terça-feira, outubro 31

Barravento



Na descida do Elevador Lacerda, dois rapazes conversavam, afinal, qual é mais bonita, Rio ou Salvador? Um deles, pasta de vendedor na mão, Rio, Rio, Salvador é bonita aqui na parte de cima, lá embaixo é uma miséria.
Rio ou Salvador? Duas cidades belíssimas, sob muitos aspectos; as duas estão quebradas; o Rio, cada vez mais sem perspectivas, os cinturões de miséria apertando o pescoço dos branquelos. Salvador não fica muito atrás em alguns aspectos, ao menos; é uma cidade quebrada, orçamentariamente. Igual ao Rio Grande do Sul. É a cara do Brasil. Tem hotéis de primeiro mundo e muita pobreza ao lado. Tem menos violência, por certo. Para se ter uma idéia do país em que vivemos, é recomendável pegar um ônibus e dar um passeio em Salvador. É possivel tomar chope nesse bar, o Barravento, até a uma hora da manhã, e caminhar meia hora pela calcada da Avenida Oceânica, até a região dos hotéis, sem ser incomodado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara do Brasil...

Parece que uma coisa é certa: contrastes há em toda parte, de beleza e feiúra, de riqueza e miséria, de alegria e tristeza, de solidariedade e indiferença, entre tantos mais. Numa metrópole como o Rio, tem tudo disso. Não escapa nenhuma, nem Porto Alegre, Sampa, Fortaleza, nem ficaria de fora Salvador e todas outras.
Penso que a maior virtude desse nosso chão está no povo, que de norte a sul é pacífico por natureza. Quando digo isso, não ignoro a violência urbana, própria do desajuste social, da vida caótica e meio sem sentido que parece ser o cotidiano da gente brasileira. É que se a natureza não fosse dócil, não se aceitava tanto abandono, tanta insegurança. Há quem diria que se andamos à 1h da matina costeando a orla de Salvador estamos correndo um grande risco de não chegar ao destino. E se nada acontece, pode ter sido coincidência ou acaso? E não pensem as pessoas que não se anda feliz da vida pelas ruas do Rio, exatamente na madrugada. Depende onde, como, com quem. Depende do espírito do momento. Do nosso e daqueles que estão por perto.
Daí que eu ainda acho que a índole do povo é pacífica, porque todo mundo torce pra, no meio de tanta incerteza, gozar desses momentos de paz e de (aparente) segurança. Talvez seja isso que nos preserva quando pegamos uma estrada desconhecida pra nós, mesmo no seio do nosso país. É como se pudéssemos confiar que estamos bem acompanhados. Em todo canto vamos ouvir um som familiar... alguém rezando pelo filho que saiu de casa, alguém agradecendo ter sido poupado de algum padecimento, alguém exclamar efusivamente o reencontro com seus afetos, alguém cantando as belezas da terra e da gente.

Abraço forte,
Lisete

Anônimo disse...

Vamos a ver. Eu acho que boa parte dos problemas do Brasil é este "pacifismo do povo". Nestes dias de greve no setor aéreo fossem os brasileiros um tanto mais raçudos e várias cabeças coroadas teriam sido cortadas. Lembro sempre do Orson Welles, que no filme "O Terceiro Homem", diz mais ou menos isto: "Na Itália, durante 30 anos sob os Borgias, houve guerras, terror, assassinatos, sangue. Eles produziram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. Na Suíça, tiveram amor fraternal, 500 anos de democracia e paz. E o que produziram? O relógio cuco". Mal comparando Brasil e Suiça acho que esta passividade bovina da grande maioria, esta tendência de achar que tudo vai bem pois deus é brasileiro e ainda por cima fala em bom portugues, ainda vai nos dar muitas dezenas de anos de desapontamentos. Bom final de semana.
Aguinaldo Severino