltura:"

Segue-se a relação de nomes.
Eu imagino, na minha ignorância jurídica, que a decisão da juíza tem dois parâmetros importantes. Um deles é introduzido pela expressão "ante o exposto". "Ante o exposto, reconheço..." A exposição que ela faz é uma espécie de recapitulação dos fatos, necessária para o segundo passo, decretar a prisão. Ela indica ao leitor que teve acesso a todo tipo de informação, como escutas, fotografias, filmes, documentos das empresas, etc., e que leva isso em conta, sem ter que necessariamente revelar o teor das escutas, etc. Esse é o segundo parâmetro.
Fiz uma lista de todos os nomes citados por ela em negrito no despacho. São 20, ao todo, alguns citados muitas vezes e acusados, de forma mais ou menos evidente e explícita. Desses vinte, 13 foram detidos para investigações.
Veja o seguinte trecho:

"Constatou-se ainda, a contratação de empresas da família do ex-Reitor da UFSM, Paulo Jorge Sarkis, por uma das empresas beneficiárias do esquema, a Pensant. Tal empresa, após a contratação para execução do contrato DETRAN, na gestão de Sarkis à frente da reitoria, contrata a empresa de sua esposa e filhos (Sarkis Engenharia Estrutural), para a qual repassa, nos anos de 2004 e 2005, cerca de R$ 74.000,00. Ademais, outra empresa da família Sarkis também vem possivelmente sendo beneficiária do esquema, recebendo recursos diretamente da FATEC, qual seja a World Travel Turismo Ltda."

Expressões como "beneficiária do esquema", no contexto do documento, não são neutras. Não é preciso dizer que também é incriminadora a informação que o reitor da ufesm concordou, em alguma instância, que empresas de sua família fossem contratadas dentro do "esquema". Por outro lado, nunca foi segredo para ninguém que a WTT era fornecedora exclusiva de passagens para a ufesm. Ela ganhou essa condição por meio de uma licitação, ou algo equivalente. (O que as pessoas criticavam, à boca pequena ou grande, era o estilo de um reitor que achava isso completamente normal, da mesma forma como achou que era completamente normal que ele presidisse a sessão do conselho universitário que o elegeu.) Ser cara-de-pau, no entanto, não é um delito previsto no código penal. Estilo é estilo, alguém diria.

O que me intriga nisso tudo é que, se de um lado algumas pessoas que foram presas são citadas e junto ao nome a juíza indica alguns fatos incriminadores, como no exemplo acima, em outros casos isso não acontece: há apenas o nome e a indicação do cargo desempenhado. Nesse caso o leitor assume, por sua conta, uma premissa que deve - ou não - estar nos autos do processo?

quarta-feira, janeiro 2

Correspondência

Correspondência para o editor do Morana pode ser encaminhada para ronairocha@gmail.com que ele dá um jeito de chegar ao cujo.

Fatec em Caxias do Sul: sobrou para o CCSH?

O texto que transcrevo abaixo está no sítio do Ministério Público do Rio Grande do Sul:

"Ilegalidade está na dispensa de licitação, contratação e execução do contrato referente ao projeto de segurança pública de Caxias do Sul:
O Ministério Público obteve liminar em ação civil pública ajuizada contra o município de Caxias do Sul e a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência – Fatec. A Justiça local determinou a suspensão do contrato firmado entre as duas pessoas jurídicas para execução de projeto de segurança pública. O ajuizamento da ação ocorreu nesta quarta-feira, pela Promotoria de Justiça Especializada de Caxias do Sul, através do promotor de Justiça Adrio Rafael Paula Gelatti.
Além da suspensão dos pagamentos, a Justiça decidiu, ainda, pela quebra de sigilo bancário referente às movimentações financeiras de instituições educacionais relativas à execução do contrato. Tão logo foi notificado, o Município comunicou o cumprimento da liminar, determinando a suspensão de qualquer pagamento referente ao contrato.
De acordo com o Promotor de Justiça de Caxias do Sul, o contrato assinado entre o Município e a Fatec (de Santa Maria-RS) é específico para a prestação de serviços de pesquisa, diagnóstico e concomitante desenvolvimento de software, para elaboração do Plano Municipal de Segurança Urbana. E destina-se à aplicação em processo de seleção de guardas municipais, para aplicação de cursos de atualização/capacitação e tem como referências projeto de segurança e currículo oriundos do Ministério da Justiça. O valor total é de R$ 242.480,00.
Gelatti disse que o contrato, firmado com dispensa de licitação, foi assinado com a Universidade Federal de Santa Maria, através da Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência, "com cláusula que vedava a subcontratação parcial ou total do objeto". Segundo ele, foram identificadas ilegalidades como:
A- assinatura do contrato com pessoa jurídica estranha ao despacho de dispensa de licitação; B- na justificativa de preço da dispensa de licitação, com juntada de orçamentos (propostas) para execução do objeto do contrato por outras duas instituições de ensino que são inidôneos para justificar o preço praticado no contrato; C - superfaturamento do valor do contrato em relação ao objeto executado; D - execução ilegal do contrato pela Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), de Caxias do Sul, tendo a Fatec servido como “fachada” de contratação da FSG; E- a Fatec ficou apenas com questões formais como representação perante o Município de Caxias do Sul e emissão de alguns documentos, o que somente ocorreu para manutenção de aparência de licitude; F- a Fatec, para o fim de intermediar a execução do contrato pela FSG – servir como “fachada”-, segundo o acerto identificado na investigação, cobrou 10% do valor do contrato, tendo, inclusive, a FSG adiantado parte desse valor na forma de pagamento de gráfica para edição de obra (livro) publicada pelo Centro de Ciências Sociais e Humanas da UFSM.
Adrio Gelatti ressalta que "o município de Caxias do Sul manteve postura colaborativa com as investigações, atendendo prontamente às requisições de documentos e informações feitas pelo Ministério Público". A investigação contou com o apoio da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público de Porto Alegre, Promotoria de Justiça Especializada de Santa Maria e Promotoria de Justiça Especializada de São Leopoldo."

Sobrou para o CCSH/UFSM: que livro é esse?

Fatec em Caxias do Sul (1)

Mestre Guina informou, em comentário mais abaixo, sobre problemas da Fatec/Ufsm em Caxias do Sul. Aqui nesta postagem transcrevo o que saiu faz pouco no sitio Videversus, que versa sobre a notícia transcrita por Guina.

"Justiça anula mais um contrato da Fatec, com a Prefeitura de Caxias do Sul:
A Justiça do Rio Grande do Sul determinou a anulação de contrato entre a prefeitura de Caxias do Sul e a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec), feito para a elaboração de um plano municipal de segurança. O contrato tinha valor de R$ 242,4 mil. A Fatec é uma fundação de direito privado, que se utiliza do nome da Universidade Federal de Santa Maria para angariar contratos com dispensa de licitação, o que é uma ilegalidade. A Fatec também é um dos principais pivôs da fraude apurada pela Operação Rodin, conduzida pelo Ministério Público Especial Junto ao Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, a Procuradoria da República, a Polícia Federal e a Receita Federal, que produziu um desvio de mais de 40 milhões de reais do Detran-RS.
A prefeitura de Caxias do Sul, dirigida por José Ivo Sartori (PMDB), é useira em utilizar destes contratos sem licitação. A liminar foi obtida pelo Ministério Público estadual na última sexta-feira. O promotor Adrio Gelatti sustenta que houve irregularidades no contrato, como dispensa de licitação e uso da Fatec como instituição de "fachada" para a subcontratação ilegal da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), que não tem habilitação para realizar os serviços. A Justiça ordenou a suspensão dos pagamentos e a quebra do sigilo bancário referente às movimentações financeiras. O contrato vedava a subcontratação parcial ou total dos serviços. As mesmas instituições que montaram a Operação Rodin deveriam investigar o contrato de outra fundação de direito privado, a Faurgs, com a prefeitura de Caxias do Sul, na área de saúde. Aliás, essas fundações de direito privado, sem qualquer vinculação com as universidades das quais se apropriam dos nomes, deveriam ser fiscalizadas habitualmente pelo Ministério Público Estadual (Curadoria das Fundações). É o que manda a lei. Mas, até hoje, a Curadoria das Fundações não fiscalizou as contas dessas fundações de direito privado. Esse é um grande Mistério Público Estadual no Rio Grande do Sul. Por que será que os promotores e procuradores não fiscalizam as fundações? E mais uma coisa: a quem pertence a Faculdade da Serra Gaúcha? Qual é o parlamentar que tem ligações ostensivas com esta instituição?"

2008

O espírito de 2008 visto a partir de "O Rei Lear":

Lear: Como, estás louco? Mesmo sem olhos um homem pode ver como anda o mundo. Olha com as orelhas. Vê como aquele juiz ofende aquele humilde ladrão. Escuta com o ouvido, troca os dois de lugar, como pedras nas mão; qual o juiz, qual o ladrão? Já viste um cão da roça ladrar prum miserável?
Gloucester: Já, meu senhor.
Lear: E o pobre diabo correr do vira-latas? Pois tens aí a imponente imagem da autoridade: até um vira-lata é obedecido quando ocupa um cargo. Oficial velhaco, suspende tua mão ensangüentada! Por que chicoteias essa prostituta? Desnuda tuas próprias costas. Pois ardes de desejo de cometer com ela o ato pelo qual a chicoteias. O usurário enforca o devedor. Os buracos de uma roupa esfarrapada não conseguem esconder o menor vício; mas as togas e os mantos de púrpura escondem tudo (...).

Veterano

O som do "progresso" no centro da cidade


O Augusto, do Restaurante, passou anos pedindo que fosse canalizada a sanga que passa nos fundos. Nunca conseguiu. Pois ao que se sabe, o dono da obra estalou os dedos e a Secretaria de Proteção autorizou a canalização da dita sanga. No vídeo, ouve-se o ruído do "progresso", rumo à canalização.

Saracuras


Este conjunto de árvores fica no centro de Santa Maria. As maiores delas, os guapuruvus no lado direito da foto, devem ter mais de vinte metros de altura. Pois a Secretaria de Proteção Ambiental autorizou o abate de grande parte delas. Liguei hoje de manhã para o 32178863, da tal Secretaria de Proteção e não havia ninguém. Vou tentar de novo pela tarde, para saber se ao menos os guapuruvus vão ser poupados. No Ibama disseram que eles não tem nada a ver com isso.
Uma saracura que mora ali já entrou em estresse por causa da motoserra que funciona sem parar desde as oito horas da manhã. A saracura foi parar no meio da Tuiuti, quase foi atropelada, arriscou um vôo de volta ao mato.
Na construtora responsável pelas obras informam que está tudo nos conformes municipais. E o que diz o Plano Diretor? O Geraldo Cervi me disse que as mudanças obtidas por pressão das empreiteiras é que permitiriam esses absurdos.

terça-feira, janeiro 1

Ano Novo

Espero que os amigos do blog tenham passado bem nessas festas de fim de ano. Que todos tenhamos um bom 2008.