Bento Prado, Jr.
A última vez que vi Bento Prado Jr. foi em agosto de 1997. Estávamos no mesmo hotel em Belo Horizonte, participando do "Seminário Internacional de Filosofia Analítica e Pragmatismo". Ele levava na mão o livro de Giovanna Borradori, The American Philosopher (UCP, 1991), que lia com interesse. Comentei que estava lendo livros de Arthur Danto e isso valeu longas conversas, em caminhadas no campus da UFMG. Eu já o conhecia de outras oportunidades, mas foi ali que pude ter esse privilégio de conversar muitas vezes com ele, no bar do hotel, tentando acompanhá-lo no johnnie red, nos almoços e jantares do encontro. Não imagino, em nossas catacumbas filosóficas, quem possa ombrear com ele na amabilidade. Uma de suas tarefas era coordenar uma mesa de debates na qual os palestrantes se mobilizavam para apresentar propostas de fundamentação da ética. Com a maior simplicidade ele abria os debates perguntando a todos se, afinal, a ética era de fato carente de alguma fundamentação. Precisamos mesmo fundamentar a ética?
Eu estava contente e triste naquele encontro; pude conversar bastante com Susan Haack e apresentei meu paper para Richard Rorty, que foi de uma atenção particularmente surpreendente; ao final veio conversar comigo, fazendo sugestões para enriquecer a abordagem que apresentei. Mas eu estava triste porque meu pai, em Santa Maria, estava muito doente. Na ultima noite do colóquio houve um jantar na casa de um dos organizadores, findo o qual fomos, em um pequeno grupo, para uma casa noturna da moda em BH; ficamos lá até altas horas; Bento fez questão de pagar a conta. Quando chegamos no hotel, já madrugada, havia um bilhete para mim, de minha mulher, dizendo que meu pai havia falecido. Reparti a notícia e minha dor com Bento, Ghiraldelli e outros; não havia como viajar de volta na madrugada; no outro dia, cedinho, fomos para o aeroporto.