quinta-feira, setembro 1

Greve (3)

Fiz uma primeira tentativa de escrever sobre a greve, revisando um escrito antigo sobre greves, de 2000, mas está muito especulativo, e publiquei no blogue de Prática em Filosofia.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sobre greve.
*Identificar greve por meio de datas não me parece tão maléfico como o que foi argumentado. Identificamos eleições, por exemplo, por meio de datas (eleição de 89, de 94, de 98, de 2002) e não é por esse motivo que elas passam a ser acontecimentos sócio-históricos fracos. Interessados por futebol como eu, também identificam campeonatos por meio de datas (libertadores da América 83 e 95, campeonato brasileiro de 81 e de 96) e isso não perde significado histórico, principalmente para nós gremistas (não confunda com grevistas).
*Acho que deveríamos simplificar e redefinir o conceito de greve. Greve deveria dizer respeito somente às questões salariais e plano de carreira. Não sei se por constrangimento, mas enfiam toda a discussão de defesa da educação pública quando do descontentamento salarial. Poderíamos identificar as greves não mais por datas, mas por índices de reposição: “a greve dos 11,28%, a greve dos 6,7%, a greve dos 38%”. Assim, como no setor privado, se estabeleceria um dissídio entre união e servidores (não 0,1%, obviamente), não cumprido o acordo, greve. (será que uma redefinição desse tipo não aproximaria o conceito de greve a um ‘sortal’?). Nos livraríamos de toda essa heurística de buscar “a identidade da greve no espaço e no tempo, e sua relação com a história social e política”. As alternativas como “greve de férias” e outros formas de protestos seriam alternativas para as questões como “o Futuro da Universidade” ou “A Educação pública que queremos” e temas menos freqüentes desse tipo. (Hum?, acho nesse 2º sentido a greve não seria um sortal).
* A discussão sobre o ingresso ou não numa greve não tem que levar em conta o prejuízo que causa aos alunos. Dizer que os alunos são sacrificados não acrescenta nada, pois se fossemos discutir prejuízos a terceiros nunca entraríamos em greve. Como poderíamos imaginar uma greve do transporte coletivo (trensurb, por exemplo que transporta mais de 150 mil pessoas diariamente) com o não prejuízo a terceiros como condição. Aliás, o prejuízo causado é fator mais avaliado na saída do que na entrada de uma greve. Quanto mais prejuízo, mais rápido se termina a greve. A greve no trensurb dura no máximo três dias, em compensação a greve dos trabalhadores em educação...
* “O povo, como todos sabemos, é bobo, e acha que o nosso privilégio de parar por três meses sem perda de um centavo está muito certo e bem, pois afinal a gente depois repõe a produção, não é mesmo?” Agora fiquei confuso: Pára ou não pára? Em algum lugar tava escrito que nas universidades não se pára por causa da pesquisa, extensão, pós-graduação, etc, e esse trecho parece admitir que a parada ocorre. Outra coisa, penso que parar por três meses não é privilégio. Considero mais privilegiadas as categorias que conseguem ter atendidas as suas reivindicações com uma semana de paralisação. Que privilégio tem alguém que demora dois meses para ser notado?
* As demissões dos operadores do xerox ou dos motoristas de ônibus são argumentos ad misericordiam.
* Definição do Bobbio apresentada: “ação coletiva ... que acarreta um dano efetivo à contraparte, porque bloqueia a produção” (Dicionário de Política, Bobbio, p. 560.)
Segundo sugerido no Blog, não sabemos exatamente o que produzimos, tampouco identificamos claramente a contraparte. Putz! que profissãozinha desgraçada essa.
* Sinceramente, meu problema é que eu já gastei todo meu 0,1%.

Ronai Rocha disse...

1. Pouca gente esquece presidente eleito e sua data. Das greves, duvido quem lembre qual deu em quê.
2. Não concordo que o conceito seja redefinido. Temos que descrever melhor o que fazemos, isto sim. Não temos o direito de bagunçar esse conceito.
3. Histeria é chamar de greve o que fazemos. Melhor, alienação.
4. "A discussão sobre o ingresso ou não numa greve não tem que levar em conta o prejuízo que causa aos alunos. Dizer que os alunos são sacrificados não acrescenta nada, pois se fossemos discutir prejuízos a terceiros nunca entraríamos em greve. Como poderíamos imaginar uma greve do transporte coletivo (trensurb, por exemplo que transporta mais de 150 mil pessoas diariamente) com o não prejuízo a terceiros como condição." Comentário: greve do trensurb nao escolhe entre bancário e verdureiro, todos ficam a pé. Ninguem deixa a drosofila melanogaster morrer na geladeira da biologia, e isso é trabalho ou não? A resposta costuma ser: "mas não somos loucos..." Ou seja, a pesquisa vai bem, obrigado, e aluno é boi de piranha. Não por acaso a greve viceja mais verde em certos departamentos e docentes, que fazem pouco caso de escrever, publicar, etc. Prejuízo nos alunos dos outros é colírio.
5. Sim, acho que muitos não tem muita idéia do que é uma Universidade, que pesquisar é preparar aula, que ensino e pesquisa nada tem a ver, etc.
6. Pára e nao pára: tem a parada de fachada, boi de piranha, e tem (para a pg, em especial, o maravilhoso tempo livre para ler, escrever, pensar, orientar, cuidar das moscas, vacas, moleculas, etc.)
Quanto ao 0,1 por cento, estamos empates.
Eu disse que era um exercicio, muito especulativo, etc, mas valeu, é assim que a gente pode ir.
Postei um teste. Quero ver quando a Andes vai divulgar a informação que eu postei faz pouquinho.
Um abraço, Ronai

Anônimo disse...

Ronai, agradeço a atenção por tuas observações, sempre valiosas para o pensamento que que busca superar a mesmice. Só um reparo: Em nenhum lugar consta a palavra "histeria".
Um forte abraço.

Ronai Rocha disse...

De fato. Erro meu, pelo qual peço desculpas. Não deixa de acompanhar o "teste". Até agora a página da Andes não informou sobre a proposta de ontem feita pelo MEC.
Um grande abraço.