quinta-feira, novembro 30

Bacharelado Interdisciplinar

João Carlos Salles alertou, na palestra da terça-feira, para uma proposta de criação de bacharelados interdisciplinares. A proposta surgiu na UFBahia e será debatida pelas universidades federais, a partir de amanhã, em Salvador, com a presença do ministro da educação. A idéia de alguns reitores tem uma cereja bonita no meio: acaba com o vestibular; usando-se a nota do Enen, entra quem quiser, para fazer um curso de bacharelado em três anos, em grandes áreas: Ciências da Matemática, Ciências da Vida, Saúde, Humanidades e Artes; depois de terminar esse basicão, o aluno pode concorrer, com seu histórico, a uma vaga em sua carreira final. Se a média não der, ele já tem um diplominha.
O Reitor da UFBa quer começar com essa modalidade em 2008.
Os Departamentos de Filosofia estão em polvorosa. Com isso, voltariam a ser grandes departamentos de serviços, pois todo mundo teria que fazer cursos de Filosofia, no tal basicão.
A coruja vai ter que abrir o olho.

quarta-feira, novembro 29

A notícia que sumiu

No dia 28/11/06, a página da ufesm publicou uma notícia com o título "Universidades Federais estudam mudanças no sistema de ingresso para alunos". Depois, a notícia sumiu. Alguém viu onde anda?

Bicho papão

Deu na página da ufesm: que até o início da tarde de terça-feira, dia 28, haviam apenas 5.803 candidatos inscritos ao Vestibular da casa. No caso da Unipampa a tragédia é grande: apenas 312 inscrições para 520 vagas.
Para quem é de fora, convém lembrar: anos há nos quais o vestibular da UFSM atrai mais de vinte mil candidatos; uma média de 10 anos deve andar em torno de 14.000. Quando a inscrição custa pouco, atrai o jovem que quer treinar e está apenas no primeiro ano; quando a prova coincide com as demais federais, vem pouca gente. Este ano é esse o caso e a inscrição custa 75 paus.
As explicações institucionais são essas, segundo a página da ufesm:
"Segundo o professor Dario Trevisan de Almeida, presidente da Comissão Permanente do Vestibular (COPERVES), uma das possíveis causas, que contribui para a redução do número de candidatos ao Concurso Vestibular da UFSM, é o grau de dificuldade das provas com a inserção da disciplina de Filosofia, associada à formatação das provas, que vem sendo utilizada nos últimos anos."
Mal abriu as asas e já virou bicho papão, a corujinha de Minerva.

terça-feira, novembro 28

Orquestra


No final, havia, como sempre, previsão do bis. Foram quatro músicas. O público aplaudia e ficava parado, esperando mais uma.

João Carlos e João Carlos


João Carlos Brum Torres falou primeiro, no início da tarde. Atual secretário de planejamento do RS, professor da UFRGS, uma das poucas grandes cabeças da filosofia política no Brasil, João Carlos apresentou o que considera ser a primeira versão de um ensaio sobre como podemos pensar a experiência do século vinte; a sala estava lotada, com gente em pé no fundo e nas portas; e a recompensa foi uma aula sobre como se pode filosofar com rigor e paixão sobre um tema tão abrangente. João Carlos deteve-se principalmente nas mudanças de nossa forma de pensar a natureza (e o que poderia ser um "novo naturalismo") e nas mudanças de nosso entendimento sobre a noção de sujeito, as novas formas de sociabilidade e política emergentes. Foi ousado e brilhante. No final da tarde João Carlos Salles, atual presidente da Anpof e professor da UFBa, contextualizou o documento das "Orientações Curriculares" do MEC, do qual é um dos autores, mostrando que algumas características do mesmo tem a ver com o momento no qual foi redigido, quando ainda não havia esse quadro atual da obrigatoriedade da disciplina. Entre muitas coisas importantes que foi revelando, incluiu algumas opiniões muito pertinentes sobre a presença da Sociologia junto à Filosofia, na resolução do CNE.
Uma tarde e tanto.
Para encerrar, já na noitinha, um concerto da Orquestra da Universidade.

domingo, novembro 26

O café da Cesma


Em primeira mão para o mundo: uma espiada no espaço do Café da Cesma. Tratava-se de uma sessão experimental, na qual o distinto público visto na foto era cobaia.

Santa Maria


No Flickr tem mais uma foto desse tipo. Para minha surprêsa, já não é mais nenhuma aventura fazer um passeio no Morro da Antena. Na verdade dá para convidar a patroa e tomar um chimarrão de fim de tarde, sem riscos. Na antena da Brasil Telecom há vigilância 24 horas. Conversei com o guardinha de plantão, Ricardo, que me contou que as visitas aparecem durante toda a semana, para apreciar a vista, como se diz. Um rapaz de São Pedro costuma vir ali para praticar asa delta, pois há uma pequena rampa para isso. Para ir até lá basta sair para São Martinho e tomar a direita na placa que diz algo como "Sitio Gaúcho", onde há uma estrada com calçamento. Siga o mesmo. Evite esse passeio em dia de chuva, pois a pedra vira um sabão.

sábado, novembro 25

Solidão

Simples assim: um velho conhecido, solito num lugar qualquer do interior do interior do érreesse, começa a pensar sobre o mais antigo dos temas, "quanto é o bastante?", toma umas e outras e uns remédios fortes e decide pular para fora da ponte da vida, me conta um amigo mais próximo. No caso da Vida e Morte Severina, quem lembra?, a mulher vem avisar o nascimento de uma criança e com isso dá a resposta. No caso do conhecido, algo parecido ocorre, amigos lembram e convidam para um jantar. Como nunca disse Aristóteles, para ficar em solidão convém ter boa solidez.

Mezzomo


Este aí da foto é o Mezzomo. Mora no fim da estrada de Val Feltrina. Rogério e Diana, quando vierem a Santa Maria, em Janeiro, não deixem de visitá-lo. Na propriedade dele há uma das mais belas cascatas da região. É só pedir que ele deixa montar uma barraca para passar uma noite na beira do riacho. Na parte de cima da montanha fica a casa de pedra do Prof. R. R. R.. Vale a caminhada (Postei uma foto panorâmica de Santa Maria no Flickr, para matar a saudade ou apresentar a cidade para quem não conhece).

Lion Goya

Quem entra na Cesma vê os cartazes de lançamento do livro de um autor chamado Lion Goya, "Projeto AIC - Metamorfose". O nível do material é de primeiro mundo. Disseram-me que Lion Goya é o pseudônimo de um escritor bocamontense. Tratar-se-ia de um psiquiatra, residente em Santa Maria. Fiquei contente. Quem não ficaria, ao saber que no edifício ao lado pode morar um sujeito que gastou horas de sua vida escrevendo um romance, bem promovido, etc. Bom, o livro parece explorar o mundo ficcional, etc, círculos em plantações, etc. Comecei a ler com toda a boa vontade, mas tranquei no início. No primeiro parágrafo me aparece a seguinte frase: "Tinha estacionado a sua caminhonete GMS10 próximo da estrada".
No meu tempo de guri eu gostava de brincar com siglas de caminhões: gemecê, fenemê, fordeco. O autor do "Tratado Ontológico das Bolas do Boi", (lapandorga.com.br), quando se refere às caminhonetes, se permite brincadeiras como "mitsubicho".
Essa indexação, "GMS10", em um romance, trancou meu olho, empaquei.

Gabriel Neves Camargo

Falando na Cesma, hoje de manhã teve o lançamento, com autógrafo, da novela de Gabriel Neves Camargo, "A História do Goleiro Inviolável" (WS Editor, RS 28,00).
Para que não conhece, Gabriel morava aqui na Tuiti, entre a Valandro e a Duque, numa daquelas casinhas geminadas, e era estudante de Medicina, quando o conheci, nos idos de setenta, "tempos de poesia e militância", ele escreveu na dedicatória. Escrevia como poucos, conversava como ninguém, madrugadas a fio, e sua mãe, dona Maria Emília, fazia um cafezinho maravilhoso. Hoje Gabriel é psiquiatra poderoso em POA, e lança seu primeiro romance. Comecei a ler hoje de tarde e meu sentimento foi que Santa Maria, tão cantada em verso, pouco conhecida em prosa, ganha uma novela de respeito. A história de Félix Ubíquo Antunes Liberato começa em Santa Maria, e a prosa de Gabriel, como já se sabia pelos textos dos anos sessenta ("As Renas Inebriadas"), é muito - muito mesmo - boa.

Café da Cesma


Em algum dia de Dezembro entrará em funcionamento o Café da Cesma.
É da gente se beliscar.
Cinco mesas, para começar, cadeiras altas no balcão, cafés diversos e variados, capuccinos de todas as nacionalidades e uma concessão, long neck para os perdidos. Tudo isso, ali no segundo andar da Cesma, wireless available.
É de se beliscar.
Repara só no desenho exclusivo da xícara. Com xis. Dentro dela tinha um expresso.

JAI

Desde a posse do novo chefe do Centro de Pesquisas do INPE, Prof. Celso Aramis, até altas filosofias sobre ensino de Filosofia, de terça a quinta, o prédio 74 vai ser um dos centros da JAI. Sobre a posse do Prof. Celso, espera-se que tenha um fim o queremismo comprado pelo Diário de Santa Maria e pela Zêagá, que embarcaram no lobby em defesa das tais antenas; quem chega por último ouve pior. Quêsevaifazer? Livrou-se a Razão, que foi com menos sede ao pote do queremismo fora de época.

segunda-feira, novembro 20

Ensino de Filosofia


O presidente da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia, João Carlos Salles Pires da Silva, palestra na Jornada Acadêmica Integrada (JAI), sobre os "Rumos no ensino da filosofia no Brasil". A palestra será no próximo dia 28, na sala 2374 do prédio 74 do campus (prédio novo do CCSH), às 18 horas.
João Carlos é o atual presidente da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF). Doutor em Filosofia pela UNICAMP, tem se dedicado à obra de Wittgenstein.
João Carlos Salles apresentará as novas orientações curriculares do MEC para o ensino médio, que afirmam um tratamento disciplinar e obrigatório para a filosofia. Nesse sentido, procurará mostrar traços relevantes dessa proposta, a exemplo de sua sintonia com processos de avaliação da atividade filosófica em todos os níveis de ensino, procurando também alertar contra certos riscos que cercam sua implantação.

quarta-feira, novembro 15

Filosofia na Folha, 2.

Agora transcrevo um trecho da entrevista de Roberto Machado
"FOLHA - O sr. concorda que parece haver pouca criatividade filosófica no Brasil? Qual é a explicação possível para isso?
ROBERTO MACHADO - A pergunta é boa, mas exigiria uma resposta que não sei se sou capaz de dar. De todo modo, o que posso dizer é que o trabalho para esse livro foi muito formador. Porque fui capaz de comprovar, com relação a mim mesmo, uma coisa que considero uma deficiência dos estudos filosóficos no Brasil. Caímos numa perspectiva de especialistas num período, num autor, e até mesmo especialistas num livro.
O que me chama a atenção é que em geral as pessoas restringem o seu universo ao daquele filósofo eleito como um paradigma do que seja filosofar. E não se chega nem ao estudo daqueles com os quais ele tem uma relação profunda.
Uma grande lição que comprovei com esse estudo é que não se começa do nada. Não existe tábula rasa -sempre se pensa a partir do que outros pensaram. O interessante para mim, na leitura desses documentos sobre a tragédia e o trágico, foi a demonstração de que é sempre com pequenas reapropriações, com pequenas torções que, dentro de uma região de idéias já produzidas por outros, se chega a um pensamento novo, diferencial. Um bom exemplo disso é de como Schelling retoma a teoria do sublime de Schiller -profundamente marcada por Kant- numa perspectiva metafísica.
Creio que uma das dificuldades da filosofia brasileira é que em geral abdicamos de pensar filosoficamente para fazer unicamente história da filosofia. A filosofia brasileira, mais ou menos até a década de 60, me parece ter sido marcada por um ensino doutrinário, aquele que privilegia um sistema filosófico como verdadeiro, o expõe como um conjunto de teses e situa, a partir dele, os outros sistemas como erro, desvio, ignorância.
Ora, com a importância que adquiriu a pós-graduação no Brasil, a partir do modelo da USP, para combater esse modelo, representado principalmente pelo tomismo, as pessoas se preocuparam menos em fazer filosofia do que em saber filosofia, em assimilar com rigor a filosofia dos outros. O conhecimento dos filósofos é importante, e até mesmo indispensável, mas a filosofia não pode ser reduzida a isso. O conhecimento da história da filosofia é uma condição necessária, mas não uma condição suficiente para que alguém se torne filósofo.
FOLHA - Esse modelo da USP era explícito, não é?
MACHADO - Sim. É muito fácil você encontrar um filósofo que diga: "Não sou filósofo; sou historiador da filosofia". Defende-se o rigor, mas ousa-se pouco. O que mais se precisa na filosofia brasileira é de coragem. Esse livro que escrevi é mais temático do que monográfico.

Filosofia na "Folha"

A Folha de S. Paulo trouxe ontem duas páginas da Ilustrada sobre Filosofia. A matéria tratava do lançamento do livro de Roberto Machado (UFRJ), "O Nascimento do Trágico - de Schiller a Nietzsche", pela Jorge Zahar. "En passant", a matéria trata das transformações no estilo da filosofia no Brasil. Há uma longa entrevista com o Roberto e uma matéria com Renato Janine Ribeiro, sobre vigor e rigor na "Academia".
Transcrevo uns trechos. Vou pregar o jornal no mural do Curso, na quinta-feira, para quem quiser ler tudo.

"Academia ganhou rigor, mas carece de vigor, diz filósofo.

Há falta de atrevimento e de vigor na filosofia brasileira, afirma o professor de filosofia da USP Renato Janine Ribeiro.
Como Roberto Machado, ele diz que o método de leitura rigorosa de textos filosóficos praticado na USP nos anos 50 e 60, que privilegiava trabalhos monográficos e especializados, é hoje o modelo de cursos de pós-graduação em filosofia em todo o país.
Ribeiro lembra, no entanto, que tal método, em princípio, foi positivo. "Foi uma etapa que talvez tivesse que ter sido necessária. Qual era o contraste que você tinha no Brasil? Uma idéia de filosofia que era muito eclética, muito baseada em generalidades. Então creio que era preciso ter um rigor que foi realmente necessário", declara.
"Foi uma coisa positiva, mas trouxe algumas falhas. A área acabou dando importância demasiada à questão dos autores. A discussão de idéias é muito rara na filosofia hoje."
O problema, continua, é que "o método virou princípio". De todo modo, ele afirma que já havia na prática da filosofia daquele período, quando era aluno, "um pressuposto estranho". "Havia uma convicção de que o tempo de filosofar tinha passado."
Num livro da década de 90, "Um Departamento Francês de Ultramar" (Paz e Terra), o filósofo Paulo Arantes diz que o "Método" (assim, com maiúscula) "incluía uma cláusula restritiva severa": "deixemos a filosofia para os filósofos".
A leitura rigorosa e a análise não-dogmática dos textos tornava a falta de idéias na filosofia brasileira uma questão de método, ou, melhor dizendo, quase um objetivo do método.
(...)".

segunda-feira, novembro 13

Colhedores


Fabrício capricha no teclado. Tem mais no Flickr.

Ensino de Filosofia: VII Simposio Sul Brasileiro

A VII edição do Simpósio Sul Brasileiro sobre o Ensino de Filosofia: Filosofia e Sociedade, terá lugar em Porto Alegre, na PUC-RS, nos dias 09 a 11 de maio de 2007, com prazo para subscrição de propostas de comunicações até 11 de março de 2007.
As propostas de comunicações devem ser enviadas para sergioasardi@uol.com.br

domingo, novembro 12

Cesma in Blues

Coloquei algumas fotos do Cesma in blues no Flickr (http://flickr.com/photos/ronai). Fiquei pensando se haverá melhor edição que essa. Os meninos da Filosofia, Arthur e Fabrício, tiveram posição de destaque: palco principal, terceira banda a se apresentar. Foram muito bons, muito aplaudidos, gostei demais.
Está confirmada a vinda do João Carlos Salles Pires na JAI, no dia 29, para falar sobre ensino de filosofia. Em breve dou mais detalhes, sala e hora. Será a oportunidade de se fazer um bom debate com quem está por dentro do assunto. JC foi um dos autores das "Orientações Curriculares" do MEC e é o atual presidente da Anpof.

segunda-feira, novembro 6

Livros na Cesma

Estou anotando e passando para o Télcio.
Gi: está encomendada uma seção "Wittgenstein". Vamos procurar ter tudo o que está saindo em português. Vale a dica para fazer o mesmo com Foucault.
E um Nietszche completo. Chiii, onde vai parar essa estante?
Tem boas novidades encomendadas: uma tradução do "Mind and World" do John McDowell, feita pelo João Virgilio. A mesma editora está na rua com "Idéias", de Husserl e promete os dois volumes da Filosofia da Psicologia do Wittgenstein. E uma nova tradução para o português do William James, "Variedades da Experiência Religiosa".
E vamos fazer esse cantinho de material para as aulas, também.
Aguardo outras sugestões.

Velas

Os dias do futuro encontram-se diante de nós
como uma fileira de pequenas velas acesas -
pequenas velas douradas, quentes, e vivas.

Ficam para trás os dias passados,
uma triste linha de velas apagadas;
as mais próximas exalam fumaça ainda,
velas frias, derretidas, e curvadas.

Não as quero ver; me entristece sua forma,
e me entristece lembrar de sua primeira luz.
Adiante olho minhas velas acesas.

Não quero voltar para ver e horrorizar-me
que rápido a linha sombria se alonga,
que rápido as velas apagadas se multiplicam.

K. P. Kaváfis

Os Poemas (1897-1914)
Tradução de R. M. Sulis, M. Jolkesky e A. T. Nicolacópulos.
Edições Nefelibata. Desterro, SC, 2005.

quinta-feira, novembro 2

Aula

Já que um aluno perguntou, outros podem ter a mesma dúvida: sim, amanhã, 3 de novembro, haverá aula de Prática em Filosofia. O tema será o documento do MEC, "Orientações Curriculares para o Ensino Médio", documento da Filosofia, em especial o tópico da identidade da Filosofia.