domingo, março 5

O homem da pedra (Rincão do Inferno II)


Alcíbio mora num rancho de barro sobre uma gigantesca rocha do Rincão do Inferno. Ele, a mãe, a sogra e o irmão moram sobre quarenta hectares de pedra, por generosidade de uma patronagem centenária. Eles não tem a escritura das pedras. No antigamente haviam duas lavourinhas, milho, mandioca, coisas assim, do tamanho de terreninhos urbanos, localizadas em intervalos entre as pedras e repartidas com as pacas e capivaras. Os cincoenta e tantos anos de pedra e sol hoje lhe pedem atividades mais amenas, como pequenas changas para os vizinhos, criação de abelhas, algumas cabras ariscas e duas dúzias de ovelhas. Sobre o nome do local ele diz que só o nome é feio: "Isso aqui é um paraíso." A luz é uma promessa, a água brota num fio de pedra, numa cacimba a cincoenta metros do rancho de barro. Ele caminha seis quilômetros para pegar um ônibus no Cerro do Malcriado, quando tem que carregar a bateria do celular, que fica ligado duas horas por dia.
Na foto, o rancho de barro, com Nenê sesteando. Repare na vista que ele tem do Rincão. Este é um dos tantos ranchos de barro ainda ativos na região. Eu visitei outros dois, no Passo do Salso, nas proximidades das Minas de Camaquâ: o do seu João e o do seu Pedroso. Ambos tem mais de sessenta anos, moram em lugares com vistas maravilhosas. Os três são negros.

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