terça-feira, abril 18

E se vão as guanxumas ...


As tarefas de ensino dos professores das federais decorrem, em sua imensa maioria, dos projetos pedagógicos aprovados pelos Conselhos Superiores, quer na graduação, quer na pós-graduação. Esses projetos passam por discussões nos Colegiados de Cursos, onde, na maioria das vezes, o assunto é escrutinado publicamente com algum cuidado. Depois, em tese, sucedem-se avaliações dos currículos e é possível acompanhar o andamento das disciplinas pelo diário de classe, etc.
Na pesquisa, as coisas se passam de forma diferente. A forma canónica da pesquisa nas federais segue um princípio de livre iniciativa combinado com o controle dos pares. Cada docente pode livremente decidir pelo objeto de suas pesquisas e submeter seu projeto aos orgãos finaciadores. Estes, no anonimato, julgam o mérito do projeto e liberam as magras verbas. Estou falando aqui, obviamente, dos projetos que envolvem grana.
Existem variantes, no entanto.
Surgiu nos ultimos tempos um modelo que envolve dinheiro - grosso - e nada tem a ver com controle de pares. Sobra apenas a livre iniciativa. Esta iniciativa livre, em um dos casos mais importantes que estamos vivendo, procura, na Universidade, um docente, devidamente titulado e capaz, por óbvio, e oferece a ele grana grossa, para financiar as pesquisas que ele quiser. Falo de muito dinheiro. Ele decide o que quer comprar e o quer pesquisar - obviamente, uma pesquisa que tem a ver com os interesses do financiador. Assim, suprime-se essa coisa de controle dos pares. Fica apenas a livre iniciativa, que não é tão livre assim, como se vê.
Um exemplo disso está no ultimo número do jornal da UFSM, na matéria sobre as relações entre a Stora Enso e a UFSM. O que a empresa quer, além da grife da UFSM para legitimar seu investimento e amenizar as futuras ondas de críticas? Pesquisa? Nem a velhinha de Taubaté acredita nisso, já que as tais de pesquisas nunca são discutidas em alguma instância pública: não passam pelos colegiados departamentais, pelos conselhos, e muito menos por algum referee anônimo.
Na UFRGS ficou falada a proposta da Stora Enso de morrer com grana alta num departamento que pesquisa impacto no meio ambiente. O pessoal tremeu a perna ao ver o tamanho do cheque que seria preenchido. De uma unica folha do talão da Stora sairia mais dinheiro do que de todos os projetos das agências de fomentos nacionais e internacionais juntos. Até agora estão resistindo. Não sei até quando.
Deixei com um desses professores o exemplar do jornal da UFSM, que casualmente tinha levado no carro.
A foto no alto é de um episódio do confronto entre o campo nativo e os exércitos invasores nos campos de cima da serra, arredores de Cambará do Sul.
Ali, o capim caninha, dono dos campos, meio bêbado do sol do entardecer, contempla as fileiras organizadas dos pinus, e espera o fim.
Aqui, nos campos da metade sul, a guerra do eucalipto contra a guanxuma vai apenas começando. E pelo jeito, com a benção da ufesm.

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