Bem, vamos lá. Sobre uma “Moral geral”. Não sei o que Tugendhat irá nos colocar a respeito desta. Mas quero lançar três estacas para uma moral geral: 1) ela deve conter a ampliação máxima possível das RELAÇÕES HUMANAS; 2) Essas relações devem ser HARMÔNICAS. Este ponto 2) faria nos estendermos sobremaneira. Mas, fundamentalmente, por “harmônicas” precisamos entender relações que transcendam obstáculos políticos, sociais e culturais. Não sei se vocês conseguem entender este ponto. Harmônica, aqui, inclina-se para uma espécie de cânon da estética das relações humanas, por isso ela se abstrai do consequencialismo político, social e cultural. É mais ou menos por aí. Não sei se ficou claro até aqui. Depois, a terceira estaca 3) As relações além de absolutamente amplas e harmônicas, devem prezar pela drástica redução dos INTERESSES PARTICULARES (e também no caso de uma macroescala, dos interesses nacionais; a despeito de uma indefinível, conturbada e canhestra globalização – no tocante às relações de troca de interesses entre nações - ainda nos encontramos numa espécie de “idade da pedra” da harmonização dos interesses globais). Ratificando: RELAÇÕES HUMANAS AMPLIADAS, isto quer dizer também relações com muito maior poder de “trânsito”. Quero dizer com isto, relações altamente eficientes porque se disciplinam pelo interesse comum da HARMONIA, enquanto arbítrio individual do gosto (estética) que serve ao coletivo satisfazendo previamente o próprio individual. E a base 3) é o sublinhamento das duas primeiras. Será que podemos pegar um exemplo? Somente um, esperando que vocês entendam que são infinitos os exemplos que o assunto abarca. Exemplo: meu bairro é Nossa Sra. De Lourdes, a renda da minha família é 6 mil reais, sempre estudei em escolas particulares, já conheço a Europa, etecétera. Muito bem. Quantos, em condição idêntica à minha tocarão alguma vez seus pés num bairro como Caturrita, Bela União... Quantos da minha faixa social caminharão por entre as casas desses bairros, conversarão com as pessoas nos portões das casas ou interpelarão alguém naquelas ruas? Quantos? Cito este exemplo para jogar-me a pensar sobre uma MORAL GERAL, uma moral cujos seus móbiles seriam a própria experiência estética (padrão máximo) que desprezasse toda a diferença. E sendo estes e outros móbiles expressão genuína da experiência moral, haveria necessidade de pensar conceitos e princípios a priori de um conhecimento da moral? Arrisco perguntar: não será por essas e muitas outras RAZÕES que Tugendhat está a considerar a natureza da filosofia como empírica? Quando falamos “empírica”, porque voltamos o olhar para o passado distante. Não! Deveríamos unicamente erguer a cabeça a frente, o olhar na altura do horizonte, e só pensarmos sobre o futuro. Só porque nossa preocupação possa se fundamentar nos atos de pensamento para o futuro é que a filosofia é EMPIRIA. Só porque Tugendhat chegou naquela idade é que ele pode dar tanto valor ao futuro. Ele sabe o que faz. E merecidamente o sabe. Esforçou-se muito para isto. A sua visita é um belo momento.
Quem sabe deveríamos guardar grandes momentos de todos os encontros que virão num mais obediente silêncio e aceitarmos mais pacificamente o convívio com a DÚVIDA, que merece nosso flerte demorado. Levamo-la para casa, e com a intimidade conquistada desnudemo-la.
não interessa o tema da postagem, até porque não entendi o que Ronai quis dizer sobre o caranguejo. eu só quis postar uma reflexão sobre a última aula de Tugendhat. tá satisfeito o morrinha. deve ser aquele mesmo anônimo que não dizia nada sobre o texto do olavo de carvalho, só ficava pentelhando. esse é o prejuízo de um blog: sempre vem algum pentelho que não tem o que fazer, não sabe pensar e fica amolando os outros. por favor dê a sua contribuição - se estiver ao seu alcance. nem sei por que estou aqui gastando meu tempo! Santo dio.
interessante sua contribuição, mas gostaria de problematizar dois pontos: a) Alguns pensadores acreditam que o ético não deve se limitar somente às relações humanas. Peter Singer é um autor paradigmático nessa questão. Por outro lado, por exemplo, Hans Kelsen, o grande pensador do Direito no século XX, postula que o Direito trata primariamente das relações ( ele fala em condutas) humanas e somente secundariamente de outras relações (condutas). b) Ontem, no "Café Filosófico", transmitido pela Rede Cultura, Renato Janine Ribeiro, da USP, fez um interessante paralelo entre psicologia e ética, mostrando que o ideal ético grego exclui os interesses particulares, levando em consideração somente os interesses comunitários (a harmonia de que você trata nas suas postagens). Ele sugere que deveria ser feita uma aproximação entre psicologia (indivíduo) e ética (comunidade), a ética deveria se "psicologizar".
Gisele, falta-nos sempre uma razão elaborada quando nossos atos são de LEGÍTIMA DEFESA. Ou, como diz o ditado, não cutuque a onça com vara curta - ou, não incomode quem está quieto. Quem não quer harmonia não sou, mas o tal anônimo. A minha desarmonia MOMENTÂNEA é apenas a personalidade do serviço da HARMONIA. Enganam-se todos aqueles que ACHAM que a harmonia deve ser PASSIVA. Julgar consequências e desprezar as causas é, no mínimo, um brutal erro de análise das questões.
Eneida, só quis provocar pra ver se você me explicava melhor essa idéia de relações harmônicas e não passivas, que eu não entendi muito bem. Principalmente no que se refere às " relações que transcendam obstáculos políticos, sociais e culturais", você pode eclarecer um pouco? Obrigada.
Não devo lhe deixar sem um detalhamento para dirimir suas dúvidas. Mas hoje já estou por demais cansada. Voltamos amanhã ou quarta a essa questão. Obrigada pelo seu interesse.
12 comentários:
Bem, vamos lá. Sobre uma “Moral geral”.
Não sei o que Tugendhat irá nos colocar a respeito desta.
Mas quero lançar três estacas para uma moral geral: 1) ela deve conter a ampliação máxima possível das RELAÇÕES HUMANAS; 2) Essas relações devem ser HARMÔNICAS. Este ponto 2) faria nos estendermos sobremaneira. Mas, fundamentalmente, por “harmônicas” precisamos entender relações que transcendam obstáculos políticos, sociais e culturais. Não sei se vocês conseguem entender este ponto. Harmônica, aqui, inclina-se para uma espécie de cânon da estética das relações humanas, por isso ela se abstrai do consequencialismo político, social e cultural. É mais ou menos por aí. Não sei se ficou claro até aqui.
Depois, a terceira estaca 3) As relações além de absolutamente amplas e harmônicas, devem prezar pela drástica redução dos INTERESSES PARTICULARES (e também no caso de uma macroescala, dos interesses nacionais; a despeito de uma indefinível, conturbada e canhestra globalização – no tocante às relações de troca de interesses entre nações - ainda nos encontramos numa espécie de “idade da pedra” da harmonização dos interesses globais).
Ratificando: RELAÇÕES HUMANAS AMPLIADAS, isto quer dizer também relações com muito maior poder de “trânsito”. Quero dizer com isto, relações altamente eficientes porque se disciplinam pelo interesse comum da HARMONIA, enquanto arbítrio individual do gosto (estética) que serve ao coletivo satisfazendo previamente o próprio individual. E a base 3) é o sublinhamento das duas primeiras.
Será que podemos pegar um exemplo? Somente um, esperando que vocês entendam que são infinitos os exemplos que o assunto abarca.
Exemplo: meu bairro é Nossa Sra. De Lourdes, a renda da minha família é 6 mil reais, sempre estudei em escolas particulares, já conheço a Europa, etecétera. Muito bem. Quantos, em condição idêntica à minha tocarão alguma vez seus pés num bairro como Caturrita, Bela União... Quantos da minha faixa social caminharão por entre as casas desses bairros, conversarão com as pessoas nos portões das casas ou interpelarão alguém naquelas ruas? Quantos?
Cito este exemplo para jogar-me a pensar sobre uma MORAL GERAL, uma moral cujos seus móbiles seriam a própria experiência estética (padrão máximo) que desprezasse toda a diferença. E sendo estes e outros móbiles expressão genuína da experiência moral, haveria necessidade de pensar conceitos e princípios a priori de um conhecimento da moral?
Arrisco perguntar: não será por essas e muitas outras RAZÕES que Tugendhat está a considerar a natureza da filosofia como empírica? Quando falamos “empírica”, porque voltamos o olhar para o passado distante. Não! Deveríamos unicamente erguer a cabeça a frente, o olhar na altura do horizonte, e só pensarmos sobre o futuro.
Só porque nossa preocupação possa se fundamentar nos atos de pensamento para o futuro é que a filosofia é EMPIRIA. Só porque Tugendhat chegou naquela idade é que ele pode dar tanto valor ao futuro. Ele sabe o que faz. E merecidamente o sabe. Esforçou-se muito para isto.
A sua visita é um belo momento.
Quem sabe deveríamos guardar grandes momentos de todos os encontros que virão num mais obediente silêncio e aceitarmos mais pacificamente o convívio com a DÚVIDA, que merece nosso flerte demorado. Levamo-la para casa, e com a intimidade conquistada desnudemo-la.
ei eneida, é esta sua interpretação de "o caranguejo me levou livre hoje?"
Não tem o que fazer ou comentar? Vá amolar outra freguesia.
Sempre uma errata: 4ª linha do parágrafo que inicia por "Arrisco perguntar.." leia-se "por que voltamos o olhar para o passado distante?".
em que realidade vc. vive?
o tema da postagem não era sobre a moral geral, falava de algo muito mais profundo. Sorry, dear
não interessa o tema da postagem, até porque não entendi o que Ronai quis dizer sobre o caranguejo.
eu só quis postar uma reflexão sobre a última aula de Tugendhat.
tá satisfeito o morrinha.
deve ser aquele mesmo anônimo que não dizia nada sobre o texto do olavo de carvalho, só ficava pentelhando.
esse é o prejuízo de um blog: sempre vem algum pentelho que não tem o que fazer, não sabe pensar e fica amolando os outros.
por favor dê a sua contribuição - se estiver ao seu alcance.
nem sei por que estou aqui gastando meu tempo! Santo dio.
a sua " r e a l i d a d e " é que deu pra ver que é nefasta.
So, were are the harmony?
Eneida,
interessante sua contribuição, mas gostaria de problematizar dois pontos:
a) Alguns pensadores acreditam que o ético não deve se limitar somente às relações humanas. Peter Singer é um autor paradigmático nessa questão. Por outro lado, por exemplo, Hans Kelsen, o grande pensador do Direito no século XX, postula que o Direito trata primariamente das relações ( ele fala em condutas) humanas e somente secundariamente de outras relações (condutas).
b) Ontem, no "Café Filosófico", transmitido pela Rede Cultura, Renato Janine Ribeiro, da USP, fez um interessante paralelo entre psicologia e ética, mostrando que o ideal ético grego exclui os interesses particulares, levando em consideração somente os interesses comunitários (a harmonia de que você trata nas suas postagens). Ele sugere que deveria ser feita uma aproximação entre psicologia (indivíduo) e ética (comunidade), a ética deveria se "psicologizar".
Gisele, falta-nos sempre uma razão elaborada quando nossos atos são de LEGÍTIMA DEFESA.
Ou, como diz o ditado, não cutuque a onça com vara curta - ou, não incomode quem está quieto. Quem não quer harmonia não sou, mas o tal anônimo.
A minha desarmonia MOMENTÂNEA é apenas a personalidade do serviço da HARMONIA. Enganam-se todos aqueles que ACHAM que a harmonia deve ser PASSIVA.
Julgar consequências e desprezar as causas é, no mínimo, um brutal erro de análise das questões.
Eneida, só quis provocar pra ver se você me explicava melhor essa idéia de relações harmônicas e não passivas, que eu não entendi muito bem. Principalmente no que se refere às " relações que transcendam obstáculos políticos, sociais e culturais", você pode eclarecer um pouco?
Obrigada.
Não devo lhe deixar sem um detalhamento para dirimir suas dúvidas.
Mas hoje já estou por demais cansada.
Voltamos amanhã ou quarta a essa questão.
Obrigada pelo seu interesse.
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