sexta-feira, fevereiro 24

Santerias (2)

Vou ficar uns sete dias longe da internete, num lugar chamado Rincão do Inferno, nas bandas de Lavras do Sul. Prometo contar algo sobre isso na volta.
Eu quero agradecer a série de postagens feitas hoje, sobre a santeria, e não me importa que o autor tenha ficado anônimo. Ele foi franco e direto, e é evidente a seriedade da reflexão ali presente. Acho que estamos pensando junto, por alguns momentos, e isso é o que importa, no final das contas.
Obrigado, até breve.

Afundação da Universidade

Se o calçadão da Bozzano tivesse pedras, até elas teriam ouvido falar coisas escabrosas sobre um certo projeto da Afundação. O mal afamado projeto foi administrado de forma a provocar grandes buracos na falta de previsão orçamentária da mesma. Na quarta-feira passada, o Conselho Superior da Afundação reuniu-se para aprovar as contas de 2005. Tudo estava nos conformes, aparentemente, mas em nome do decoro as contas do tal projeto ficaram para outro dia, pois para ele foi contratada uma auditoria.
Eia sus, oh sus! Fica a curiosidade: como foi possível que tais despautérios passassem no meio dos fios das barbas dos mais experientes profetas? A gente fica na torcida para ver a qual será a aprendizagem institucional resultante do episódio.
Acho que vou fazer vestibular para Contabilidade e tentar uma vaga na bancada estudantil no Consu, para ajudar a pedir vistas nestas contas e auditorias.

quarta-feira, fevereiro 22

Tapetão

A respeito de um comentário aqui no blog sobre as eleições no CCSH: o que me chateou foi um problema semântico: "tapetão" (a expressão foi usada por um e-jornal local) é uma expressão consagrada para designar os tribunais que decidem sobre problemas não resolvidos no campo de futebol. Isso possibilita outros usos. O ex-reitor Benetti, por exemplo, costumava se referir ao fato que ganhou as primeiras diretas feitas na UFSM e que "perdeu no tapetão", referindo-se ao fato bem conhecido que os Conselhos não deram pelotas para as eleições.
Eu repito o que escrevi antes: as alternativas do CCSH eram fazer a consulta ampla com meia dúzia de alunos e professores, e com isso nada teria de ampla, ou deixar para junho, dando uma esticadinha de quatro meses no prazo previsto do estatuto.
O Conselho do Centro escolheu fazer a escolha no próprio Conselho e acho despropositado falar em "tapetão". Falando nisso, a matéria, no e-jornal, que usou esta expressão não estava assinada e minha chateação não visou ninguém em particular. Eu, se fosse eles, chamaria o CCSH de "legalista" ou coisa que o valha. Mas "tapetão"?
O CT, que estava na mesma canoa, mandou uma consulta ao Reitor para saber se podia descumprir os prazos. A resposta, dada na semana passada, foi - adivinhem só - que não podia. O prazo termina no dia 26 de fevereiro. E?
Vou pensar. Quem sabe não seria essa uma nova e revolucionária maneira de administrar? Do Estatuto, a gente só cumpre o que nos convém.
Desse jeito, daqui a quatro anos sou candidato a Diretor de Centro. De preferência, no campo, prá poder conversar bastante sobre a história da nossa Ufesm.

Conselho Fiscal?

Dei uma olhada no organograma e no estatuto da Fundação. Tem apenas um Conselho Superior, e a ele cabe a tarefa de examinar e aprovar as contas.
Entendi a preocupação do tal conselheiro. Onde achar o tempo necessário para mergulhar na papelada? E não basta ter tempo. Essas tarefas, nos dias de hoje, não são para diletantes. "O tempora, o mores", diria o catilinista!

Consu

Na única reunião do Conselho Universitário que fui neste nano mandato, vi coisas interessantes. Os estudantes haviam pedido vistas de um processo sobre a Fundação de Apoio, que continha o relatório de atividades do ano base de 2004. Pediram que fosse feita uma auditoria pública nas contas. Deu para ver que tem muita coisa para ser conversada sobre como anda funcionando a Fundação. O presidente da sessão chegou a dizer, na fala inicial, que "concorda com os fatos levantados pela bancada estudantil". Os "fatos", por certo, não são muito claros, mas no caso tinham a ver com as atividades vinculadas ao Detran, que funciona dentro da Universidade. Problemas de natureza conceitual, pelo que me pareceu; os estudantes queriam ter mais clareza sobre as relações didático-pedagógicas do Detran com a Universidade.
Outro conselheiro, que é Diretor de um importante centro, reconheceu que o "assunto é polêmico" (não especificou qual), e que "não compartilho com muitas coisas que ali existem". Um outro Diretor disse que existem problemas pontuais, que talvez fosse o caso de "auditoria num determinado projeto". Puxa e afrouxa, as contas de 2004 foram homologadas. 2004, veja bem.
Dias depois, conversando com outro membro da fundação, me assustei um pouco mais. Ele me deu a entender que existe um Conselho Diretor, que se relaciona com uma Secretaria Executiva. Nem sombra haveria de um Conselho Fiscal.
Se é assim, eu fiquei me perguntando, "que tal?".
O conselheiro me falou também sobre polêmicas sobre como interpretar regras de leasing. Como se sabe, o leasing gera uma posse temporária, digamos assim, de um bem, por um período xis (um aluguel, de certa forma), findo o qual o contratante pode optar por pagar o valor residual e ficar com o bem ou devolver o dito. A polêmica seria sobre os direitos gerados pelo pagamento do valor residual, se esse pagamento fosse feito depois de cessado um projeto qualquer. O conselheiro parecia preocupado, e eu lamentei entender pouco de santeria e zero de leasing.
Bom, gestão nova, vassoura nova. A esperar.

Apa kabar?

Segundo o Everyday Indonesian (Thomas Oey, Periplus Editions, 1992), contrariamente aos hábitos ocidentais, é muito comum para os indonésios perguntar ao visitante sobre sua religião. Para a maioria dos indonésios a religião não é tanto uma questão de crenças pessoais e sim uma parte da ética da pessoa ou de sua identidade cultural. Se o visitante disser que não tem religião ou que é ateu, a maioria das pessoas não compreende o que se está querendo dizer; não ter uma religião é parecido como não ter nome ou nacionalidade. As religiões mais professadas são o Budismo, o Hinduísmo, o Islamismo, o Catolicismo e o Protestantismo.
Tana Toraja, se lembro bem das histórias contadas por minha filha que andou por lá uns anos atrás, é famosa, entre outras coisas pelas cerimônias funebres que duram muitos dias; o morto fica exposto em construções especiais para a festa, e enquanto é velado muitos búfalos são sacrificados. Quanto mais bichos, melhor. Fortunas são gastas nestas ocasiões.
Alguém (não sei se bapak ou ibu - homem ou mulher, em indonésio) me pergunta como proceder com os talismãs no tal do reitorado republicano. A tal da caneta fica no bolso de cada um, deixa assim. O que me impressiona são coisas como o crucifixo que está pendurado na sala do Conselho Universitário, a imagem da Medianeira na antesala do Gabinete do Reitor. Eu apearia os dois, pois são espaços públicos ocupados por gente que tem efegê e cedê patrocinadas pela viúva.
A viúva tem nome e não tem religião.
Gostei muito do comentário, tanto que fui atrás do manual de indonésio que nunca pensei em usar.
Em tempo: Apa kabar quer dizer "como vais?"

quarta-feira, fevereiro 8

Santerias

Faz alguns anos entrei num gabinete de uma assessora de um assessor, etc, no terceiro andar da Reitoria, para tratar de um assunto graduado qualquer. A senhora me recebeu muito bem, com todas as alegrias do cargo nem tão pesado assim. Minha atenção na conversa, no entanto, logo foi desviada por uma interminável coleção de imagens religiosas que cercava a mesa peninsular da senhora: santos e santas, anjos e anjinhos, gnomos, fadas, enfim, qualquer fauna capaz de benção morava ao redor das mesas, disputando espaço com carimbos, bandejas de a responder e recebida, potes de canetas e de clipes. Ela parecia incapaz de imaginar que alguém pudesse sentir-se incomodado com tanto despacho na mesa. Na hora, me lembrei que no meu centro de ensino, na sala principal de reuniões, havia um crucifixo pendurado na parede, dominando todo o espaço, abençoando, em primeiro lugar, o presidente das sessões. Lembrei também que um colega de Departamento me acompanhou na queixa (bem humorada!) contra aquela intromissão da fé privada no espaço público. Chegamos a ponderar junto ao pendurador que ele não deveria fazer aquilo, colocar sua fé pessoal no espaço republicano da sala de reuniões. O dirigente, com humor aquoso, respondeu que ele era o diretor, e que o crucifixo era dele, colocava onde queria. O dirigente se foi, faz algum tempo, e o crucifixo foi ficando. Desde ontem, ao final da tarde, ele está à disposição do ex-dirigente.
Não pude fazer quase nada nesse meu nano mandato. Baixei o crucifixo da parede, por exemplo. É muito pouco. Eu gostaria de ser reitor, um dia, para baixar uma diretriz administrativa - talvez várias - que limpasse também essas mesas de santerias.

terça-feira, fevereiro 7

Chesterton (2)


Boas novas sobre Chesterton, obrigado ao Mestre Guina e ao Luis Valério. Temos então três possibilidades em língua nativa:
1) Chesterton, Ortodoxia, Editora: LTR Editora, ISBN: 8536101555, Ano: 2001.
2) Na tradução de Eduardo Pinheiro, Porto, Livraria Tavares Martins, 1974 (5.ª edição).
3) Luis Valério informa sobre um exemplar disponivel na Fapas, da mesma tradução de Tavares Martins, edição de 1958.
Gratíssimo.
Meu interesse súbito pelo Chesterton vem de duas fontes. Uma delas tem a ver com minha leitura do livro de Ernst Tugendhat, "Egocentricidad y Mistica" (ainda existem dois exemplares disponíveis na Cesma). O livro de Tugendhat é a melhor coisa que li nos últimos anos. Trata-se de uma ampliação muito bem feita do pequeno artigo que ele apresentou em Santa Maria, poucos anos atrás, ali no auditório do CCSH, sob o título de "As raízes antropológicas da religião e da mística". A palestra foi depois publicada no pequeno volume "Não somos de arame rígido", organizado pelo Valério Rohden e publicado pela Ulbra, em 2002. A Editora da UFSM costuma ter esse livro à venda. Vale cada centavo. Pois bem, depois desse artigo o velho Tuga entrou para valer no tema (raízes antropológicas da mística e da religião) e escreveu esse volume, publicado recentemente e já traduzido para o espanhol pela Gedisa. O livro é simplesmente imperdível. Não conheço nenhum texto que seja páreo para ele na qualidade do tratamento do tema, se a regra do jogo é a de falar da religião de um ponto de vista exclusivamente filosófico. É o tipo da leitura que nos estimula a querer ler mais. Daí entram esses autores que disseram coisas importantes sobre o tema, partindo de suas crenças: Chesterton, Simone Weil, C. S. Lewis seriam casos exemplares: gente que defendia credos particulares, mas com genialidade e graça. Tem mais sobre Chesterton, espero, amanhã.

segunda-feira, fevereiro 6

Chesterton

Alguém sabe de alguma edição em português da "Ortodoxia", de Chesterton? Cartas para a redação.

Maomeh

E como perguntou um blogueiro: mas se não tem imagem de Maomé, como sabem que é com ele?

Expandir?

Visitei o sítio do Mec e li um documento sobre o programa de expansão das Universidades Federais. Foram criadas recentemente quatro universidades federais: do ABC, do Pampa, da Grande Dourados e do Reconcavo da Bahia. Se eu somei direito, serão necessários nos próximos anos ao redor de 1.900 professores (para mais) e mais de 1.500 funcionários. As vagas docentes, segundo o governo, estão sendo tomadas emprestadas daquelas que ele deve às universidades já existentes (ao redor de 4.000, ocupadas por substitutos). As de funcionários, todos sabemos como vai o caso: à beira do caos em várias situações. Lembrando que a idéia de não dar aumento vem passando de governo a governo, há uma década, como fica essa história de "expandir"? Expandir o quê mesmo? Quem vai bancar e como essa expansão? E depois dessas quatro, novas em folha, tem mais seis universidades novas, a partir de unidades menores já em funcionamento. E é impressão minha ou quase não se fala nesses assuntos delicados?

quinta-feira, fevereiro 2

Desocupados

Para quem não sabe, presidi duas reuniões do Conselho do CCSH, na qualidade de Diretor Pro-Tempore, a convite do próprio Conselho. Na primeira reunião ficou decidido que haveria eleição do Diretor no próprio Conselho; na segunda, foi feita uma votacão secreta e uninominal, da qual saiu como eleito, com todos os votos dos presentes, o Prof. Rogério Koff.
Entre as razões pelas quais o Conselho decidiu pela escolha da lista tríplice no interior do próprio Conselho destacam-se duas que eu mesmo defendi junto aos conselheiros.
a) pelo Estatuto da UFSM o prazo para elaborar a lista tríplice termina no dia 26 de fevereiro;
b) no mês de fevereiro temos apenas um punhado de estudantes do CCSH em aulas; na melhor das hipóteses, trinta por cento; os demais não tiveram greve e somente voltarão em maio. A opção pela consulta à comunidade implicaria de duas, uma: consulta dentro do prazo, com esses trinta por cento; consulta fora do prazo, por volta do final de junho, com todos; a segunda opção implicaria descumprir o Estatuto da UFSM e deixaria o CCSH por seis meses com um Diretor pró-tempore. Diante desse quadro o Conselho optou pela eleição no interior do Conselho. Foi dado um prazo de oito dias para as inscrições, amplamente divulgado no Centro. Somente o Prof. Rogério se apresentou. Foi eleito por unanimidade. Isso inclui o voto dos estudantes presentes.
Algum desocupado (porém, de plantão!) chamou o que eu expus acima de "desculpas esfarrapadas". Disse ainda que essa escolha pelo Conselho atenta contra a democracia, bla-bla-blá e etc. De duas, três. Ou o desocupado queria que a eleição fosse feita em fevereiro, para que os estudantes do Curso de Economia e Arquivologia, etc, elegessem algum bigodudo, ou o desocupado queria que o Centro ficasse amornando o lugar até a metade do ano. A terceira é a seguinte: como diria o Marquês de Sade, "ainda um esforço se queres ser republicano..." Eu, hein?
Eu não vou falar sobre a concepção e a prática da democracia na UFSM, porque eu mesmo não sou desocupado, tenho mais o que fazer, e as pessoas deviam olhar melhor para o próprio rosto.
Vão se catar!