segunda-feira, fevereiro 11

Porquê


As criaturas que são dotadas de entendimento discursivo tem como característica predominante a capacidade de fazer perguntas, em especial a pergunta "porquê".
Quando um sujeito pergunta porquê um outro sujeito acredita em tal e tal coisa, o outro pode oferecer pelo menos três tipos de respostas.
Seja o causo do gauchinho que acredita nas virtudes da doma racional.
Em primeiro lugar, o gauchinho pode invocar os antecedentes que o colocaram o na situação de acreditar naquilo. O domador de cavalos que acredita nas virtudes da doma pelo caminho suave, sem a quebra do queixo, nos responde contando a gênese de suas crenças, nos contando o modo como as adquiriu. Poderemos mencionar as circunstâncias, os fatos sociais e culturais, psicológicos, relativos a sua crença. A resposta nos remete a um pedaço de biografia do gauchinho e, através dela, a um fragmento de história.
Em segundo lugar, o gauchinho poderia nos lembrar os motivos que o levam a aceitar nas virtudes da doma racional. Nesse caso respondemos explicando a função que tem a aceitação dessa crença na realização dos desejos, intenções e necessidades do gauchinho. Por exemplo, os fazendeiros novatos hoje se revoltam com a doma tradicional e não querem ouvir falar dela. Se a primeira resposta descrevia a origem da crença, esta segunda se refere aos supostos e conseqüências psicológicas da crença; ele quer o emprego, por exemplo, acima de qualquer convicção.
Em terceiro lugar, pelas razões que o gauchinho tem para considerar que a doma racional deve ser levada em conta. Nesse caso respondemos chamando a atenção para a justificação racional que o gauchinho dá para suas crenças. Então não mencionaremos fatos da biografia ou da psicologia do cujo e sim relações entre a crença dele e outras crenças e operações cognoscitivas. Não faremos referência à genêse e nem às conseqüências da crença, senão que à certas operações que ele tem que realizar para considerar a doma racional como relevante no mundo e a certas características da crença. Ele estudou o assunto e tem argumentos racionais para defender sua atitude perante os animais desprovidos de entendimento discursivo.
Em todo caso, é curioso como os domadores se referem aos cavalos com termos da psicologia humana. "Temperamento" é a expressão favorita.
As zebras não são dotadas de entendimento discursivo. Não sei porquê as zebras se transformaram em símbolos do azar.
Obrigado, Luis Villoro.

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