terça-feira, setembro 26

Uma linha?

Sigo adiante, pelo amor à conversa, com a postagem de pé-de-post de "Dom Sullivan".
"Apenas uma linha de um livro escolar no futuro, dando conta de como um projeto tacanho de poder e um anão mental seduziram uma maioria semi-letrada e ignorante de eleitores brasileiros."
Não discordo que o projeto de poder dos que foram aparentemente defenestrados, seja tacanho, dentro de certos critérios:
do Dilúvio ao Genuíno, há uma semelhante extração político-social, com variantes: partidão, arrivismo político, carteiras de trabalho cheias de cecês, etc. Por outro lado, as iniciais do "anão mental" ornamentavam, nos idos de oitenta, quatro entre dez automóveis no campus da Ufesm e em outros campus quetais do Zilbra. Assim, acho que será preciso mais que uma linha para explicar como ocorreu esta sedução. Tá bom, indo adiante com a ironia - esse tema das condições de possibilidade da sedução política dá muita manga pro meu pouco pano, mas se a gente quer entender o que está ocorrendo - a possibilidade de não haver um segundo turno, por exemplo -, e estamos usando categorias aparentemente racionais para entender o causo, acho que não é legal apelar para a idéia de semi-letramento e ignorância.
Ignoram umas coisas, levam em conta outras.
Meu voto no domingo será para que exista um segundo turno.
O que estamos vendo com os olhos que a terra há de comer um dia vai nos dar muito mais trabalho para entender se a gente tiver um olhar condescendente para aqueles a que chamamos de "maioria". Eu acho.
Quero voltar depois a esse ponto importante do "projeto de poder".
Hoje me lembrei, com alguma nostalgia, de alguns antigos alunos, A.A., com quem tive boas conversas, muitos anos atrás, sobre tais projetos.

quinta-feira, setembro 21

Dom Sullivan

Renovo a recomendação aos leitores: o blog de Dom Raul Sullivan, linque ao lado, é um poderoso instrumento para entrar no mundo dos livros virtuais. Vale uma visita!

O anel de Giges: o poder (2)

Giges retira o anel do cadáver e volta para cima. Segue o Platão:
"Na reunião habitual dos pastores, para apresentarem ao rei o relatório mensal do estado do rebanho, compareceu também Giges com o anel no dedo. Como estivesse sentado no meio dos outros, aconteceu virar casualmente a pedra do anel para a palma da mão, com o que imediatamente se tornou invisível para os circunstantes, que passaram a referir-se a ele como se já não se encontrasse ali presente. Cheio de admiração, tornou a mexer no anel e virou o engaste para o lado de fora, depois do que voltou a ficar visível. Tendo percebido o que se dera, fez várias experiências para ver se, de fato, era o anel o dotado de tão extraordinária virtude, e sempre com o mesmo resultado: tornava-se invisível quando a pedra era virada para dentro, voltando a aparecer quando a dirigia para fora."
Uma das questões que surge agora é sobre o que fará Giges com esse tremendo poder?
As duas passagens estão no Livro II da República, a partir de 359d.

Giges (1)

Faz alguns dias que prometi contar a história do anel de Giges. Deixo para o autor dela a tarefa. Transcrevo, pois, o texto de Platão, no livro "A República".
A edição que uso é a publicada pela Editora da Universidade do Pará, uma preciosidade. Está na terceira edição, revisada, e foi traduzida diretamente do grego por Carlos Alberto Nunes, publicada em 2000).
"Giges era um pastor a serviço do rei da Lídia. Por ocasião de um grande temporal acompanhado de tremor de terra, o solo se abriu, formando-se uma fenda no lugar em que ele levara a pastar o seu rebanho. Ao ver isso, tomado de admiração, penetrou na abertura, tendo percebido, segundo contam, entre outras maravilhas, um cavalo de bronze, oco e provido de pequenas janelas, através das quais, enfiando a cabeça, notou um cadáver que se afigurou de proporções mais do que humanas; inteiramente despido, deixava apenas ver um anel de ouro numa das mãos. Retirando-o, voltou Giges com o anel no dedo."
Acho que valeria a pena a gente se perguntar, antes de ir adiante, pelas razões de Platão em montar todo esse cenário: temporal, tremor de terra, uma fenda na terra; depois, entrar no buraco, encontrar um cavalo, de bronze, dentro dele um cadáver muito humano, nu, com um anel de ouro na mão.

quinta-feira, setembro 14

Os mandamentos do motorista


Vai chegando o tempo de retomar conversas sobre passeios e cascatas.
Procurando por uma cascata na Linha 6, perto Silveira Martins, no verão de 2004, conheci algumas pessoas, ali moradoras, que me levaram até a dita cuja. Belíssima. Exige uma caminhada apenas razoável, e é uma das mais altas de toda a Quarta Colônia. Pouca gente vai até lá. De volta, nas proximidades de São Valentin, paramos para tomar uma gelada. Ali eles me brindaram com uma cantoria, que é uma das coisas que os oriundi mais gostam. É só clicar que os gringos começam a contar quais são os mandamentos do bom motorista.
O de chapéu é o Valdir Maraschin; o outro é o Hermes. Moram ali na região de PoIêsine para Ivorá, costeando o rio. Quem quiser saber o décimo mandamento vai ter que pagar uma visita ao Valdir. Ele faz salames saborosos, e mora numa das casas mais antigas de toda a região.

quarta-feira, setembro 13

A morte, fora de moda?

Na terceira parte da palestra Dupuy apresentou um pequeno bando que defende a obsolescência da condição humana. Assim, não haveria apenas uma crise na nossa idéia de natureza, mas até mesmo a noção de morte natural não estaria menos amecada de obsolescência. Um dos caras citados por Dupuy é Nick Bostrom, sueco, professor em Oxford, líder do tal "trans-humanismo. Esse "trans-humanismo" sugere que devemos nos encarar como uma etapa, uma transição para uma época de pós-humanidade, uma próxima etapa da evolução biológica, caracterizada pela convergência entre nanotecnologia, biotecnologia e ciências cognitivas, uma "ciber-pos-humanity", que, por meio das novas tecnologias, asseguraria a condição de imortalidade para quem pudesse pagar, mediante a criação de interfaces que transfeririam o conteúdo informacional do cérbero para memórias artificiais e poraíafora. Essas e outras idéias sobre a morte ficar fora de moda são também expostas no livro de Ray Kurzweil, "Fantastic Voyage. Live long enough to live forever, 2004." (Parenteses meu, RR: Esse Kurzweil não é cachorro rengo, é um dos papas da inteligência artificial nos EUA; Searle fez uma crítica feroz a um livro dele, "The Age of Spiritual Machines: When Computers Exceed Human Intelligence", de 1999, se estou certo.) Uma das idéias do Ray é manter-se vivo, até chegar ao momento em que as técnicas de interface entre o ser vivo e a maquina extendam nossas capacidades físicas e mentais, para se viver imortalmente. A morte, pensa ele, deve ser pensada como se pensa a doença, como um problema a ser resolvido.
Nesse ponto da palestra a platéia deu umas risadinhas. Dupuy, sem discordar das risadinhas, lembrou que os tais de trans-humanistas ocupam posições de poder nos EUA, com alguns deles (William Beveridge) dirigindo generosas fatias de orçamento federal em biotecnologia.

Morte natural

Sei não, mas tenho uma vaga lembrança de um texto de Sartre no qual ele explorava a idéia de que a morte em acidente de automóvel não mais deveria ser chamada de "morte por acidente". É morte natural.

Jean-Jacques e Voltaire: que conversa essa de "catastrophe naturel"?

O terremoto de Lisboa ocorreu no dia 1 de novembro de 1755. No ano passado foi feito um evento em Lisboa, para "comemorar" os 250 anos do mesmo. Segundo Dupuy, pode-se dizer que o terremoto criou um tsunami na filosofia ocidental, dividindo-a em três campos, Leibniz (mais Wolf e Pope), Voltaire, como crítico desses (no Candide e no Poème sur le désastre de Lisbonne) e Rousseau, como crítico de Voltaire, em um texto de 1756, "Lette a Mr. De Voltaire", onde se pode ler:
"Je ne vois pas qu’on puisse chercher la source du mal moral ailleurs que dans l’homme libre, perfectionné, partant corrompu; et, quant aux maux physiques, ils sont inévitables dans tout système dont l’homme fait partie ; la plupart de nos maux physiques sont encore notre ouvrage. Sans quitter votre sujet de Lisbonne, convenez, par exemple, que la nature n’avait point rassemblé là vingt mille maisons de six à sept étages, et que si les habitants de cette grande ville eussent été dispersés plus également, et plus légèrement logés, le dégât eût été beaucoup moindre, et peut-être nul. Combien de malheureux ont péri dans ce désastre, pour vouloir prendre l’un ses habits, l’autre ses papiers, l’autre son argent ?"
Resumindo, e não traduzindo fielmente: o mal moral vem da gente mesmo, e os males físicos também. No trecho que importa nesse caso: a maior parte de nossos males fisicos é ainda obra nossa. (...) A natureza nunca teria reunido vinte mil casas, de seis a sete andares, e se os habitantes dessa grande cidade tivessem sido dispersados de forma menos concentrada, mais afastadas umas das outras, ..., etc, o desastre teria sido menor, talvez nulo. E quantos infelizes morreram porque quiseram apanhar seu cartão de crédito, seu notebook, etc.
Rousseau seria responsável pela eliminação da idéia tradicional de natureza como uma completa exterioridade? A natureza boa não é um edén para o qual gostaríamos de regressar, mas sim uma tarefa a realizar, voltada pra o futuro; a natureza roussenaina é fundamentalmente artificial, uma "man made nature".
Para o autor do Emile, o homem é o autor de todos os males; "homem, não busque o autor do mal, este autor é tu mesmo", ele escreve no Emílio.

terça-feira, setembro 12

Existem catástrofes naturais? Segue a saga de Dupuy

O Katrina foi uma catástrofe natural? Muita gente fez comparações entre o número de mortes do 11 de setembro e as mortes provocadas pelo Katrina. Qual é o sentido de comparar uma catástrofe natural com um atentado terrorista (o Dupuy chamou de "ato de guerra". Se o SNI deles descobre, o francês perde o green card...)? Mas peraídenovo: o Katrina é uma catástrofe natural?
Pois é. O editorial do NYT de 2 de setembro já chamava o Katrina de "catástrofe causada pelo homem”, "the man made disaster”. Foi preciso um Katrina para mostrar ao mundo que também nos EUA existe desigualdade, iniqüidade, etc. O atentado terrorista uniu o país, depois veio o Katrina para dividir. Na primavera de 2003 ninguém nos EUA ousava duvidar em público da justeza da guerra contra o Iraque, "suport the troops" era a palavra de ordem. O Katrina fez voar em pedaços a unanimidade, os opositores da guerra passaram a dizer que os dinheiros da guerra deviam ser usados para ajudar os varridos pelo Katrina. E fez ressurgir a pergunta: o que é uma catástrofe natural? Afinal, uma catástrofe é definida como a combinação do acaso (um fenômeno geológico) com uma situação de vulnerabilidade. No causo em pauta, uma vulnerabilidade de origem social.
É aqui que entra o Jean-Jacques. O Rousseau. O cara que entrou na discussão do terremoto de Lisboa, enfrentando o Monsieur Voltaire, que havia enfrentado o Dr. Leibniz.

Um tsunami na Filosofia


O tsunami na Filosofia foi o terremoto de Lisboa.
O terremoto aconteceu no dia primeiro de novembro de 1755, na metade da manhã. Morreram entre sessenta e cem mil pessoas, entre o próprio e os tsunami e os incêndios que se seguiram. Lisboa sumiu do mapa, e depois desse dia o Portugal colonizador nunca mais foi o mesmo.
Leibniz, Voltaire e Rousseau transformaram o terremoto em tópico da Filosofia. Que eu sabia, ninguém escreveu uma tese ou livro sobre isso, prato pronto e cheio. Pois o seu Dupuy resolveu escrever uma "petit metaphysique du tsunami", a pretexto do ultimo ocorrido, mas voltando à tragédia de Lisboa.
Corte.
Um quadro de Nicholas Gay, pintor russo, que nos mostra Pilatos e Jesus. Pilatos pergunta a Jesus, afinal, o que é a verdade?
A luz ilumina Pilatos, Jesus está na sombra.

Diante da catástrofe (1)

A primeira parte da palestra de Jean-Pierre Dupuy (eram cinco partes) começou com uma pequena coleção de lugares-comuns do catastrofismo ecológico. Apresentou o retrato inevitável de uma civilização diante da catástrofe, pois a universalização do modo dominante de desenvolvimento enfrenta obstaculos insuperáveis, pelo consumo de recursos naturais. Vivemos um modo de vida condenado, diz ele, que poderá durar, nesse padrão, 50 anos.
As razões do diagnóstico são três:
a) as fontes fósseis disponíveis a custos baixos estão no limite. Por outro lado, as necessidades energéticas crescem muito, Índia, China, e Brasil estão no mesmo caminho da voracidade dos ricos.
2. As regiões onde os recursos energéticos estão concentrados são as regiões mais quentes, geopoliticamente falando: oriente, arábia, etc.
3. A mais grave causa, o aquecimento climático deve-se à atividade dos homens. Faz 30 anos que as geleiras andinas aumentam brutalmente o ritmo de desaparecimento; o mediterrâneo se desertifica, a água é um bem raro.
Os expertos, no entanto, nos convidam a ter paciência, há um otimismo científico sendo vendido, que assegura que novas tecnologias limpas e novas fontes de energia ainda mais limpas estão no horizonte. Confiar nisso? Nada é menos seguro, pensa ele, apesar das promessas de uma nova revolução científica e técnica, da nanotecnologia, da estocagem de energia solar; isso traz riscos extraordinários, quem garante? A humanidade está contra a parede. O centro desenvolvido deve dizer o que conta mais: uma ética de igualdade ou seu modo de desenvolvimento sobre todas as coisas? Segundo Dupuy, "a catástrofe a evitar tende a substituir a revolução a realizar." O problema político maior, nessa escala de 50 anos, passa a ser a sobrevivência da humanidade, e mais uma vez a esperança se volta para a técnica. Aqui ele faz um excurso filosófico, "a liberdade consiste em dar-se regras, e não em poder fazer qualquer coisa", "precisa-se de uma política de limites, pois a técnica moderna repousa sobre um princípio de ausencia de limites."
A seguir, um tsunami na filosofia.

Mac Dupuy

Jean-Pierre Dupuy não dispensou a boa tecnologia na palestra de ontem; na frente dele, com o texto da palestra, não estavam apenas as folhas de papel, mas também um poderoso notebook da Apple, modelo profissional, tela de 17 polegadas. Foi dali que ele comandou as transparências, fotos, reproduções e inclusive um terrível filme no final, sobre Chernobyl. O primeiro filmete que ele apresentou, no entanto, foi ... curioso, ao menos. Para descontrair, acho eu, disse que queria mostrar de que forma as francesas ganham os concursos de beleza, hoje em dia. Taí o endereço para quem quiser ver. Não é dificil adivinhar, se eu disser que as duas primeiras misses que se apresentam são França e Itália.
Dupuy é professor em Stanford e na Politécnica de Paris.

http://www.metacafe.com/watch/193041/miss_france

segunda-feira, setembro 11

Jean-Pierre Dupuy


Jean-Pierre Dupuy fala hoje na sala 2323 do CCSH-Campus, às 18.45 h, sobre "A tentação de apagar a política com a técnica". O tema, ao que parece, retoma a tradição dos debates dos anos sessenta, desde Marcuse (o poder liberalizador da tecnologia que se converte aos poucos em poder instrumentalizador dos homens) e Habermas (e seu livro "A técnica e a ciência como 'ideologia'").

Xipe Totec

No Museu Chileno de Arte Precolombiana (paga-se $2.000,00 pesos na entrada, fica perto do Paseo Ahumada, bem no centrão de Santiago) ficamos sabendo do culto a Xipe Totec. Trata-se de uma tradição andina, presente em um grupo chamado "manta", que vincula o ato de sentar-se com um gesto de autoridade. Estão expostos ali objetos como cadeiras, "Asiento e sentados Manta".
Esta postagem foi motivada por uma conversa com um leitor deste blogue. O tema era se é certo que orientadores esperem por orientados.

terça-feira, setembro 5

Servidão Voluntária

O "Discurso da Servidão Voluntária" é um dos textos mais enigmáticos da Filosofia Política. Foi escrito por um rapaz de 19 anos, chamado Etienne de La Boétie, que entregou os manuscritos para um tal de ... Monsieur Montaigne! Desse original foram feitas algumas cópias, entregues a amigos de Montaigne, e assim surgiram algumas edições, por volta de 1577 e 1578. O monstro conceitual, imaginem uma servidão ... voluntária!
O Miguel Abensour atacou de francês (boa tradução simultânea), mas baixou a cabeça e deitou a ler um manuscrito de umas trinta páginas, sem parar para respirar. No intermezzo atacou com a (possível) interpretação de Hegel para esse enigma da Filosofia Política.
Foi um tijolaço no início da noite.
No final da tarde, fiquei sabendo que o diretório acadêmico da Filosofia da UFSM, no novel prédio 74, fechou as portas.
Fechou as portas.
Não apareceu uma unica chapa para assumir o mandato. Em protesto, os atuais entregaram as chaves. Fizeram bem, eu acho.
Quem é que pensou que o tema do ciclo, "Esquecimento da Política", tem a ver com os corredores do Planalto Central?
Tá ali, no corredor do prédio 74, no micro-espaço do Curso de Filosofia, a prova do que disse o Francis Wolff ontem.
Que foi ouvida apenas por um aluno do curso, morador da casa que foi conferir o ciclo ontem.
Esqueceram o diretório, esqueceram as palestras.
Quem diria. O tempora!
Por hoje, como diria o gaucho, "tô tapado de nojo". Amanhã conto sobre o Giges.

segunda-feira, setembro 4

Francis Wolff

No ciclo sobre "Esquecimento da Política", hoje foi a noite de Francis Wolff, brasileiro emigrado para a França que ocupa hoje o cargo de Chefe do Departamento de Filosofia da Sorbonne ou algo assim. Faltou cair neve no campus. Frio do cão, e quatro gatos gelados na 2323. Foi boa a palestra. Morri de nostalgia vendo ele lembrar os anos sessenta, quando era de corretíssimo tom se dizer que "tudo é política". Quem tem coração sofreu por causa dessa frase. Jogue a primeira pedra quem nunca se apaixonou por alguém de outra cor política e ficou de coração na mão ao ver que a amada rezava por outra cartilha. O Francis deu um show de nostalgia, lembrando até os atletas americanos de 100 metros rasos das Olimpiadas de 1968, no México, vencedores, subindo no pódio e baixando as cabeças, levantando os punhos cerrados, luvas pretas, protesto silencioso no meio do esporte, dá-lhe 'tudo é política'. Começou por aí e terminou, no gelar das 20.30h, com uma tentativa de síntese da antítese em que vivemos, na qual, em meio ao território do eu, da hegemonia da economia, da ultima palavra dos técnicos, do refúgio na religião, e da onda moralizadora, a palavra de ordem vai sendo transformada em ... "nada é política"! Hoje, diz o Wolff, queremos descobrir uma briga entre moral e política. Será que essa briga é de verdade? São duas áreas compatíveis, por certo, mas independentes. O argumento dele inclui lembrar que a moral não diz a ninguém o que deve ser feito em cada ocasião particular, mas ism o que não devemos fazer em geral e em princípio. A política, ao contrário, é, em um de seus mundos, a região do que devemos fazer sem adiamentos. O "tudo é moral" termina por ser uma ideologia que hoje substitui o "tudo é política"; o esportista é condenado pelo doping, o fumante é exortado moralmente a vencer o vício, etc.
Amanhã lembro mais. Ele terminou sugerindo alguns "exercícios práticos" contra o esquecimento da política; um deles me lembrou a estratégia de Mestre Guina, livro embaixo do braço, brandindo declarações de renda de políticos, no mais lídimo exercício do oficio de cidadão; informar-se, por exemplo, é cidadania.
Ele terminou citando o causo do anel de Giges.
Eta causo bom.
Amanhã eu conto, para quem não conhece o causo do anel do Giges.
Buenas.