domingo, julho 30

Ontopsicologia?


"A Razão" do final de semana traz uma matéria de capa e um caderno especial sobre Antonio Meneghetti. São quatro páginas dedicadas ao "guru dos empresários". Que ele tenha valor jornalístico, não duvido. O tom, no entanto, foi devocional.
Nada tenho contra empresários que se provém de gurus. Cada um tem o guru que merece. E que bom para São João do Polêsine o movimento existente por ali, impostos, iptu, etc. Se o jornal quis entronizá-lo como personagem inatacado de nossa vizinhança, não vamos esquecer que, do ponto de vista científico, o buraco é mais embaixo.
Assino embaixo do que escreveu sobre ele o Renato Zamora Flores, que começa assim:
"Lógico, coerente e errado o suficiente para o prejudicar. Apresentam-se como revoluções no conhecimento mas não passam de fachadas para outras intenções, direcionadas ao seu ponto mais frágil: o bolso. E o que chamamos de pseudociências: um conjunto de afirmações que parecem ter passado pelo pente fino da verdade, mas que não passaram, entretanto, por crivo nenhum, utilizando-se de truques de raciocínio e até mesmo de inverdades para iludir incautos - e alguns nem tão incautos. De modo geral, são divulgadas com alarde por indivíduos inteligentes, bem-falantes e que, por acaso, ganham muito dinheiro com elas."
Em resumo, a ontopsicologia é uma charlatanice. Simples assim. Faz muitos anos li um ou dois livros desse pequeno bando. Trata-se de uma literatura que pratica, deliberadamente, aquilo que o velho Ludwig chamaria de "confusões categoriais". A prática deliberada de confusão conceitual tem nome.
Veja o site com o texto de Renato em
http://www.str.com.br/Str/charlatao.htm
A foto, como diria o mais novo diretor de vídeos de São Paulo, é um exercício sobre metáforas.

sexta-feira, julho 28

Saiu


Saiu. E já chegou na Cesma, por módicos cincoenta e cinco pilas. Mas lembre que são seiscentas páginas. Fiz o melhor que pude para que o texto ficasse bom. E a editora da Unijuí caprichou. A primeira parte do livro é simplesmente imperdível para qualquer estudante de filosofia, qualquer que seja o lado do cujo. E a segunda parte faz a diferença na vida de um gauchinho.

Filosofia (2)


Enquanto isso, a "Discutindo Filosofia" número 4 também chegou nas bancas. O que dizer? Uma matéria central sobre Levinas, duas páginas de lógica (Os caminhos do raciocínio, na foto, abordando - veja lá, Prof. Sautter, dedução, indução, hipótese, verdade, validade, bem que o povo tenta), uma matéria sobre Heidegger, na qual está escrito que: "Existindo, o ser-aí vem a ser. Por meio desse exercício, ele se estabelece no mundo, utilizando as coisas que o circundam, ocupando-se delas em virtude de levar a cabo, etc.",
Ufa. Acho bom o pessoal aceitar o convite deles e mandar alguma coisa para lá.

Filosofia ...


Saí da Ufesm hoje à tardinha e passei no centro, na banca 24 horas, para ver as novidades. Na porta da banca havia um enorme cartaz de divulgação de uma revista nova. Para minha surpresa, o título da revista era ... "Filosofia". Pedi um exemplar, haviam apenas dois à venda. Perguntei ao rapaz quantos exemplares ele havia vendido e quase caí para trás com a respostas: "Ela chegou na quarta-feira, cincoenta, está sobrando só uma."
Impressões iniciais: mais bem cuidada grafica e editorialmente que a "Discutindo Filosofia"; é feita por uma editora chamada "Escala", em São Paulo. Este número, o primeiro, que tem uma campanha bem apoiada pelo cartaz, e que apostou muito nas vendas - mandar cincoenta exemplares para uma banca de Santa Maria? - traz uma entrevista de oito páginas com Osvaldo Giacoia, uma matéria central intitulada "Você sabe tomar decisões?" e outras sobre eutanásia, filosofia com crianças, angústia e Heidegger, ética no trabalho.
Aí vou ver quem está no conselho editorial. É, como diria o mestre Guina, um pequeno bando: um professor da Universidade Federal do Espirito Santo, três do Centro Universitário São Camilo (?), Lucio Packter (chefe dos filósofos clínicos...) e aí vem mais um, dois, três, quatro e cinco dos packterianos. Com ele, seis ao todo. Aparentemente, a revista é porta-voz dos tais clínicos. Diz o editorial: "Não é de auto-ajuda, mas pode auxiliar bastante em seus dilemas cotidianos: assim é o projeto dessa revista". Contei doze páginas de defesa e divulgação explícita da filosofia clínica, incluindo uma invocação de Wittgenstein e do conceito de "jogo de linguagem" para fundamentar o procedimento de trabalho com o "partilhante".
Vou tentar ler o resto.
Ah! Deram ao Ghiraldelli Jr. uma coluna de duas páginas. Ele se apresenta como "O filósofo de São Paulo". Eita, como diria a Rosana.

terça-feira, julho 25

Festival de Inverno


Todas as noites, no Festival de Inverno de Vale Vêneto, tem concertos abertos ao público. A série foi aberta com a apresentação do Quinteto de Sopro, na Igreja. Foi belíssima. O grupo, formado por músicos de Santa Maria, liderados pelo Prof. Jordelei Santos, tem apenas alguns meses de idade. Trata-se de uma formacão clássica na área de sopro, como Canadian Brass, Empire Brass Quintet, etc. Esse povo de Santa Maria é muito bom, e foi recompensado por uma platéia cheia. Vale a pena assistir uma apresentação deles.
Logo depois, no salão do colégio, foi a vez dos concertos dos professores do Festival. Primeiro tocou Eduardo Meirinhos, violão. Eu não sou da área, não sabia quem era o cara. Logo de cara ele tocou uma peça de Leo Brouwer, chamada "Variações sobre um tema de Django Reinhardt" que arrasou. E por aí ele foi destruindo. Gogleei ele hoje e descobri que o sujeito é referência na viola, cedês gravados, peagadê no pinho. Depois entrou Brian Zator, um mágico na marimba, deixou todo mundo de boca aberta com a delicadeza das peças que tocou. Zator é americano do Texas, músico, professor de percussão, outro arraso.
Hoje eu tinha compromisso por aqui, não deu para ir. Se foi parecido com ontem...
O clima é o da foto, só música na noite. E para os boêmios, o bicho pega no bar da dona Romilda depois das dez da noite.

domingo, julho 23

Dois novos links


Acrescentei na lista ao lado dois links. Um deles é para o blogue do Mestre Guina, com importantes dicas de blogues de ciências, entre outras coisas; o outro é para algum fotografismo de final de semana. Neste final de semana cliquei a meninada do Grupo de Percussão de Camobi, um belo trabalho que foi apresentado na tarde cinzenta do domingo.
Vale lembrar que amanhã, segunda-feira, tem apresentação do Quinteto de Sopro por volta de 18.00 horas em Vale Vêneto.
Aproveito para agradecer ao Frank a dica do "Mercador de Veneza", com Al Pacino no papel de Shylock. Demais de bom!

Tanques invadem Vale Vêneto


Tanques invadem Vale Vêneto
Originally uploaded by ronairocha.
A semana cultural de Vale Vêneto não é mais a mesma.

quinta-feira, julho 20

Carlos Gerbase e a jornada de Lula

Para quem curte a elaboração de roteiros e tem uma idéia do tema da jornada do herói, o texto de Carlos Gerbase que está no endereço abaixo é imperdível. O que Carlos Gerbase fez foi colocar Lula no lugar do personagem da jornada do herói, em especial para dar seu pitaco sobre os motivos e causas do prestígio que ele desfruta no imaginário popular. Vale a visita. Obrigado ao Pedro pela dica.
http://www.nao-til.com.br/nao-82/jornada.htm

terça-feira, julho 18

Si non e vero e bene trovato

A entrevista de Marcola que se encontra em diversos sites da internet é o assunto da hora de muitas rodas da classe média brasileira. Li, acho que não é verdadeira; que ele leia Dante, não me parece o ponto; as perguntas são patéticas, o texto tem um tom pseudo geral, e o autor se trai nas "soluções" que coloca na boca do Marcola. Agora, reconheço que algumas passagens fazem sentido nessa geléia em que vivemos. Se você ainda não leu, de uma gogleada em "marcola entrevista". Vai entender o pânico branco. By the way, se o Marcola leu Dante, ao menos não citou corretamente. Mas isso importa?

quarta-feira, julho 12

Discutindo Filosofia

Transcrevo o mail que recebi, que pode ser do interesse de algum leitor:

"A revista DISCUTINDO FILOSOFIA está recebendo colaborações para a edição n°5.
Trata-se de uma revista de divulgação que integra um projeto didático da editora Escala Educacional. O projeto, em linhas gerais, é o seguinte: uma revista de filosofia voltada para o público do ensino médio, mas lida também por universitários ou pessoas interessadas no assunto. Em especial, para este número, estamos interessados em um texto de 6 páginas sobre a obra e o pensamento de Freud. A revista tem uma tiragem de 40.0000 exemplares e tem tido boa aceitação. Em parte porque há um crescente interesse social pela filosofia, em parte porque a filosofia enquanto disciplina curricular do ensino médio carece de material paradidático e em parte também porque a revista tem um preço de mercado bastante acessível R$6,90. O n°1 alcançou o total de 20.000 exemplares vendidos, o n°2 17.000. Não sabemos ao certo o quanto o n°3 vendeu, mas deve estar em torno desta média. A expectativa é que a circulação da revistaaumente, especialmente em razão da aprovação, pelo Conselho Nacional de Educação, da obrigatoriedade da disciplina no ensino médio em todo o país.
O n°4 da DISCUTINDO FILOSOFIA, que trás Lévinas na capa, deve chegar às bancas nas próximas semanas. Gostaria de convidar a todos a colaborar, escrevendo para a revista. Os textos são curtos, devem adequar-se ao público alvo (os alunos do ensino médio) e podem versar sobre os mais variados temas do campo filosófico. Todas as colaborações serão remuneradas, embora ainda seja bastante tímida. Em anexo segue esclarecimentos que explicam em detalhe o que se espera das colaborações. Terei prazer em dar maiores informações aos interessados. Os que quiserem conhecer os números anteriores, ao menos o índice e alguns textos, podem consultar a página eletrônica da revista:
http://www.discutindofilosofia.com.br
Nela também estão contidas informações sobre assinatura.
Agradeço a todos a atenção e as possíveis colaborações. Igualmente, agradeceria imenso a gentileza de divulgarem o lançamento do n°4 e o pedido de colaborações para o n°5. Ponho-me à disposição para qualquer outro esclarecimento.
Cordialmente,
Marta Vitória de Alencar
Coordenadora geral
Profª de filosofia da Escola de Aplicação FE/USP"

terça-feira, julho 11

"Vendo um crioulinho"


Dias atrás passei no prédio antigo do Forum, atual Centro Cultural do Município, para dar uma olhada. Visitei o Arquivo Municipal e conversei um pouco com a estagiária que ali trabalha. Entre outras coisas perguntei para ela qual seria o documento mais antigo ali existente. Ela abriu a gaveta da escrivaninha e me mostrou uma folha A4, amarelada, que conteria, segundo ela, um contrato de compra e venda de um "crioulinho", datado de 1867. Hoje voltei lá e fiz uma foto do mesmo, da qual transcrevo aqui o que entendi.
"Pelo presente escripto de venda declaro, que sou senhora e ligitima possuidora, de um crioulinho por nome Fernando, de idade trêz annos pouco mais ou menos, livre de hypotheca, embargos ou outra qualquer obrigação; e com todos os achaques vizíveis ou invizíveis, dele faço venda como pelo presente vendido tenho ao (...) Joaquim da Silveira, pelo preço e quantia entre nós ajustado de seis-cento e cincoenta mil réis - que recebi do presente em moeda legal; ficando (...) Silveira obrigado a satisfação da respectiva (...) correspondente a esta importância. E para que o referido (...) possa gosar d'hoje em diante do dito crioulinho, lhe transmitto todo o direito, senhorio, domínio e posse que no mesmo tenho: podendo por esta forma considerá-lo como sua verdadeira propriedade d'hoje para sempre; obrigando-me a fazer boa e valiosa venda, dando aqui (...) bem expressadas quaisquer cláusula ou cláusulas das de esse direito permittidas que aqui deixem de ser especificadas como se de cada uma fizesse particular asserção. - Em firmeza do que, faço esta venda de (...) espontânea vontade e livre de constrangimento algum pelo que pedi a Firmino Carneiro da Rocha que, por eu não saber ler nem escrever este por mim fizesse; o qual depois de me ser lido o achei bem conforme (...) do que assigna o mesmo (...) a meu rogo, com as testemunhas que abaixo vão assignadas.
Vila (...), 13 de março de 1867
Maria Antunes Paz"
Isso é um pouco do passado de Santa Maria. Fiquei pensando se um neto do Fernando não mereceria uma cota dessas que o povo erudito anda discutindo.

domingo, julho 9

A pedido

Andar


"É certo que quem anda devagar às vezes não alcança a meta, mas quem corre demais muitas vezes também pode passar por ela sem parar." O texto é de Kierkegaard, nas Migalhas Filosóficas.
Fiquei deitado no chão, olhando pro jabuti e pensando nos méritos da ligeireza. Para um sujeito que carrega todo esse peso nas costas, o bicho até que anda muito rápido.
Baita migalha, essa aí do Kierkegaard, pensei.

sábado, julho 8

A cauda do pavão


O pavão também mora ali no Passo da Ferreira, no Criatório Conservacionista São Brás.

O olho da coruja e a cauda do pavão


Estou ficando velho. No final deste ano estarei a apenas quatro anos dos sessenta, e certos pensamentos nessa idade nos assaltam com naturalidade, pedem intimidade e, na nossa distração, vão ficando. Um deles me acompanha faz tempo. Dividir as pessoas entre as boas e as más deixaria muita gente boa de fora - a imensa maioria de nós transita entre momentos disso e daquilo -, mas sempre a mania taxionomica volta. Assim, inspirado numa frase de um amigo distante, pensei em classificar as pessoas da seguinte forma: diante de um problema, as que se sentem como parte dele, ou como parte da solução. Por problema, aqui, entendo desde esse tema de ensino de filosofia (e essa carona que a sociologia pegou, vamos reconhecer!) até a questão da violência urbana. De um lado, a turma da imaculada concepção, que tem a solução para todo e qualquer problema: o mundo visto de fora; de outro, a plebe, que faz parte do desgraçado do problema. Eu, que tenho sangue de português, uma antepassada negra e outro índio, faço parte do problema; eu mesmo tenho vontade de não dizer nada e esperar mais um pouco, até que a coruja me pisque o olho.
O ensino de Filosofia, por certo, vai ter que disputar espaço com outras disciplinas. Se não for bem feito - isto é, apoiado em muita pesquisa séria, corre o risco que ser diluído e gradativamente perder espaço. Nunca escondi que defendo a volta da Filosofia de forma gradual, passo a passo; e dessa forma, ela já está voltando em 17 estados, como reconhece o MEC. Essa "volta por cima" tem seu riscos, sim.
A coruja está ali no São Brás, no Passo da Ferreira. Ainda não achei nenhuma no Campus. Quem souber, me avise.

sexta-feira, julho 7

Deu na Voz do Brasil

Deu na Voz do Brasil, faz poucos minutos:
"O Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu nesta sexta-feira, 7, por unanimidade, que as escolas de ensino médio devem oferecer as disciplinas de filosofia e sociologia. A medida torna obrigatória a inclusão das duas matérias no currículo do ensino médio em todo o país, ampliando o que já era praticado em 17 estados.

Segundo o relator da proposta, conselheiro César Callegari, a decisão vai estimular os estudantes a desenvolverem seu espírito crítico. “Isso significa uma aposta para que os alunos possam ter discernimento quando tomam decisões e que sejam tolerantes porque compreendem a origem das diversidades”, declarou.

Na avaliação do titular da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), Francisco das Chagas, a medida vai ampliar o número de vagas para profissionais de filosofia e sociologia. “A falta de professores em algumas situações também vai se adequar porque, com o ensino obrigatório das duas disciplinas, os cursos de graduação formarão mais profissionais para atuarem no setor”, disse.

A proposta de mudança foi feita pelo Ministério da Educação em 2005, mas como é do CNE a prerrogativa de definir as diretrizes curriculares nacionais, a deliberação foi feita pelos conselheiros. Agora, o parecer será homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Segundo o documento aprovado, os estados terão um ano para incluir a filosofia e a sociologia na grade curricular do ensino médio.

Mudança – Para o professor de filosofia Aldo Santos, de São Paulo, a decisão vai promover uma mudança na estratégia educacional que desenvolve o pensamento, a reflexão e a ação dos estudantes. “Agora, o jovem vai entender o seu papel na história e saber que ele pode ser um agente transformador na sociedade”, analisou.

A inclusão das disciplinas de sociologia e filosofia no currículo do ensino médio foi comemorada por cerca de 150 professores e estudantes, que compareceram ao auditório do CNE. Houve até champanhe após a aprovação do parecer pelos conselheiros."