sábado, julho 8

O olho da coruja e a cauda do pavão


Estou ficando velho. No final deste ano estarei a apenas quatro anos dos sessenta, e certos pensamentos nessa idade nos assaltam com naturalidade, pedem intimidade e, na nossa distração, vão ficando. Um deles me acompanha faz tempo. Dividir as pessoas entre as boas e as más deixaria muita gente boa de fora - a imensa maioria de nós transita entre momentos disso e daquilo -, mas sempre a mania taxionomica volta. Assim, inspirado numa frase de um amigo distante, pensei em classificar as pessoas da seguinte forma: diante de um problema, as que se sentem como parte dele, ou como parte da solução. Por problema, aqui, entendo desde esse tema de ensino de filosofia (e essa carona que a sociologia pegou, vamos reconhecer!) até a questão da violência urbana. De um lado, a turma da imaculada concepção, que tem a solução para todo e qualquer problema: o mundo visto de fora; de outro, a plebe, que faz parte do desgraçado do problema. Eu, que tenho sangue de português, uma antepassada negra e outro índio, faço parte do problema; eu mesmo tenho vontade de não dizer nada e esperar mais um pouco, até que a coruja me pisque o olho.
O ensino de Filosofia, por certo, vai ter que disputar espaço com outras disciplinas. Se não for bem feito - isto é, apoiado em muita pesquisa séria, corre o risco que ser diluído e gradativamente perder espaço. Nunca escondi que defendo a volta da Filosofia de forma gradual, passo a passo; e dessa forma, ela já está voltando em 17 estados, como reconhece o MEC. Essa "volta por cima" tem seu riscos, sim.
A coruja está ali no São Brás, no Passo da Ferreira. Ainda não achei nenhuma no Campus. Quem souber, me avise.

2 comentários:

Cé S. disse...

Interessante. O que seria uma volta "gradual"? Quais ou o quê seriam os "graus"?

Ronai Rocha disse...

"Volta gradual" quer dizer, nesse contexto, "de baixo para cima", isto é, como fruto do trabalho e do crescimento das comunidades interessadas regionalmente; é o contrário da "volta por cima", mediante um decreto presidencial e nacional, que implantaria de uma vez e em todo o país. Muitas regiões tem falta de professores, e teriam que ter mais prazos, outras estão mais do que prontas, e já tem até filosofia implantada. É isso.