Carvalho, Olavo de.
O tema me lembrou Drummond. "Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina."
Esses versos, que até hoje me incomodam, me ocorrem diante dessa conversa sobre eucaliptos e carvalhos. Eu não desconheço que tem quem queira desfazer Drummond, meio moda nos setenta, hoje deslembrado, quem sabe. Baita provocação, um guri criado no fundo do campo do Saicã, perto do Rosário, depois removido para o norte do Paraná, quer cantar a cidade, as coisas do dia, e lhe metem Drummond nas vistas, "não faças versos sobre acontecimentos, e etc.".
Olavo pega a Simone, operária da Renault, tuberculosa, combatente da Guerra Civil Espanhola, que pega os acontecimentos pela goela e pega seus sentimentos - dela - e tormentos pela goela e tenta dar-lhes voz - sai o que sai, danem-se, a responsabilidade é de quem a lê! - aí, seu Olavo pega ela pela goela e tenta tirar dali o quadrado das oposições, terceiro excluído, não-contradição, vamos, venhamos e me faça o favor!
Conceda-se: Olavo tem um bom livro, ao menos, sobre Aristóteles, comprei, li, tem outros, etc. Mas depois de escrever um belo livro sobre o velho Ari, empeza a filosofar sobre acontecimentos. "Pão ou pães, é questão de opiniães", como dizia o velho Rosa, Guima, Grande Sertão, logo ali na primeira página, para facilitar nossa vida.
Eu não lembro quem me colocou Drummondo nas mãos:
"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?"
Bueno, segue a trova, no mais, que tá bom!
Um comentário:
"Olavo tem um bom livro, ao menos, sobre Aristóteles, comprei, li, tem outros, etc"(RPR).
Professor Ronai, estimo-lhe e admiro. Mas nem por isso o tipo de deferência que o Sr. quis fazer a Olavo de Carvalho deixou de me causar um "brutal" (RR) "muchocho"; a bem da verdade, uma "brochamento".
Se o Sr. quer fazer uma deferência ao filósofo, não "Conceda-se" nada de forma tão parcial. Isso é quase injusto.
O Sr. falaria assim sobre a obra de um Heidegger, ou Wittgenstein "tem um bom livro, ao menos,(...), comprei, li, tem outros, etc".
Ora, OC tem vários livros, o "Jardim das Aflições" o "Imbecil Coletivo" - e outros - que o Sr. não leu. Mas, no entanto, o Sr."concede-se" e "concede-lhe" o privilégio da sua crítica elogiosa somente sobre o livro que o Sr. leu. Muito bem entendido: o resto, do trabalho daquele autor, bem, o resto se pode definir com "etc".
Só uma condição lhe permitia usar o "ao menos": que o Sr. tivesse lido os demais e principais trabalhos de Olavo de Carvalho. Isto não parece bom.
As coisas são ditas, me perdoe, mas devem ser muito bem interpretadas.
Basta relê-lo a si próprio, professor. Eu não posso dizer nada a não ser o que o Sr. me autoriza dizer sobre as suas palavras.
Ficamos por aqui.
Um abraço, do que verdadeiramente lhe preza e admira.
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