Filosofia (2)
Enquanto isso, a "Discutindo Filosofia" número 4 também chegou nas bancas. O que dizer? Uma matéria central sobre Levinas, duas páginas de lógica (Os caminhos do raciocínio, na foto, abordando - veja lá, Prof. Sautter, dedução, indução, hipótese, verdade, validade, bem que o povo tenta), uma matéria sobre Heidegger, na qual está escrito que: "Existindo, o ser-aí vem a ser. Por meio desse exercício, ele se estabelece no mundo, utilizando as coisas que o circundam, ocupando-se delas em virtude de levar a cabo, etc.",
Ufa. Acho bom o pessoal aceitar o convite deles e mandar alguma coisa para lá.
6 comentários:
Bem, quanto a essa... Passei os olhos pela investida na lógica e desisti de levá-la...
Será que o Frank já viu?
Prezado Ronai,
Foi com surpresa que esbarrei em seu blog, onde se encontra menção direta a uma crônica de minha autoria.
Na boa, gostaria muito de saber o que há de tão errado em tentar levar à lógica ao grande público, utilizando um esquema de idéias concebido por um dos mais notáveis lógicos do século XIX. Basta consultar "Deduction, Induction and Hypothesis" in The Essential Peirce Volume 1, Indiana University Press, e verá que não fiz mais do que transpor para uma linguagem mais acessível o pensamento de C. S. Peirce.
E na verdade, gostaria muito que o Prof. Sautter avaliasse o resultado, pois imagino que ele não irá desprezar a Peirce, já que é um pesquisador que participa dos encontros sobre pragmatismo na PUC.
Cordialmente, com toda sinceridade.
Renato Kinouchi
Centro de Ciências Naturais e Humanas. Universidade Federal do ABC.
Prezado Renato,
revendo meu texto reconheço nele uma ambigüidade. Temos conversado por aqui sobre as dificuldades didáticas de ensinar a noção de validade aos nossos alunos; parece ser essa uma das dificuldades iniciais importantes na vida do aluno. Tentamos, mas nem sempre conseguimos; era a isso que eu aludia.
Aproveito para dizer que partilho de tua admiração ao pensamento de Peirce.
Assim, lamento que tenha havido esse mal-entendido, fruto da ambiguidade da minha postagem, pela qual te peço desculpas.
Quanto à forma de expor Heidegger para jovens, continuo achando que estamos distantes de boas soluções.
Cordialmente,
Ronai
Ok Ronai,
Eu havia ficado mesmo nessa ambiguidade. Não entendia se estava sendo mencionado como um bom ou mau exemplo. Mas tendo em vista o primeiro comentário ao post, julguei que precisava me manifestar.
O fato é que estamos todos no mesmo barco. Na verdade, eu também faço críticas a certo modo obscurantista de divulgar a filosofar. Mas temos que ocupar os espaços. E tenho para mim que a coordenadora da DF, na realidade, adora receber material de pessoas com boa experiência em ensino.
Cordiais saudações, Renato.
Prezado Renato.
Escrevi recentemente um trabalho sobre uma proposta de Desidério Murcho, de Portugal, para uma epistemologia da argumentação. Contudo, antes de submeter o trabalho para a revista Cognitio, da PUC-SP, enviei uma versão preliminar para o próprio Desidério, solicitando sugestões. Recebi uma resposta de duas páginas, a maior parte constando de objeções. Fiquei, inicialmente, chateado, mas depois percebi que o meu comportamento refletia em parte o meu temperamento e em parte a falta de hábito, na comunidade acadêmica brasileira, de receber críticas construtivas. Incorporei, então, algumas sugestões ao trabalho.
Conto este episódio porque, embora tenha grande admiração pelo trabalho que você e seus colegas da revista “Discutindo Filosofia” estão realizando, tenho algumas objeções a fazer.
Minhas objeções dizem respeito ao modo como você distingue validade de verdade. Você identifica validade com sintaxe e verdade com semântica. Primeiro: a validade de argumentos pode receber tanto um tratamento semântico como um tratamento sintático, por isso é que se fala em ‘conseqüência semântica’ e ‘conseqüência sintática’, respectivamente. Segundo: no caso de verdades lógicas ocorre o mesmo: verdades lógicas podem receber tanto um tratamento semântico como um tratamento sintático (trata-se de um caso especial de conseqüência semântica e um caso especial de conseqüência sintática, respectivamente). Terceiro: para distinguir em geral verdades de falsidades não há tratamento sintático nem tratamento semântico adequados (basta considerar os casos de verdades primitivas e de falsidades primitivas). Quarto: uma vez que estão sendo comparadas uma noção da dimensão lógica (validade) de uma noção da dimensão extra-lógica (verdade), talvez fosse melhor comparar noções que se aplicam à mesma categoria de entes: validade (dimensão lógica) e correção ou solidez (dimensão lógica e extra-lógica). Quinto: para distinguir o lógico do extra-lógico talvez o mais simples ainda seja distinguir entre forma e matéria, embora isso colabore para propagar os prejuízos contemporâneos de alguns setores da filosofia contra a lógica, por exemplo, que a lógica é vazia, etc. Entretanto, há outras características da lógica que podem auxiliar a distinguí-la de outras disciplinas, sem esses prejuízos: sua pretensão de universalidade, sua neutralidade tópica, etc.
Para concluir, quero, na condição de alguém que acalenta realizar um trabalho semelhante em prol da difusão da lógica, parabenizá-lo pelo trabalho realizado. Que as objeções acima possam ser o início de uma troca de idéias sobre a melhor maneira de apresentar a um grande público as noções espinhosas mas fundamentais da lógica.
Cordialmente,
Frank Thomas Sautter
Universidade Federal de Santa Maria
Prezado Frank,
Não se preocupe em criticar o trabalho. Não gosto de ficar citando o mesmo autor, mas vale o que Peirce dizia a respeito dos seus própros trabalhos: se alguem encontrar erros no meu racicionio, informe-me o quanto antes, pois sou o maior interesado em saber.
Achei muito pertinentes suas colocações. Quanto ao privilégio por mim dado a diferenciação validade/verdade como um reflexo de sintaxe/semântica, você pode ter razão em dizer que talvez a melhor forma de abordar seria via forma/conteúdo. Vou apenas colocar as razões da minha escolha.
A coluna de lógica saiu do seguinte episódio. Originalmente sou psicólogo (mas estudei três anos de engenharia). O então coordenador da revista pediu-me para que eu falasse sobre filosofia clínica. Eu disse que não conhecia, mas que se ele quisesse algo realmente terapêutico, o melhor seria ensinar lógica aos leitores. Ele perguntou-me se eu faria isso. Eu disse que faria mas sob um ponto de vista "instrumental".
Comecei colocando Aristóteles de lado (pois acho o tratamento clássico do silogismo muito complicado, e muito decoreba). Comecei por diagramas de Venn, por achar que é a maneira mais simples de VER uma consequencia lógica. Fiquei três meses nesse assunto. Ia começar a apresentar tabelas de verdade, mas temo que os p's e q's acabam afastando o leitor iniciante. Busquei então em Peirce uma classificação metodológica entre dedução, indução e hipótese (neste no. 4).
Tenho combinado com a editora mais dois ensaios. O próximo vai ser mais epistemológico, sobre o embate logicismo X psicologismo. Pretendo fechar minhas colaborações com uma reflexão sobre falácias (mais especificamente sobre o fato de 70% das pessoas entrarem na afirmação do consequente).
Bom, depois disso acho interessante eu deixar espaço para outros autores. Mas não gostaria que a coluna de lógica morresse. Por isso, insisto no ponto de que outros autores (com vontade de explicar ao invés de complicar) devem mandar ensaios para a nova editora, a Marta.
Obrigado por suas colocações. Espero que um dia nos encontremos num desses encontros quaisquer.
Renato.
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