terça-feira, abril 4

Simone Weil e o misticismo ateu

Faz dias que estou por comentar que foi publicado no Brasil mais um título de Simone Weil. Trata-se de "Opressão e Liberdade". Saiu pela EDUSC (Editora da Universidade do Sagrado Coração), com capa de João Luiz Roth. A data de publicação é de 2001. Quem me chamou a atenção para o livro, à venda na editora da UFSM, foi o Róbson Reis.
Para quem foi iniciado na crítica ao marximo por Cornelius Castoriadis, nos anos setenta, o livro é uma fascinante surpresa. Ali a gente descobre que o careca Castoriadis tinha predecessores importantes. O essencial da crítica ao estalinismo, à burocracia, etc, etc, foi feito por Simone Weil desde os anos trinta. Um dos textos mais importantes do livro, "Reflexões sobre as causas da liberdade e da opressão social" é uma antecipação dos principais argumentos de Castoriadis, que surgirão vinte anos depois. Se esssa gurizada que fala hoje em socialismo lesse esses livros não diriam tanta bobagem, eu acho. Mas para isso seria preciso ler essa moça e o grego careca. Uma vez (uma das ultimas vezes) eu tentei convencer um desses rapazotes que "socialismo" era apenas uma expressão que indicava uma certa disposicão de luta por justiça social, e que como rótulo não fazia a menor diferença. Era como se, para dizer "sim" a gente deixasse de usar a palavra e apenas girasse o polegar para cima. Ou seja, "sim" não tem propriamente conteúdo, apenas marca uma tomada de posição. Assim, "socialista" seria como que uma tomada de posição desprovida de conteudo particular, uma espécie de marcador semântico. Ou seja, nada de compromisso com coisas muito especificas, salvações da humanidade em particular. O Marcos Rolim, lembro bem, achou interessante a idéia. Os outros me olharam tipo marciano.
Ah, se eu tivesse lido Simone Weil antes! Mas será que eu estaria receptivo? Essas leituras de Simone Weil estão valendo para algumas pessoas conhecidas nossas o rótulo de "místicos ateus".
Mas vou deixar esse assunto para mais adiante. É uma história que vale a pena contar em mais detalhes.

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria muito de ler isso. Tenho muitos amigos que precisariam ler também...

Anônimo disse...

Alô, alô Ronái, como vais?
Achei nos meus guardados um outro livrinho da Simone Weil: o Aulas de Filosofia, publicado pela editora Papirus. São compilações de aulas dela na França, compiladas por uma de suas alunas. Vou dar uma espiada (confesso que nunca li).
Deixe eu corrigir uma coisa. A moça viveu e morreu na Inglaterra e não na América como eu escrevi.
Abraços fortes.
Aguinaldo

Anônimo disse...

Antes de fazermos um verdadeiro "garden party" a Simone vejamos algumas passagens dos seus escritos místicos, onde essa separação é necessária.
"O bem é impossível. — Mas o homem tem sempre a imaginação à sua disposição para ocultar de si essa impossibilidade do bem em cada caso particular (basta, para cada caso particular que não nos esmague, velar uma parte do mal e acrescentar um bem fictício — e alguns podem fazê-lo, mesmo se eles mesmos são esmagados) e, no mesmo ato, para ocultar de si "quanto a essência do necessário difere da do bem" e impedir-se de verdadeiramente encontrar Deus, que não é outra coisa senão o bem mesmo, o qual não se encontra em parte alguma neste mundo."
1) Quem deseja fazer algum comentário à confusão que Simone faz aí, acima?

Outro trecho dessa iluminada.
"O desejo é impossível; ele destrói seu objeto. Nem os amantes podem ser um, nem Narciso ser dois. Don Juan, Narciso. Porque desejar alguma coisa é impossível, é preciso desejar o nada."
2) Então, que cês acham dessa preciosidade?

Vamos a uma última peripécia dessa Senhora que sabe usar muito bem a linguagem metafórica.
" Nossa vida é impossibilidade, absurdidade. Cada coisa que queremos é contraditória com as condições ou as conseqüências que lhe estão ligadas, cada afirmação que colocamos implica a afirmação contrária, todos os nossos sentimentos estão mesclados a seus contrários. É que somos contradição, sendo criaturas, sendo Deus e infinitamente outros que Deus."
3) Antes de festejar com Simone suas descobertas, examinemos melhor suas postulações; vamos até
La Pésanteur et la Grâce, avec une introduction par Gustave Thibon, Paris, Plon, 1948, p. 111.

Ronai Rocha disse...

Nesse ano rosiano, me ocorre a frase de "Aletria e Hermenêutica: "O livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber. Quod erat demonstrandum".
A conversa promete e fico grato.