quarta-feira, junho 29

O homem amoral

É possível, para um ser humano, colocar-se completamente fora do âmbito da moralidade? Ele seria alguém que perguntaria “Por que eu deveria ou precisaria fazer tal e tal coisa?” e isso ficaria sem resposta. Esse é o ponto de partida de um excelente livro de introdução a ética, recentemente lançado no Brasil, de autoria de Bernard Williams. Ele começa exatamente com esta cena de discussão com alguém que pretende ficar fora do âmbito da moralidade, daí decorrendo essa expressão, o ‘homem amoral’. Esse é o primeiro livro de Bernard Williams (1929-2003) traduzido em nosso país. BW, para quem não sabe, era professor em Oxford e Berkeley, e foi um dos filósofos que muito contribuiu para aumentar as pontes entre a dita ‘filosofia analítica’ e a ‘filosofia continental’, mostrando que o mundo é um pouquinho mais complicado do que a vâ dicotomia entre a turma do mal e a turma do bem. Vale a pena ler o livro. Saiu pela Editora Martins Fontes, neste ano, com o título “Moral: uma Introdução à Ética”. O segundo capítulo será de grande auxílio para quem leciona precisa enfrentar discussões sobre subjetivismo e relativismo na moral.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá pessoas!
O "Moranafilosofia" criou um ótimo espaço para diálogos. Demorei um pouco para manifestar-me, estava tímida(um pouco curioso para quem faz teatro). Mas enfim, como sou nova na área, estive um tanto reservada. Entretanto, sem descretitar os outros textos, não pude não expressar algo em relação ao tema da ética.

Tenho dúvidas sobre os conceitos de ética e moral, quer dizer, eles são equivalentes?
Se: as vezes, quando sim e quando não?
A moral é um conjudo de regras e leis ou uma conduta, uma atitude? Fico pensando na relação da moralidade ou do que é moral diante das transformações do Homem em toda História, pois o que foi considerado errado ontem, hoje não é mais e vice-versa.

Existiria então um princípio moral que é permanente no Homem, inato? Parece que não. Porém, mesmo indicando-se que não há uma lei ou regra absoluta, permanente que sirva para diversas culturas e épocas, não dá para negar que existe sempre uma ética ou moral vigentes para nosso comportamento social. E por outro lado isso propoe outra dúvida: se a ética ou a moral(ainda não consigo diferenciá-las)são condições impostas pelo mundo exterior ao Homem ou se parte de uma necessidade interior do Homem para relaconar-se em sociedade.

Parece-me que as duas coisas acontecem. E tem mais, até que ponto uma ação ou atitude moral está em função do outro, do social e quando ela está no indivíduo?

Considere-se a ação de roubar. O sujeito A e o sujeito B estão sem dinheiro e decidem roubar o sujeito C. Porém, o sujeito A não consegue praticar a ação porque considera roubar errado. O segundo(B) considera que roubar de quem rouba não é errado, porque o sujeito C é o prefeito da cidade e usa dos impostos para usofruto particular. O sujeito A sente-se honesto. Mas para o sujeito B sua atitude não é desonesta. Ele decide roubar e dividir o roubo com outras pessoas em situação semelhante. Se o sujeito B fosse pego em sua ação contraventora como seria julgado?

E aí colegas, quais suas opiniões?

Semelhante situação encontramos na obra "Antigona" de Sófocles. A atitude da personagem é errada em relação à lei vigente, ela é contraventora para o Estado, que detém o poder. Mas, entre seus concidadãos sua atitude é justa e nobre. Mesmo assim a filha de Edipo é condenada.
Como se trava a relação da moral e do poder?

A moral varia entre diferentes classes sociais, vale lembrar os assaltos em massa a supermercados há algum tempo, e o conto de fadas do justo ladrão "Hobby Wood"(não tenho certeza da grafia).

Lembrei-me da tão citada tragédia Edipo Rei, que dá início a triologia em que Antígona está inserida, pois o sentimento de culpa do personagem central só manifesta-se depois que ele toma consciência que sua esposa é sua própria mãe, que o sujeito que matara é seu pai.
Parece-me que a ética e a moral trabalham sobre a consiência reflexiva da ação, parece que relacionam-se justamente com uma certa reflexão da atitude dos Homens.
Interessei-me muito pelo tema, gostaria de referências para leituras. Raquel.

Ronai Rocha disse...

Raquel, achei ótimas tuas observações e questões. Vamos ver se a turma se entusiasma em debater esses tópicos. Eu estou pensando nelas e pensando em alguns textos que podem nos ajudar. Mas não resisto em te contar a solução que minha sobrinha Natália teve para a seguinte pergunta que eu fiz para ela, dias atrás. Conversa vai, conversa vem, eu perguntei para ela como ela fazia para saber se uma coisa que ela estava fazendo era certa ou errada. Ela parou, pensou uns segundos e saiu-se com essa: "Eu olho bem fundo nos olhos da minha mãe." Um bom enfoque desses temas todos tem que dar conta disso, não? (Ronai)

Anônimo disse...

olá!
Gostaria de registrar algumas colocações sobre o texto de Bonhoeffer que encontra-se disponível nos arquivos.

A relação que o autor estabelece entre palavra e verdade revela, ao que me parece, uma investigação acerca da atitude ética.

Após ler e reler o texto fiquei um tanto paralizada, até consegui levantar uns tópicos a fim de compreender o texto, mas, embora eu conseguisse idicar algumas colocações importantes do texto, foi curioso como o esclarecimento do mesmo ocorreu durante o meu cotidiano.

O autor comenta que para falar da verdade é necessário compreeender que ela significa diferentes coisas em função de diferentes lugares e situações.Logo no iníco, deixa claro que há um compromisso de verdade que deve imperar no relacionamento humano, um compromisso que o autor dirige para com Deus, e trata-se, ao meu ver, de uma conduta ética.

Numa altura do texto, o autor lança a seguinte frase:
"dizer a verdade é coisa que se deve aprender" e complementa dizendo que quanto mais variadas forem as circunstâncias e situações em que o ser se encontra, mais difícil será de manter seu compromisso com a verdade.

Como aprender a dizer a verdade se difini-la é tão difícil? Quero dizer, quais são os padrões ou critérios que determinam a verdade?

Gostei muito de algo que o autor expõe como "as diversas ordens da vida" e que "cada palavra deve continuar no seu lugar".

Domingo a noite ocorreu o seguinte fato: minha filha tirou os sapatos e por estar muito frio eu perguntei a ela: eu busco outro sapato, voce o calça? sim, eu calço ela respondeu.
Quando eu voltei com o sapato, ela recusou-se a colocá-lo. E respondi "Clarisse! a sua palavra foi outra"
Fui surpreendida por minha própria fala, pois nesses casos eu geralmente digo a ela, o nosso trato , o nosso combinado, nossso acordo, termos assim, mas palavra?
A nossa palavra foi outra?

Lembrei-me do texto imediatamente quando disse aquela resposta a minha filha. A verdade da palavra viva que o autor se refere é o compromisso com a própria fala, não com a verdade do significado da fala apenas, mas com o cumprimento da ação e atitude que sua falar representa , afinal, falar é fazer.

E nesse sentido, o autor fala das ordens da vida e de como elas não se respeitam mais, como a palavra está perdendo seu peso, quando as palavras perdem suas raízes, diz o autor, "a palavra perde também em verdade"

ok, tenho mais colocações para fazer num outro momento. Raquel