Os intelectuais
Em 1981 comprei o recém-lançado livro de Susan Sontag, "Ensaios sobre a fotografia", que dei por perdido semanas atrás. Na verdade eu o havia emprestado, e no final de semana ele reapareceu, obrigado, Laura. Abri o livro e encontrei dentro dele um recorte de jornal, da Folha de S. Paulo, sem data anotada. Era uma crônica de Paulo Francis, no tempo em que ele assinava "de Nova York". O título é "Suzy descobre o comunismo", e trata, por certo, de Susan Sontag. Eis como começa:
"Talvez intelectuais não devessem se meter em política. São muito voláteis e é uma ilusão que cultura e inteligência qualificam alguém para dar opinião política, assunto requer experiência, safadeza e pés na terra."
Claro que Francis considera a Suzy um exemplo disso, de alguém que escreveu bons ensaios literários, mas depois, na onda de escrever sobre o Vietnã, foi se meter com marxismo e política e disse bobagens, na opinião do Francis.
Dom Bressan lembra os intelectuais que parecem esquecer.
Talvez os intelectuais não devessem se meter em política, diz o Francis. Essa, a da conjuntura, por certo. Para que me entendam, prá que deitar conversas sobre ética e política, como o tal Paulo Betti? Pois o cuera não entende de nenhuma delas e se mete. A que ponto chegamos.
Me atraquei a ler o Max Weber hoje de tarde, sobre ética e política, prá compensar.
Tudo por causa do cutuco de Dom Bressan.
E agora vou me atracar no Dom Segundo Sombra. Esse sim.
2 comentários:
Caro Ronai
Embora não seja assunto novo, as relações entre o mundo acadêmico e a política miúda merecem análise mais demorada. A mim parece haver absoluta incompatibilidade entre a atividade acadêmica (republicana em essência) e a militância partidária. Basta ver a cena atual do país e a facilidade com que intelectuais (inclusive os de boa cepa) são manejados em nome de ideais duvidosos.
Em bom português: o companheiro presidente é herdeiro ilegítimo de uma velha tradição política de "nuestra latinoamerica". O partido é uma miragem. Os intelectuais fecham olhos, ouvidos e nariz.
É a modesta opinião de um admirador do seu festejado blog e do fino faro do amigo.
Concordo com Guina, sobre em que cesto colocar o Betti.
Deitar conversas sobre a conjuntura, com globais ou não globais, a mim parece, pode não ser a forma mais precisa de fazer a coisa (a discussão política, propriamente), mas não dá pra negar que os sujeitos podem opinar (mesmo sobre aqueles assuntos dos quais parecem nada entender) e que depois a folha publica e as pessoas opinam, e depois as discussões - estou pensando numa gurizada discutindo em sala de aula - se pautam por isso.
Esses tempos de idéias quentes podem ser um bom momento para esclarecimentos sobre de que cestos saem as opiniões "ouvíveis"?
Onde quem pode se meter e de que modo?
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