segunda-feira, março 27

A democracia dos outros

O Prof. Paulo, ex da Ufesm, convoca as lideranças bocamontanas no Jornal "A Razão" de hoje para uma mobilização "para a defesa da manutenção da coordenação atual das atividades locais e da qualificação" e etecetera e tal, do Inpério, isto é, as atividades satelitais que ocupam aquela formosura de prédio que fica na direita de quem entra no campus. Expliquemos assim, no curto e grosso vernáculo: desde que o primeiro rabisco no papel foi feito o coordenador do Inpério é o mesmo. Registre-se que o dito cujo parece ser um gênio no assunto e nem a menor das minhas vírgulas questiona a competência do atual coordenador do Inpério. O porém é o seguinte: na democracia dos outros, vai tudo; na nossa, é diferente. O Prof. Paulo Jorge diz que a intenção da direção do INPE de substituir o coordenador da direção da subnidade local é uma regressão, é calar a voz da grande liderança das antenas, mesquinharia, etc. Eu, que nunca botei meus pés na tal da subunidade, mas que já tive que engulir as perguntas sobre afinal o que faz tanto vidro preto e tão pouco movimento (sem falar no panfleto recentemente publicado por uma casa editorial local, onde o que se lê são as loas de praxe a preço da praça) tenho uma perguntinha que é a de muitos: afinal, que instituição republicana é essa que tem o mesmo diretor faz uns bons - por baixo - dez anos?
Antes que me recriminem por falta de memória, eu me corrijo. Faz mais tempo, eu sei. Mas vamos dar um desconto. Dez anos de mandato equivalem a dois reitorados e meio. Que tal a gente ter um mandato dessa idade sem frescuras de eleição, nem direta, nem indireta? Já teve um caso importante na boca, eu sei, mas os tempos supostamente seriam outros.
Eta Prof. Paulo! Com todo respeito, uma no cravo e outra no bom senso da gente!
E o que dizer da coisa mesma, antenas e quetais? Com esses panfletos coloridos que começaram a circular por aí, quem somos nós para contestar, não é mesmo?

4 comentários:

Anônimo disse...

Troco de saco pra mala, e o assunto passa a ser 'o livro'. Onde estão os livros para alimentar nossa raquítica biblioteca de filosofia da UFSM? Sem meias palavras, quero deixar a crítica. Todos os professores do departamento lêem em pelo menos quatro idiomas. A grande maioria dos alunos, sobretudo os que estão entrando, e que precisam de mais seiva, lêem bem no máximo em dois idiomas. Os 'grandes livros', que estão nos outros dois ou três idiomas que só os professores dominam, estão nas salas particulares ou nos setores superiores. Como tudo poderia ser maior e melhor se os livros chegassem à larga. Mas eles não chegam (e o dinheiro existe para tal). Então as imundas, indecentes, ilegais e fragmentadas fotocópias que são postas como material de trabalho a cada semestre, continuam a se multiplicar. O guichê do DCE-Fotocópias é uma máquina de fazer contracultura, contrafilósofos, contra tudo que é de BOM. Leia no próximo trecho uma pequena história bem simples, como diz o professor Desidério.

Anônimo disse...

A lição de Nuno Nabais
Desidério Murcho

Quando entrei para a faculdade recebi uma lição do Professor Nuno Nabais de que nunca me esqueci. É uma ideia simples, como muitas das melhores ideias. E uma ideia importante pelo alcance que tem.

Uma das dificuldades sentidas por estudantes e professores de filosofia em Portugal é a escassez de bons livros de filosofia em português. Da pouca bibliografia existente, acresce o facto infeliz de muitos dos livros disponíveis serem maus, ou não muito bons. Dos bons, há ainda a lamentar más traduções, infelizmente nada raras.

É neste panorama que surge a fotocópia. As faculdades são máquinas imensas de fotocópias. Os estudantes estão de tal forma habituados à fotocópia, que acham normal fotocopiar um livro em vez de o comprarem — ou em vez de exigirem que o livro esteja disponível na biblioteca. E foi contra este pano de fundo que a voz de Nuno Nabais se fez ouvir, quando disse numa aula: "Comprem livros portugueses de filosofia e não os fotocopiem. Se os fotocopiarem nunca iremos mudar a situação difícil de não termos quase nada traduzido em português. Porque se fotocopiarem os livros portugueses, os editores portugueses não irão publicar outros livros de filosofia, que depois não se vendem e dão prejuízo".

Fiquei estupefacto. Nunca tal me tinha ocorrido. E Nuno Nabais continuou: "Não estou a dizer que não fotocopiem livros; mas discriminem entre o que se pode e o que não se deve fotocopiar. Fotocopiem os livros esgotados e os livros estrangeiros; os editores estrangeiros não precisam do vosso dinheiro e os livros esgotados não estão à venda. Mas comprem os livros portugueses, mesmo que só precisem de 1 ou 2 capítulos. Pensem que se não o comprarem, mais tarde irão precisar de 1 ou 2 capítulos de outra obra e ela não estará em português porque o editor português só publica à medida que vende. Se vender pouco, publica pouco. E somos todos nós que ficamos a perder."

Estas palavras marcaram-me. Na altura, eu era apenas um jovem estudante, acabado de chegar à faculdade. Hoje, conheço e participo modestamente no mundo editorial português e sei o quanto Nuno Nabais tem plena razão. Tenho lutado ao longo de anos para disponibilizar em português bons livros de filosofia, traduzidos de forma responsável. Nada ganho com o facto de se venderem muitos ou poucos livros. Mas se se venderem muitos, eu consigo convencer os editores a publicar mais. E com o passar dos anos, iremos ficando com um fundo editorial razoável de filosofia em língua portuguesa — um instrumento fundamental para o desenvolvimento do estudo da filosofia no nosso país.

Espero, caro leitor, que a lição de Nuno Nabais mude também a sua atitude em relação às fotocópias e que passe a discriminar entre o que se pode e o que não se deve fotocopiar.

Desidério Murcho

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Anônimo disse...

Vale mais um rabisco no assunto.
Mesmo que lêssemos todos quatro idiomas, ou pelo menos lêssemos com pleno domínio o inglês (coisa que pouca gente pode ter certeza que sim), ainda persistiria o problema do poder aquisitivo. Quem pode comprar regularmente livros importados ao preço que chegam aqui?

Anônimo disse...

Caro Ronái, como vais?
Ontem em Zero Hora o respeitado astrônomo Ronaldo de Freitas Mourão critica os US$ 10 milhões que o Brasil pagou para conseguir a viagem do astronauta Marcos Pontes na Souyz. Segundo ele o governo Lula deveria ter investido em pesquisa espacial e dar continuidade ao projeto do lançador de satélites, coisa que está em banho maria já há muito tempo. Partindo desta lembrança chego a teu post neste blog. Será que este povo que faz tanta festa por uma antena em Santa Maria tem idéia do que seja pesquisa científica? Na forma como o assunto é apresentado parece que decisões desta natureza se resumem mesmo apenas às conveniências políticas e pecuniárias do momento. Em um país um pouquinho mais sério dinheiro público seria investido em projetos realmente prioritários, mas isto é pedir demais, não é mesmo. Inté e abraços.