segunda-feira, dezembro 31

Intuição

Prometendo "passeios ecobiológicos", surge, no apagar das luzes de 2007, no vizinho município de São João do Polêsine, uma "Faculdade Antônio Meneghetti", que oferece um curso de Administração de Empresas. O jornal A Razão, de 29/30 de Dezembro de 2007 publica duas páginas de publicidade da dita faculdade. Nelas ficamos sabendo que haverá no curso algo como "Psicologia Financeira na Experiência Internacional com descobertas inovadoras sobre a Intuição".
Houve autorização do MEC, diz o texto.
Ontem eu assisti "King Lear", na interpretação de Laurence Olivier. Ao ler sobre esse novel curso me lembrei das palavras do vilão Edmundo: "Se seguires as instruções aí escritas, abres caminho a destinos gloriosos. Aprende: a ocasião faz o homem. Ânimo delicado não assenta a que usa espada."
Para que não leu a peça, o vilão instruía um soldado sobre o destino da dileta Cordélia.
Não sei porque, me pareceu que a frase rimava com o curso de Polêsine.

sábado, dezembro 29

Pedro Freire e Sérgio Assis Brasil

Pedro Mauá Duarte Soares Pinto Freire Júnior. Esse era todo o nome, grande como foi a importância do Freire. Junto com Sérgio Assis Brasil, deixam uma lacuna na vida cultural da cidade. Freire era um apaixonado pelo teatro, e marcou a cidade com seu trabalho na área. Era o que mais próximo podíamos ter de um Bogart gaudério e cosmopolita, ao mesmo tempo.
Sérgio era a generosidade em pessoa. Emprestava, com o mesmo despreendimento, tanto seus livros quanto o motordrive da Nikon F2, objeto de desejo de uma geração. Poucas semanas antes de morrer topou fazer comigo um projeto de fotografar o campus da Ufesm, para uns cartões postais. O caranguejo o levou antes.
A impressão que fico é que com a morte deles um ciclo começa a se fechar. O teatro e o cinema da cidade tem pouco a ver com o bogarismo do freire e com o romantismo do Sérgio.

Profae

Montei no matungo e voltei para casa, fui me instruir sobre o que é o tal do Profae.
O Profae é um projeto do Ministério da Saúde, "Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem". Ele começa por volta de 2000 e em 2003 estava esparramado pelo Brasil. Esse espraiamento incluiu a Ufesm, aFatec, etc. O Profae era um projeto coordenado pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, considerado o principal instrumento para a qualificação da força de trabalho atuante na área de saúde. A qualificação profissional de 225 mil auxiliares de enfermagem e 90 mil técnicos em enfermagem era a principal meta do Projeto. Cito um trecho de apresentação do Profae no sítio do Ministério da Saúde:
"Dentre as ações que visam o fortalecimento institucional, estão o Curso de Formação Pedagógica para a especialização de Enfermeiros; a Modernização e Criação de Escolas Técnicas de Saúde do SUS; a elaboração e implantação de um Sistema de Certificação de Competências Profissionais; e a implementação de um Sistema de Informação sobre o Mercado de Trabalho em Saúde, com foco em Enfermagem. (...) É o maior programa nacional de qualificação profissional do setor saúde em desenvolvimento no Brasil, abrangendo os trabalhadores que atuam na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, seja nos ambulatórios, postos e centros de saúde, rede hospitalar pública, privada ou filantrópica. Por meio da formação profissional dos trabalhadores da área de enfermagem, busca-se com o projeto conferir melhor qualificação técnica e preparação para a humanização dos cuidados em enfermagem."
O Profae era um cavalo encilhado, e foi montado na Ufesm, com toda a pompa e circunstância. Provavelmente a competência da Ufesm foi apresentada pelas autoridades de plantão. Convênios foram assinados e as burras da Fatec foram abarrotadas com milhares de reais. Até o Colégio Industrial teve (ou não?) curso de enfermagem. No início, o Profae funcionava perto de uma pró-reitoria da Ufesm, na gestão do Prof. S.. Depois foi removido para as dependências do Curso de Enfermagem. Depois, depois, eu não sei, mas parece que foi assumido por uma instituição privada no centro da Boca do Monte.
Assim vai o mundo. O dinheiro público começa na Ufesm, com todo o apoio de reitores e deputados e ex-ministros. Depois, amada, depois, ninguém sabe, ninguém viu.
Que venha 2008, para ver se a gente lembra de alguma coisa.

Enfermagem

Eu li em algum lugar, creio que foi em um informativo da Ufesm, que lá pelos anos de 2000 o Colégio Técnico Industrial, tinha um curso técnico em enfermagem, com quase dois mil alunos. Achei que estava lendo mal. Fui atrás, numa dessas páginas do sítio da Ufesm e de fato estava lá esse trecho:
"No ano de 2000 foi criado um novo curso técnico no CTISM (Técnico em Enfermagem).
O Colégio Técnico Industrial, em 2004, conta ainda com 1521 alunos matriculados no Curso Auxiliar de Enfermagem PROFAE e 813 alunos matriculados no Curso Técnico em Enfermagem - PROFAE: Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem. Estas turmas estão em andamento e por iniciar."
Ontem passei, só de curioso, no Colégio Industrial, para saber dessa coisa tão estranha, um curso de enfermagem em um colégio industrial, mas não passei da portaria. Perguntei se ali tinha um curso de enfermagem e o rapaz me olhou com pena, como se eu fosse um desmiolado. Onde se teria visto tamanha impropriedade, ele parecia dizer.
Eu montei no matungo e voltei para casa.
Onde teriam ido parar tantos alunos? Devo estar mesmo desmiolado. É esse sol, esse fim de ano.

O silêncio

O Prof. Sarkis, ex-reitor da Ufsm, rompeu o silêncio que mantinha desde a madrugada do dia 6 de novembro. Ele divulgou uma nota, por meio de "A Razão", na qual se queixa do tratamento incorreto que recebeu por parte de "jornal local".
O Diário de Santa Maria é o tal jornal local, por certo. O tom geral da declaração é familiar: "Jamais tive ciência de que qualquer atividade dentro desses contratos [Detran/Fatec/Fundae] fosse ilegal ou irregular."
Vai aqui um dos trechos:
"Em todos estes projetos, a minha participação se limitava à apresentação inicial da Instituição e de suas potencialidades na área em discussão. A discussão sobre a forma de operacionalizá-los, orçamento, forma de pagamento, texto de contratos ou outros ajustes, passava a ser feita entre os grupos diretamente envolvidos na execução do projeto. Quando a UFSM era parte nos acordos, os textos dos mesmos eram analisados pelas instâncias legais da Universidade. Quando a Fatec era contratada diretamente, cabia ao órgão interessado e à Fatec definirem os termos dos ajustes, nada tendo a ver, nesses casos, as instâncias da Universidade. Na relação Detran-RS/Fatec, minha participação se deu em duas reuniões ocorridas no Detran-RS. Na primeira, fiz a apresentação da UFSM e de sua qualificação, com base da experiência do Peies. Na segunda, testemunhei a assinatura do contrato Detran-RS/Fatec. Como a Universidade não era parte neste contrato, a sua execução e renovação se deu sem qualquer participação minha. Isto é verdadeiro, inclusive nas renovações de 2006 e 2007, fora do período da minha gestão na UFSM."
O trecho é rico em informações. Como diria Charles Travis, seguindo Frege, questões sobre a verdade dos enunciados são posteriores à questões sobre interpretações. Nesse caso fico na dúvida sobre os seguintes pontos:
a) como compreender a frase "apresentar as potencialidades da instituição na área", se, depois, a operacionalização do projeto parecia depender da contratação de empresas de fora, como a Pensant? A "potencialidade" estava fora da Ufsm, então?
b) a Ufesm não era parte no contrato do Detran, diz o texto; ela então apenas emprestou o terreno para a construção do prédio e emprestou um gerente que pertencia aos seus quadros? Esses empréstimos ocorreram então a que título? E os demais professores e estagiários de cursos da Ufsm que participaram do projeto?
Esse estilo de declarações tem se repetido e tem sido usado pelos atuais dirigentes da Ufms: a Ufsm nada tem a ver com esses projetos, são da Fatec, etc...
Em 2008 devem estourar outros escândalos envolvendo a Fatec. O mecanismo é o mesmo: dinheiro público que é trazido para dentro da Instituição, pela sua respeitabilidade; o dinheiro é trazido com fins nobres, por exemplo, para formação complementar de profissionais na área tal e tal. O dinheiro é guardado na Fatec, e o executor do projeto, algum professor respeitável, toma as decisões administrativas, faz despesas sem licitação, mediante a simples apresentação das notas fiscais. Isso envolve, porém, a estimativa de custos de prestação de serviços, de difícil avaliação. Essa é a porta aberta para um pequeno paraíso. Na origem, normalmente há dinheiro público. Eu digo "normalmente" porque em alguns casos o dinheiro do projeto abrigado na Fatec vem de empresas privadas. Milhões, diga-se de passagem. As empresas privadas usam a Ufsm para certificar produtos, por exemplo. O tempo de trabalho, no entanto, é da Ufsm, e por isso questiona-se, faz muito tempo, a singeleza da interpretação usualmente feita: se o dinheiro é privado, a Ufsm nada tem a ver com isso. Essa interpretação significa o esvaziamento progressivo do conceito de planejamento institucional, pois pesquisa-se aquilo que for demandado no balcão pessoal de negócios do professor.
Um reitor que entende que é bom para a Ufsm meter-se no trânsito tem um estilo. Como ele mesmo diz, que o tempo e a Justiça Federal que o julguem.

domingo, dezembro 23

quarta-feira, dezembro 12

Palestra

Está confirmada a palestra de Desidério Murcho, para amanhã, quinta-feira, às 15.00 horas, na sala 2323 do prédio 74. O tema será ensino de filosofia.

segunda-feira, dezembro 10

Senza Paura!


Longo lo cammino ma grande la meta. Contro il saracino seguiamo il profeta. Vade retro Satan. Vade retro Satan. Senza armatura, senza paura, senza calzari, senza denari, senza la brocca, senza pagnotta, senza la mappa, senza la pappa.

Pimenta e colírio

A culpa é da UFSM, me relataram os que ouviram o deputado Pimenta hoje, no jornal da tevê. Teria sido esse o tom das declarações do deputado. Na falta da tevê, li a nota, na coluna claudemirpereira.com.br; estaria eu lendo mal? O Claudemir me deu a impressão de ser mais um a comprar o boi pelo dinheiro pedido. Agora tudo é culpa da Ufesm. A emenda do deputado veio a cair na mão dos correligionários do cujo e a culpa é da Ufesm?
Ou seria da "quadrilha" a que o deputado se refere? Se é da quadrilha, o círculo formado pelas ações que começam com o deputado cedendo aos nobres apelos do ex-reitor é como a cobra do Paul Valery, que come o próprio rabo e se queixa do gosto de serpente que sente. A cena é comovente: um ex-reitor apela aos nobres sentimentos do deputado para fazer emendas. O nobre deputado fica sem saber o uso de suas emendas, snif, snif.
E o soneto, como fica? A instituição, o Conselho Universitário, quando vão se manifestar?
Se tem quadrilha, tem chefe. O chefe da "quadrilha" vai cair sozinho?
O MP quer as notas fiscais e o demonstrativo de pagamentos. É tão difícil isso? Não acho.
Vem bomba.

Gabriel

Na terça feira passada, dia 4 de Dezembro, foi feita uma homenagem ao Gabriel, com o lançamento de um livro de textos e fotos dele. Fiz algumas fotos da cerimônia, que estão em
http://gallery.mac.com/ronairocha

domingo, dezembro 9

Laboratório de Ensino

Terça, dia 11, 15.00 horas, haverá uma sessão de trabalho sobre currículo de filosofia para ensino médio na sala do Laboratório de ensino de filosofia, prédio 74. Entrada franca para estudantes e professores de filosofia.

sábado, dezembro 8

Zero Hora

"Mais uma vez o bom nome da Universidade Federal de Santa Maria está no meio de uma confusão". A frase, de Rosane de Oliveira na ZH de domingo, 9 de dezembro, é sobre o tema abordado por Iara Lemos no Diário: a emenda do Deputado Paulo Pimenta, destinada à UFSM, no valor de 150 mil reais, que acabou em meia dúzia de sapatilhas de balé. A ZH deu página inteira ao tema. Os versos cantados pelos personagens ouvidos são os de sempre: ninguém sabe, ninguém viu, ninguém é responsável por sapatilha nenhuma. O diretor da FATEC diz que, se houve erro, o problema é do pró-reitor. O pró-reitor diz que só tem a ver com a autorização financeira. Conclusão: esses projetos - existem dezenas deles - tem sempre um triângulo das bermudas.
Ou das calças curtas.
Mais uma vez a UFSM, onde tem tanta gente boa e tanto projeto correto, está no meio de uma confusão. E isso vai continuar, como adivinha quem olha para as fumaças.
Pedi uma vez e peço de novo para o povo da Reitoria e da Fatec: tornem pública a lista de todos os projetos abrigados na casa, com autores, temas e recursos, empresas de assessoria vinculadas, etc. E não me venham com a conversa de "cláusula de sigilo" que os executivos da Fatec usavam. Desde quando uma instituição de pesquisa de conhecimento aceita cláusulas de sigilo?
Acho que vou convidar o Mestre Guina para ser meu líder, eu fico como fiel escudeiro, e, com o apoio de dom Bressan e dos leitores do blogue, vamos montar um exército de Brancaleone e rumar para a Reitoria da Ufesm, rataplan, eia sus, oh sus e etc.

Diário de Santa Maria

O Diário de Santa Maria deste final de semana (8 e 9 de dezembro) traz uma matéria assinada por Iara Lemos, "Uma emenda e muitas dúvidas" que mereceria o primeiro lugar no jornalismo investigativo da Boca do Monte neste ano.
O Diário se recuperou ao longo do ano. A meu juízo, o jornal foi ingênuo no tratamento que deu ao assunto das antenas; comprou o boi pelo preço que pediram e com isso deu a impressão de fazer o papel de relações públicas do grupo que hoje está na berlinda.
A matéria da Iara é muito boa. A minha principal dúvida, depois de lê-la é sobre quem, na UFSM, foi o responsável pela proposição conceitual do projeto. Vamos aguardar os próximos dias, pois o assunto, pela natureza explosiva, vai dar o que falar. Parabéns à Iara Lemos!

Palestra de Desidério Murcho

Na próxima quinta-feira, dia 13 de dezembro, estará em Santa Maria o professor Desidério Murcho. Ele vai dar uma palestra abordando o tema do ensino de filosofia, na sala 2323 do prédio 74, no Campus, as 15.30 horas. A palestra é aberta ao público. O Prof. Desidério é um dos autores do "Arte de Pensar" e de muitos outros livros. Também é o responsável pelo sítio "críticanarede".

sábado, dezembro 1

Cachorros grandes no Projovem

O texto abaixo está no sítio do Ministério Público:
"Vereador Adeli Sell entrega dossiê sobre ProJovem à Polícia Federal.
O vereador Adeli Sell (PT) entregou ontem à Polícia Federal um dossiê apontando supostas irregularidades na administração do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), promovido pela prefeitura de Porto Alegre.
Ele espera que seja investigada a administração do projeto realizado pela Fundae, da Universidade Federal de Santa Maria, entidade envolvida no esquema de fraudes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), desarticulado há cerca de duas semanas pela Polícia Federal.
De acordo com o vereador, o ProJovem da Capital recebeu, R$ 11,2 milhões do governo federal, dos quais R$ 10,4 milhões foram repassados para a Fundae. "Não encontrei o delegado Ildo Gasparetto, mas deixei o documento no gabinete dele e confio na seriedade do seu trabalho", afirmou Sell.
Ele ressaltou também que o ex-secretário municipal da Juventude Mauro Zacher chegou a apresentar números divergentes sobre os alunos beneficiados. Sell alegou que no início do ano o então titular da pasta disse que havia 330 formados no programa e 1.621 prestes a concluí-lo. Porém, em abril, afirmou que seriam 1,2 mil formados, o que significaria uma reprovação de 751 alunos."
Sei não. Tem briga de cachorro grande nessa história. A Ulbra está assumindo o Projovem, depois do fim do contrato da Fundae. Há centenas de instrutores envolvidos, e muito desse dinheiro teve o destino correto, por certo. Se o grande argumento do homem do chapéu é a diferença de formandos, ao redor de trezentos e poucos, sei não... A ver.

Projovem

Volto ao tema do Projovem, que promete. O sítio da Presidência, como disse abaixo, informa o nome do responsável pelo Projovem no Rio Grande do Sul. Dei um copiar e colar:

"Porto Alegre/RS
Instituição Formadora: FUNDAE - Fundação para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura
Nome do Responsável: Professor Johanne Basso Vieira.
Porto Velho/RO
Instituição Formadora: FUNDAE - Fundação para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura
Nome do Responsável: Professor Johanne Basso Vieira".

O notável, diz uma leitora do blog, em conversa pessoal, é que não se trata de um professor, e sim de uma professora.
O sítio da PR, com todo o respeito, informa erradamente. A ver.