sexta-feira, março 23

Érico Verissimo e Lawrence Durrell


No início dos anos sessenta um jovem escritor santa-mariense, padre nas horas da semana, inscreveu um conto em um concurso literário promovido por uma distribuidora de gasolina. Não foi além da menção honrosa, mas o fato lhe abriu as portas do mundo literário de muitas formas; dedicar-se à poesia foi uma delas. Outra foi lhe encorajar a fazer contato pessoal com um dos membros da comissão julgadora, Érico Veríssimo. Foi assim que começou a amizade duradoura entre Armindo Trevisan, o jovem contista, e o autor de "O Continente".
Armindo publicou um belo relato sobre essa amizade em um artigo publicado faz muitos anos, de raro acesso, pois está em uma revista portuguesa, "Nova Renascença" (Revista Trimestral de Cultura, publicada em Porto, Portugal, em 1995, numero 57-58, vol. 15). O título do artigo é "Érico Veríssimo, um grande homem", e uma das coisas fascinantes do mesmo consiste na transcrição de muitos trechos das cartas que Érico mandou para Armindo, entre 1964 e 1970. Ali ficamos conhecendo, entre tantas coisas, opiniões de Érico sobre escritores brasileiros, suas leituras favoritas, aspectos pessais e familiares, enfim, um rico painel de observações que incluem o que pensava sobre Deus.
Um desses comentários é sobre Durrell. Transcrevo o trecho de uma carta de 22 de dezembro de 1967, na qual comunicava ao Armindo que este já podia buscar uma lembrança de fim de ano.
"Não compre 'O Quarteto de Alexandria' porque um senhor barbudo que andou por aqui dexou esses quatro volumes para serem entregues a você na noite de Ano Bom." Armindo comenta que quando Érico lhe entregou o presente, observou: "É talvez o maior romance do século XX. Já o li duas vezes."
Armindo conta que Érico deve ter receado que a extensão do livro fosse motivo de desânimo, e "insistiu que eu lesse os quatro volumes até o fim".
A ilustração que acompanha este texto é uma dedicatória de Érico a Armindo; para alguns amigos especiais, ele assinava com um desenho de seu rosto, no qual o destaque ficava para as grossas sobrancelhas.
Qualquer dia desses vou perguntar ao Armindo como foi a leitura do romance.
Tudo isso vem a propósito da leitura que faço do romance, estimulado pelo Mestre Guina. Estou um volume atrás do mesmo, mas vamos ao encalço do prejuízo. Para quem não visita o blog faz tempo, coisa que não condeno, pague uma visita ao blogue de leituras do Prof. Aguinaldo, aqui ao lado, para sofrer da mesma provocação.

Filosofia na Cesma

Começou a circular o número 45 do "Rascunho", o jornal da Cesma, que tem por manchete "Filosofia começa a retomar seu espaço"; trata-se do tema principal do jornal, que tem um caderno central (quatro páginas) com uma entrevista com Gisele Secco e este escriba, e artigos de Andrei Cerentine e Franco Nero Soares. Gostei muito dos dois artigos. Andrei abordou com rara propriedade alguns aspectos das propostas de transversalidade que foram aplicados no vestibular; o artigo de Franco, mais clássico, também está muito bom. E tem a conversa no caderno central; se ficou boa, não sei, cabe a outros o juízo, mas que ficou um caderno bonito, isso sim. Foram feitos mil exemplares, distribuidos gratuitamente na Cesma.

quarta-feira, março 7

Nicholas Fearn

Há uma nova leva de livros de filosofia nas estantes do país. Faz algum tempo que quero recomendar alguns, mas por alguma razão a mão travou. Ainda anda meio paralítica, mas vamos ver se pega no tranco.
Li hoje dois capítulos ao acaso do livro de Nicholas Fearn, "Filosofia: novas respostas para antigas questões", publicado pela Zahar no ano passado. Um deles é dedicado ao "problema do significado". Em poucas páginas o rapaz faz uma apresentação criativa do externalismo semântico, comentando Putnan, Burge, Davidson, de forma a situar o problema e provocar o interesse do leitor. O mesmo se passa com o capítulo "idéias inatas", onde o herói da vez é Chomski.
O exemplar que estou lendo é do Prof. Frank, a quem agradeço pela indicação. Já encomendei o meu e mais alguns pela Cesma. O livro é uma boa introdução às diversas abordagens contemporâneas para alguns temas clássicos da filosofia.